segunda-feira, 7 de abril de 2025

Demétrio Panarotto - escritor

 


Catarinene de Chapecó, Demétrio Panarotto iniciou a fazer poesia ainda bem novo. Aos 15 anos já compunha as letras da Banda Repolho, que criou com seu irmão. Nessa época trabalhou no banco como menor estagiário e depois, iniciado nas práticas bancárias, acabou ficando nesse espaço por um longo tempo, até que finalmente decidiu sair de Chapecó, depois de encerrar o curso de Letras, para fazer mestrado e doutorado em Florianópolis. 

Durante todo esse tempo ele som composto, mas a cabeça pedia uma nova relação com as letras e assim foi chegando também a prosa. Poesia, crônicas, novelas, ensaios, tudo vai brotando e Demétrio não gosta muito de colocar nas caixinhas. Para ele, tudo é poesia e ele vai amalgamando as ideias nos livros, que já somam 29. Foi professor de literatura na UFSC e atualmente dá aulas no Curso de Cinema na Unisul. A criação literária é o seu mundo o que não o limita, tanto que trabalha também com a imagem.  

Demétrio é um caminhante e busca sua inspiração nas ruas, nos encontros humanos, nas trocas que se sucedem com outros parceiros e parceiras de letras. Neste vídeo conta sobre sua vida e obra. As imagens são de Tasso Cláudio Scherer com apoio de Sérgio Vignes. Entrevista de Elaine Tavares. 


terça-feira, 25 de março de 2025

A Figueira - Sérgio Torres


O mineiro Sérgio Torres, depois de aposentado como médico anestesista, decidiu escolher Florianópolis para viver. Tendo a cidade e a cultura local como tema acabei finalizando um novo livro que leva o nome do maior ícone do Desterro: A Figueira. Nesta entrevista ele fala sobre o livro e sobre suas experiências como viajante e escritor.

terça-feira, 18 de março de 2025

Viegas Fernandes da Costa, escritor


Viegas nasceu em Blumenau, fruto de um amor missivista, como ele conta. Os pais se corresponderam por meses até se conhecerem. A infância no vale foi tranquila, ainda que tive problemas na escola por fazer parte da turma do fundão. Teve uma espécie de receber como “castigo” ficar na biblioteca onde acabou se apaixonando pelos livros e pelas letras. Chegou a ganhar, para surpresa dos professores, um concurso de redação. A partir daí, escrever passou a ser algo natural. Ajudou muito o velho guarda-roupa do avô que escondia livros que o encantavam.

Escolheu o magistério como carreira porque na adolescência você desenvolveu uma deficiência física, e o caminho intelectual parecia o mais seguro. Muito jovem já esteve na sala de aula ensinando, enquanto seguia cometendo poemas, publicando em sites da internet e também em jornal. Passou no concurso para professor do Instituto Federal e foi morar em Garopaba, vindo depois para a capital, Florianópolis, onde mora desde 2017.

Viegas já tem vários livros publicados alternando entre poemas e crônicas, mas não gosta muito de marcar sua palavra. Ele escreve, derrama as letras como forma de expressar seus sentimentos e também de narrar a vida que assoma no dia-a-dia. 

Neste programa ele conta sobre sua trajetória e sobre os livros que foi publicado no curso da existência. No último sábado acabou de lançar dois deles, simultaneamente: um de poemas e outro de crônicas. Os livros estão à venda nos Desterrados. 

As imagens são de Tasso Cláudio Scherer, com o apoio de Sérgio Vignes. 

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Marlene de Fáveri, escritora


Marlene de Fáveri nasceu em Nova Veneza, no sul de Santa Catarina, tendo passado a infância na roça. Fez o segundo grau em Turvo e foi ali que descobriu o amor pelas palavras. Apaixonada pela biblioteca pública, sorvia os livros e sonhava com um mundo que ampliasse para além do seu quintal. Mesmo sem grandes recursos, a mãe insistiu que ela deveria seguir os estudos e foi assim que ela embarcou para a capital quando tinha 19 anos, para fazer uma faculdade. Ali, viu a vida descortinar imagens e emoções jamais vistas ou sentidas. Foi a deixa para que começasse a escrever. Eternizar no papel suas dores, alegrias, medos, esperanças. 

Depois de passar num concurso para a Acaresc, atuou como extensionista rural. Mais tarde decidiu partir para o campo da docência, lecionando história. Fez mestrado, doutorado, deu aulas na Univali e ainda passou no concurso para professora na UDESC. Passou um bom tempo se dividindo entre as duas cidades, Itajaí e Florianópolis. Assim, entre ensinar e escrever foi tecendo a vida. Seu primeiro livro foi um livro de poemas, todo artesanal. Depois vieram outros e vieram também a luta feminista e a batalha contra o fascismo, expresso na ideologia da "Escola sem Partido". Hoje aposentada, segue escrevendo, sempre enredada no torvelinho da história, partindo do ponto de vista da mulher. E, num novo desafio, prepara seu primeiro romance. 

Sua vida e sua obra são repassadas passo a passo neste turbilhão de memórias. Com imagens de Tasso Cláudio Scherer e iluminação de Sérgio Vignes. 

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Norma Bruno - escritora


Nascida no alto do Saco dos Limões, ela viveu sua infância comendo caqui, mirando a beleza do mar e ouvindo as histórias das avós. Vem daí sua paixão pela cidade e pelo narrar a vida. Guardou textos escritos na gaveta, seguiu a vida, formou-se em História, sempre tendo presente a necessidade de dizer sobre a cidade e sobre as histórias que se entrelaçam nos corredores da vida, nas ruas, no ônibus, vistas desde a janela. 

Lançou seu primeiro livro quando já tinha completado 50 anos e desde aí não parou mais. Não por acaso chamou-se "Minha Aldeia", a velha Desterro sempre revisitada pelos seus olhos. Cronista por convicção, ela também escreve poesia e já anda matutando desde há anos um livro bem especial que vai contar sobre o Miramar, este espaço quase mítico que avançava para o mar em frente à Praça XV e que foi destruído em nome de um desengonçado progresso.

Neste terceiro episódio do projeto "Conversas na Tiradentes", Norma fala sobre a sua vida e também sobre sua obra. As imagens são de Tasso Cláudio Scherer, com o apoio técnico de Sérgio Vignes. Uma conversa vibrante com uma mulher que ama a cidade.

Projeto da Revista Pobres & Nojentas em parceria com a Livraria Desterrados, iniciado em dezembro de 2024, apresentando entrevistas com escritores catarinenses. Neste episódio ouvindo a escritora Norma Bruno.  Entrevista realizada no dia 13 de janeiro de 2025.

Conversas na Tiradentes; Escritores; Desterrados: Revista Pobres & Nojentas

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Morre o jornalismo, nasce uma coisa – Parte 1



Míriam Santini de Abreu – jornalista

O artigo é resultado de uma conversa que a jornalista Elaine Tavares e eu tivemos para pensar o nosso fazer no nosso tempo, dando continuidade ao trabalho da revista Pobres & Nojentas 

Aprendi com Adelmo Genro Filho, o teórico gaúcho autor de uma teoria marxista do jornalismo, que pensar dialeticamente implica perceber o novo e, no jornalismo, estar atento à sua irrupção na vida cotidiana. É a partir desta premissa que se faz possível a afirmação: o jornalismo como o conhecemos está morrendo e outra coisa, a ser nomeada, está nascendo. Melhor ainda: o jornalismo morreu e outra coisa nasceu. Nós, jornalistas, estamos no olho do furacão, testemunhando o novo nascer e o velho sucumbir. Por agora, uma hipótese: o jornalismo se alimentava prioritariamente da vida cotidiana no espaço socialmente construído, na rua; a coisa que nasceu se alimenta, prioritariamente, da “vida cotidiana” das redes sociais. Isso afeta todas as etapas da produção jornalística, 1) tornando praticamente desnecessárias, por exemplo, apuração e entrevista; 2) erodindo os recursos de narração e descrição; 3) dispensando o movimento interpretativo da realidade na mediação jornalística. Assim, a coisa daí resultante não pode mais ser chamada de notícia ou reportagem. E nem de jornalismo.

Para as empresas jornalísticas, o que interessa é o lucro, venha da forma como vier. Umas mantém o velho em maior ou menor grau para manter alguma respeitabilidade; outras, como as de Santa Catarina, distribuem prioritariamente a coisa nova e pouco dela lembra o jornalismo. Em todas, redações cada vez mais enxutas e mal pagas com um misto de celetistas (minoria), freelas, MEIs, CNPJs, estagiários e colunistas sem remuneração, hoje tidos como “produtores de conteúdos”.

O professor e pesquisador Jorge Pedro Sousa, no livro “Uma história do jornalismo no Ocidente: génese e desenvolvimento de uma instituição social até ao final do século XX” (2024), traz uma detalhada análise focada nos meios impressos. Reproduzo uma relevante nota de rodapé sobre a ideia de jornal:

Jornal é um termo que provém do francês journal, que significa registo da jornada, ou registo da jorna, portanto, registo do dia. Provém da expressão anterior papier journal, que significava um registo escrito a cada dia. A palavra francesa journal provém do italiano giorno que deriva, por sua vez, do latim diurnum/diurnus, também com a forma diurnae, que significava diário, de onde provém, igualmente, diurnalis, com o mesmo sentido. As Actae Diurnae romanas são consideradas por vários historiadores uma espécie de jornal arcaico. (Jornal) Diário deriva do latim dies, ou seja, dia, sendo, portanto, uma publicação que aparece a cada 24 horas. (Sousa, 2024, p. 37)

Como se percebe, as novas tecnologias de informação e comunicação ao longo dos séculos 20 e 21 arrastaram a etimologia do termo “jornal” para uma realidade na qual rareiam os impressos diários. O jornal impresso do dia hoje virou a publicação digital do segundo/minuto

O jornalismo no Brasil como o conhecemos (conhecíamos) constituiu-se nos anos 50 do século passado com os grandes jornais do Rio de Janeiro. As mudanças foram profundas, desde a gestão das empresas até a produção do texto, que passou a usar o padrão dos veículos estadunidenses, e não mais europeus. Consagraram-se a chamada “pirâmide invertida” e o “lead”. Para os jornalistas, inicia-se um processo de profissionalização, com a criação de cursos e de legislação específica. 

Não cabe resumir as transformações de lá para cá nas empresas e no fazer jornalístico, bem sintetizadas na citada obra de Sousa, que distingue seis períodos na história do jornalismo baseada nos modos e meios jornalísticos dominantes. Mas há que citar o impacto da internet, das redes sociais e da Inteligência Artificial no âmbito da concentração oligopólica dos grandes grupos de comunicação e empresas de tecnologia e das transformações globais do capitalismo. Tais impactos aparecem na coisa – falta-lhe nome – ainda chamada de jornalismo sem mais o ser. 

A COISA

Exemplo 1: Postagem no Instagram de site de notícias e mídia nacional numa terça de janeiro de 2025:

“Só em MG: mulher entra em desespero após queijo rolar ladeira abaixo”

20 mil curtidas, 560 comentários

Exemplo 2: Postagem no Instagram de portal de notícias de Santa Catarina numa terça de janeiro de 2025

“VÍDEO: ‘Tadinha da capivara’; animal ‘atropela’ criança em praia de SC e cena viraliza”

Os dois exemplos ilustram parte expressiva das publicações nos sites das grandes empresas de comunicação. Pode-se alegar que o jornalismo historicamente acolheu os chamados “features” ou “histórias de interesse humano”, os "pequenos aconteceres", como dizia Antonio Olinto. É fato. Mas, na práxis jornalística, tais histórias tinham a ver com a "atmosfera comum da vida", no dizer de Genro Filho, trazendo fragmentos do cotidiano que davam ao leitor a experiência de compartilhar da condição humana. A revista Seleções – uma usina ideológica estadunidense famosa pelos textos bem escritos – , por exemplo, mantinha seções intituladas “Flagrantes da vida real” e “Retalhos do drama cotidiano”. 

Mas hoje, este tipo de postagem geralmente não constitui uma notícia, reportagem ou crônica alimentada pela realidade cotidiana movimentando a rotina de produção jornalística (pautar, apurar, entrevistar, redigir). São postagens que reproduzem outras postagens que “viralizaram” ou “lacraram” nas redes sociais. A mediação jornalística reduz-se a baixar/copiar/colar, muitas vezes com texto de poucas linhas para identificar a situação. A “fórmula” noticiosa “O quem?, o quê?, quando?, onde?, como? porquê?”, já identificável nas antigas Atas Romanas, é afrouxada ao extremo. 

Vale reproduzir o que a Visão Geral Criada por IA do Google (em 14/01/25) define como “viralizar” e “lacrar”:

Viralizar significa que um conteúdo digital se espalha de forma natural e voluntária por toda a rede, de modo rápido e em grande escala. A palavra viralizar ganhou popularidade com o surgimento das redes sociais.  

"Lacrar" é uma expressão popular que significa fazer algo muito bem, ou dizer algo incrível. No contexto das redes sociais, pode ser usada para descrever alguém que atrai atenção sem se relacionar com a realidade.

Ora! Conteúdos digitais não se espalham de forma “natural” e “voluntária”. Hoje, as grandes empresas de tecnologia patrocinam formas cada vez mais intensas e sofisticadas de controle e manipulação do processo informativo, crítica feita por Genro Filho ainda nos anos 80 em relação às empresas jornalísticas, agora reféns das “Big Techs”. 

No caso da expressão “lacrar”, é notável a afirmação da IA do Google sobre atrair atenção “sem se relacionar com a realidade”. Para engordar seus sites e redes sociais, as empresas jornalísticas engolfam viralizações e lacrações das redes, parte delas encenadas, sem que nem jornalistas tenham que se relacionar com a realidade, no “corpo a corpo com a vida”, como dizia o jornalista João Antônio. Genro Filho alerta que o jornalismo a serviço da emancipação humana deve justamente tomar a realidade em sua totalidade, e não como um “(...) agregado de fenômenos destituídos de nexos históricos e dialéticos” (GENRO FILHO, 1989, p. 156). Então, estamos falando de jornalismo x conteudismo.

Em relação às viralizações e lacrações, volto à obra de Souza, segundo a qual a Web “fez de cada indivíduo um potencial fabricante e difusor de notícias, tendência potenciada pelas redes sociais” (p. 27). Mas é o caso de chamar de “notícia” o resultado dessa potencial fabricação por parte de cada indivíduo? No livro, o autor traz um interessante termo, “intenção noticiosa”. Creio que há, sim, intenção noticiosa em parte das incontáveis postagens que segundo a segundo inundam a Web e as redes sociais, mas elas não são notícias. Nem jornalismo. 

Uma das desgraças do nosso tempo é que as pessoas já não diferenciam uma coisa de outra, fato perceptível mesmo no campo progressista, na qual se constata ignorância sobre a diferença entre notícia, reportagem, artigo de opinião, crônica, coluna. Então, sem esse conhecimento, tudo vale. Qualquer coisa pode ser chamada de jornalismo.

Em Florianópolis, multiplicam-se perfis no Instagram vendidos como noticiosos, seguidos por milhares de pessoas, sem divulgar Expediente ou assinar textos para informar quem são os profissionais responsáveis pelos conteúdos. Num ou noutro, há um contato de celular para anúncios, um e-mail do tipo contato@. Mais nada, nem nos sites. E ninguém se importa. Os que insistem em fazer jornalismo fora da grande imprensa e que se iludiam crendo conversar ao menos com suas "bolhas" há algum tempo já notaram: nem mais nelas têm audiência. Tornaram-se invisíveis e irrelevantes.

Sobre o que significa testemunhar a morte do velho e o nascimento do novo, reproduzo parágrafo do livro “Marxismo, filosofia profana”, de Genro Filho, ao concluir a sintetização dos traços do método dialético. Ele afirma: 

Ele [o método dialético] se pergunta, a cada instante: que nascimento anuncia o que está desaparecendo? Ao perguntar isso ele se coloca dois pressupostos: a) O que está nascendo não é algo arbitrário, completamente inesperado, pois mantém um nexo com o que está morrendo e cedendo seu lugar. O pensamento pode, em certa medida, prever o que está nascendo se compreender a totalidade do fenômeno em seu desenvolvimento anterior e suas contradições atuais. O que está morrendo, então, não desaparece sem deixar vestígios, ele morre e passa a viver na substância do outro e, assim, deixa sua herança, mas não é mais ele. b) O que está nascendo não é o que morreu sob outra forma, já que aquele morreu efetivamente. Assim, há algo de surpresa real, inesperado, que nunca pode ser previsto e compreendido inteiramente antes de aparecer. E mesmo depois, a compreensão é relativa e provisória, pois não sabemos integralmente o que o novo vai deixar ao tornar-se velho e sucumbir. Não fosse assim, uma filosofia genial poderia apreender, de uma vez por todas, a realidade em todos os seus desdobramentos (GENRO FILHO, 1986, p. 45-6).

Aí reside parte do desafio e do fardo do nosso tempo histórico, título de um livro de filósofo húngaro István Mészáros: separar o jornalismo da coisa, identificar onde vive o jornalismo, revirar a linguagem jornalística, dar um salto gigante adiante e levar a palavra viva lá onde a miséria do cotidiano embota qualquer esperança. 

REFERÊNCIAS

GENRO FILHO, Adelmo. Marxismo, filosofia profana. Porto Alegre, Tchê, 1986.

GENRO FILHO, Adelmo. O segredo da pirâmide: para uma teoria marxista do jornalismo, Porto Alegre: Tchê, 1989

SOUSA, Jorge Pedro. Uma história do jornalismo no Ocidente: génese e desenvolvimento de uma instituição social até ao final do século XX.  Lisboa: LabCom, 2024. Disponível em: https://labcomca.ubi.pt/wp-content/uploads/2024/11/2024_Uma-historia-do-Jornalismo-no-Ocidente.pdf. Acesso em: 14 jan. 2025.