quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Croniquintas/ Na maldição do transporte coletivo

Toda mudança é sempre para pior

O dia era como eu gosto. Uma chuvinha intermitente, vento suli, tudo conspirando para a alegria, já que eu ia para o centro, espaço de belezas desta cidade amada. Mas, no caminho, vi nas notícias que os malditos da prefeitura alteraram horários e rotas de duas linhas que comumente uso. A da Costa de Dentro e Costa de Fora. Pois os espertinhos - que não andam de ônibus - acabaram com as linhas criando uma única rota para fazer Costa de Dentro e Costa de Fora. Isso simplesmente altera a vida de uma imensidão de famílias que mora naqueles bairros, porque para muitíssimas pessoas essa mudança altera o tempo dentro do ônibus. Só quem usa sabe. Maldito Topázio! Malditos burocratas que não ouvem as gentes. 


Foi exatamente isso que fizeram com as linhas do Castanheira Gramal e Castanheira Eucaliptos. Elas foram eliminadas e agregadas à linha Morro das Pedras. Com isso a trajetória ficou muito mais longa. Imagina levar 45 minutos para chegar em casa, numa linha dentro do bairro, porque ela atende dois bairros juntos em vez de um só. Antes, a gente levava dez minutos. Agora 45. É de enlouquecer. 


Além disso, há que segurar a onda com os motoristas estressados ​​que explodem a qualquer comentário. Dia dessas uma senhorinha informou ao motorista que não tinha parado no seu ponto - ela, velhinha, cheia de sacolas - e ele saltou mal-humorado: "Era eu? Não era? Então não quero saber. A senhora puxa a cordinha e eu paro". Assim, na ignorância, sem nenhuma empatia. A gente meio que entende, eles perderam os cobradores, ficaram pressionados. Mas, não custaria nada ser simpático. 


E assim eu vinha no ônibus remoendo ódio contra Topázio e seus tecnocratas, pensando sobre o que fazer já que o povo é tão manso. Como é possível aceitar essas mudanças no transporte sem um movimento de rebeldia? Queimava em ódio. Nisso o busão chegou no terminal e o povo foi saindo à galope. Fiquei pra trás, cheia de bolsas, tripés e sacolas. Quando fui descer o motorista simplesmente fecha a porta. Plaft! A porta se fechou sobre o meu braço magrinho e eu fiquei meio corpo pra fora, meio corpo pra dentro. Pensei: puta merda, vou morrer igual aquela senhorinha que caiu do ônibus. O cara arrancou e se foi. Gritei, mas ele não ouviu, minha cara estava para fora. Por sorte havia duas mulheres ainda dentro do ônibus e elas gritaram para ele parar. Ele parou e então abriu a porta, me destrancando. Foram segundos, mas eu realmente me apavorei. Não houve tempo nem para reclamação. Ele abriu a porta, eu saltei, as mulheres também e ele se foi. Fiquei ali com cara de tacho. Só consegui pensar: maldito Topázio. 


Por muito pouco eu não fui parar no Balanço Geral, o programa das desgraças. A coisa parece engraçada, mas não é. É muito difícil enfrentar o transporte coletivo todos os dias, ainda mais sendo velho. 

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