segunda-feira, 14 de junho de 2010

Leite de Rosas




Míriam Santini de Abreu

Sempre me impressiona o modo pelo qual os cheiros agem como gatilhos que despertam nossas emoções mais remotas ou recentes.

O cheiro da brasa apagada de fogão a lenha sempre me leva para Caxias nas noites frias em que, pequenos, eu e meus irmãos assávamos pinhões na chapa.

Dia desses tive que ultrapassar com urgência um homem que caminhava na minha frente na rua. Ele se espantou com o meu ímpeto e eu expliquei:

- Me desculpe, mas o seu desodorante traz lembranças que fazem a minha alma arder.

Ele apenas sorriu.

No domingo, num impulso nostálgico, comprei um desodorante Leite de Rosas. Isso porque me lembrei da tia Zulmira, irmã de minha mãe e minha madrinha. Ela faleceu em 1994, depois de uma doença dolorosa. Sempre que vejo o Leite de Rosas, com aquela embalagem inconfundível, recordo dela. Tia Zulma usava o produto, e aquele cheio sempre me leva de volta a outro tempo, outro espaço, outros desejos, tudo embalado por um certo jeito de ser de minha tia, um jeito de menina travessa.

O Leite de Rosas completou 80 anos. Eu estou para completar metade disso. Assustador.

Um comentário:

Valéria Buffon disse...

Mimi,
Que nostálgica minha cunhada! (rsrs)
Mas não quero pensar que já estamos entrando na categoria dos "enta". Vamos mudar de assunto! (rsrsrs)
Adorei o texto!
bjs
Val