Elaine Tavares, jornalista
Eu sou uma observadora das ruas. Gosto de ficar parada, olhando como as pessoas se comportam, e existe uma situação que me incomoda demais. É a postura dos motoristas quando pessoas empobrecidas pedem uns trocados nos sinais de trânsito. É batata. Nove em cada dez não dão moedas para o povo pobre. No mais das vezes fecham a cara e acabam de cerrar os vidros para sequer ouvirem a súplica. Outro dia perguntei a um cara porque ele não dava dinheiro e ele respondeu de forma ríspida: “isso é pra tomar cachaça”. E, claro, como um bom pequeno burguês ele tinha de dar lição de moral. Cachaça para gente empobrecida é coisa nefasta. Uísque no final da tarde não, mas cana? Por que afinal, esse povo não vai trabalhar?
Pois no início de semestre aqui na universidade federal eu vejo cenas semelhantes acontecerem. Garotos e garotas idiotas, que se submetem aos trotes - mais idiotas ainda - ficam nos sinais de trânsito pedindo trocados. Todo ano a cena se repete apesar de o trote ser proibido. Pois é incrível como a postura dos motoristas muda. Nove em cada dez abrem o vidro, sorridentes, e buscam rapidamente as moedas nos bolsos ou no porta-luvas. Entregam o dinheiro, felizes, e ainda fazem piadinhas inocentes. “São os universitários, tão bonitinhos”. Perfeito! Para as garotas de rosto corado e garotos criados a toddy não há problema nenhum em dar dinheiro. São estudantes vivenciando o trote. Mas, para os feios, sujos e malvados, ah..não! Esses vão beber cachaça.
Mas, se os motoristas imbecis não sabem, os trocados que eles tão alegremente dão aos idiotas que se submetem ao trote, vão parar todinhos na caixa registradora do Bar da Nina, onde os veteranos ficam enchendo a cara de cerveja às custas do trabalho de pedintes dos calouros. Ah tá, mas tudo bem. São estudantes. Podem encher os cornos à vontade. Os empobrecidos não. Estes têm de enfrentar a miséria, a humilhação, o nojo, de cara!
Não é sem razão que abomino a classe média, essa raça intermediária que sonha em ser burguesa e vive arrotando caviar apesar de comer cardosinhas. É uma gente que não tem compaixão, não tem consciência de classe, não se acha trabalhador e pensa que estará sempre livre da miséria. Mal sabem que no mundo capitalista para que possam viver à larga, outro tem de morrer. E seguem, com os vidros fechados, torcendo o nariz para a pobreza. Até que ela os encontre...
2 comentários:
Bem, achei seu texto péssimo. É a primeira vez que venho ao blog e o primeiro texto que leio tem um quê de pretensão e nada de conteúdo. Generalizar não é uma atitude inteligente, assim como escrever de forma a agredir o leitor. Se, na sua opinião, dar lições de moral é tão típico de burgueses, você deve ser uma, porque seu texto está impregnado de moralismo, e daquele bem clichê. Espero não te ofender com meu comentário, pois, como já disse, esse é o único trabalho seu que li, mas achei péssimo, e comentei como faria se o achasse bom.
OBS.: O ato de dar ou não esmolas vai bem além ao de ajudar ou não o pedinte. Muitas vezes envolve ideologias e questões políticas, a realidade não tem todo o romantismo que aparenta quando escrita.
Concordo em partes com o comentário anterior. Não é tão simples como se é colocado. Dar ou não dar dinheiro! Fechar os vidros ou não...e olha que me considero extremamente consciente socialmente, sem me encaixar na tal classe média burguesa a qual se refere.
Creio que o texto foi muito radical e simplista. Sem uma análise mais profunda sobre o porque nove não dão o tal dinheiro! Fica a pergunta: qual seu comportamento ao passar nos sinais, todos os dias, encontrar os mesmos pobres pedindo? O que faz? Dá todos os dias? E por quê? Será que outros não pensam que isso é querer salvar o mundo? Seria com esmolas que resolveríamos seu problema?
Prefiro abrir o vidro, perguntar o nome do cidadão que esta ali na minha frente e dar-lhe o pouco de atenção que o tempo de sinal me permitir! Tem valido mais que míseros centavos!
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