Por Elaine Tavares – jornalista
De repente, no meio do turbilhão da vida cotidiana, o coração dá um salto. É uma coisa sutil, mas igualmente estranha. Não é amor, não é medo, não é irritação. É um defeito na máquina. Aí vem toda aquela coisa de filas, guias e esperas do SUS. Este é, sem dúvida, o melhor plano de saúde do mundo, mas ainda emperra nas burocracias. Tudo bem, a gente vai ultrapassando as barreiras. Tudo vale a pena quando se cai na mão de um adorável chinês que fez de Floripa o seu lugar. Médico sem igual, destes que olha nos olhos, que conversa e ri. Dos que transmite segurança e segura tua mão a dizer: eu estou aqui. “Não sei o que há, mas estou aqui”. Não tem certezas, apenas humanos atos de compaixão. É tudo o que se precisa quando se está frágil.
Então vem aquele sentimento que só nos invade no outono da vida: somos mortais. Toda aquela arrogância juvenil já não há mais e o sentimento de invulnerabilidade se esvai num átimo. A bomba vital está de passo errado. Agora não é mais a vida mesma que caminha na direção contrária, é o motor. Bate a certeza de que este estar no mundo é só um sopro, um fugaz segundo da história da raça. É a hora da humildade, de assumir nossa desimportância. A gente se vai e tudo segue. Nenhuma onda macula a perenidade da grande energia cósmica. Somos só poeira.
É uma coisa boa isso de nos confrontarmos com nossa fragilidade humana. A gente tira o pé do acelerador, diminui a marcha e vai procurar nas gavetas o velho poema de Borges. Hora de viver plenamente, porque, afinal, tudo já vai terminar. Hora de viver pores-do-sol, de ventos gelados a beira mar, de abraçar os bichos, de dizer que ama, de ligar para velhos amigos, rever caminhos da infância. Tempos de lentidão. Menos trabalho, mais encontros felizes. Milton Santos já dizia: o futuro é dos homens lentos. Acatarei. Não tenho saída.
Meu coração bate errado. Cansou talvez de tantos baques e lutas inglórias. Meu coração pediu água, descanso. E eu aprendo com ele que é possível o mundo sem mim. Hora dura essa, mas superável. O que vem depois é uma tremenda paz. “Não sou nada, não posso querer ser nada. A parte isso, tenho todos os sonhos do mundo”, sussurra Pessoa. Hoje eu me olhei e vi que outonei. Mas ainda há tempo para viver. Vou fazê-lo!
De repente, no meio do turbilhão da vida cotidiana, o coração dá um salto. É uma coisa sutil, mas igualmente estranha. Não é amor, não é medo, não é irritação. É um defeito na máquina. Aí vem toda aquela coisa de filas, guias e esperas do SUS. Este é, sem dúvida, o melhor plano de saúde do mundo, mas ainda emperra nas burocracias. Tudo bem, a gente vai ultrapassando as barreiras. Tudo vale a pena quando se cai na mão de um adorável chinês que fez de Floripa o seu lugar. Médico sem igual, destes que olha nos olhos, que conversa e ri. Dos que transmite segurança e segura tua mão a dizer: eu estou aqui. “Não sei o que há, mas estou aqui”. Não tem certezas, apenas humanos atos de compaixão. É tudo o que se precisa quando se está frágil.
Então vem aquele sentimento que só nos invade no outono da vida: somos mortais. Toda aquela arrogância juvenil já não há mais e o sentimento de invulnerabilidade se esvai num átimo. A bomba vital está de passo errado. Agora não é mais a vida mesma que caminha na direção contrária, é o motor. Bate a certeza de que este estar no mundo é só um sopro, um fugaz segundo da história da raça. É a hora da humildade, de assumir nossa desimportância. A gente se vai e tudo segue. Nenhuma onda macula a perenidade da grande energia cósmica. Somos só poeira.
É uma coisa boa isso de nos confrontarmos com nossa fragilidade humana. A gente tira o pé do acelerador, diminui a marcha e vai procurar nas gavetas o velho poema de Borges. Hora de viver plenamente, porque, afinal, tudo já vai terminar. Hora de viver pores-do-sol, de ventos gelados a beira mar, de abraçar os bichos, de dizer que ama, de ligar para velhos amigos, rever caminhos da infância. Tempos de lentidão. Menos trabalho, mais encontros felizes. Milton Santos já dizia: o futuro é dos homens lentos. Acatarei. Não tenho saída.
Meu coração bate errado. Cansou talvez de tantos baques e lutas inglórias. Meu coração pediu água, descanso. E eu aprendo com ele que é possível o mundo sem mim. Hora dura essa, mas superável. O que vem depois é uma tremenda paz. “Não sou nada, não posso querer ser nada. A parte isso, tenho todos os sonhos do mundo”, sussurra Pessoa. Hoje eu me olhei e vi que outonei. Mas ainda há tempo para viver. Vou fazê-lo!
2 comentários:
Gostei do que li, Elaine
Sérgio Saraiva
o outono de uma bruxa,não é um outono qualquer....
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