Por Marcela
Cornelli
Para marcar o Dia Nacional da Consciência Negra, entidades
sindicais realizaram no dia 20 de novembro, diversas atividades culturais e
políticas em Florianópolis. Pela manhã, foram realizadas atividades em frente à Catedral
Metropolitana, no Centro da Capital, com apresentação de grupos de dança
e hip-hop. Também foram distribuídas cartilhas sobre a anemia falciforme,
alertando para as especificidades da saúde da população negra.
À noite, movimentos sindicais e sociais e estudantes se reuniram
para participar do debate “O Negro na telenovela brasileira”, com o
professor do Departamento de Estudos Sociais da Universidade Tecnológica
Federal do Paraná, Ivo Pereira de Queiroz, também militante do Movimento Negro
Unificado (MNU).
A ideia de colonialidade
“São 400 anos de racismo e dominação e de desprezo às
culturas e saberes da população negra. O primeiro trabalhador do Brasil foi o
negro. 12 milhões de vidas foram gastas para construir o Brasil e agora
reclamam que o garoto negro quer uma cadeira na universidade”, disse o
professor Ivo Pereira de Queiroz. “A
‘colonialidade’ ficou”, defende o professor, referindo-se à dominação de ideias
e preconceitos que permanecem até hoje desde a época do colonialismo. “As
pessoas morrem, mas as ideias permanecem nas mentes, corações e nas
instituições”.
“Eles já fizeram o contrato com e para quem vão governar”
Na opinião do professor, “hoje vivemos em uma sociedade de
aparências e quem produz fica do lado de fora. É uma sociedade do consumo e da
alienação. Os valores e tradições são regulados pela colonialidade. No governo
não é diferente. Os governantes eleitos foram financiados pelas mesmas
empresas. Eles já fizeram o contrato com e para quem vão governar”.
O negro e as mulheres na TV
“Na TV as mulheres são transformadas em coisas. Há racismo e
inferiorização da gente negra. A mulher negra sofre ainda mais. Há o
estereótipo de que a mulher branca é para casar e para cozinhar e a mulata para
fornicar”, diz o professor. “Por isso, a lei que deu mais direitos às
empregadas domésticas foi tão combatida. A colonialidade está no imaginário
como se fosse um vírus. No desenho animado, por exemplo, a cor do mal é sempre
escura”.
O professor citou o exemplo de vários atores negros que
tiveram papéis na TV associados ao consumo do álcool, sem dentes e engraçados
e/ou mal tinham falas no seu papel, na maioria das vezes retratados como
empregadas domésticas, motoristas e/ou seguranças da elite branca. Para o
professor, houve algumas mudanças, isso graças à pressão dos movimentos negros,
porém ainda estamos muito aquém do necessário. “Até discutem a maior
participação de negros nas novelas, por exemplo, mas não discutem o conteúdo”. As TVs visam o consumo e não
avançam em determinadas questões para não desagradar o público e
consequentemente seus patrocinadores. “Dependendo do que o público pensa eles
mudam o enredo”, observou Queiroz.
O monopólio das comunicações
“O monopólio das TVs é tão naturalizado. Não se pode ser
inocente, tudo tem um propósito, uma intencionalidade. Desmistificar o consumo
das ideias é sadio. Precisamos aprender a ficar resistentes ao que os meios de
comunicação nos mostram como verdades”.
O papel dos sindicatos
“A injustiça social só desaparecerá quando vencermos a
injustiça entre as classes”, enfatizou o professor. Para ele, dentro desta
perspectiva o papel do sindicato é fundamental na discussão com os
trabalhadores e as pautas sindicais devem avançar para além das discussões das
categorias. Se isso não for feito não haverá mudanças.
Homenagem ao Diretor da Fenasps e do movimento negro
Ao final do debate foi feito menção e homenagem, pelo
movimento negro de Santa Catarina e por todos os presentes, ao militante do
movimento negro do Rio de Janeiro, Manoel Crispim Clemente Flores, servidor do INSS e ex-dirigente da
Fenasps, do Sindsprev/RJ e da coordenação
nacional da CSP-Conlutas (Central Sindical e Popular), que faleceu nesta
quarta-feira, 5 de novembro, vítima de um acidente de carro. Crispim dedicou sua vida
à luta dos trabalhadores da seguridade social, ao combate à discriminação
racial e à
construção de uma sociedade com justiça social.
Participam da organização dos eventos no dia 20 de novembro
em Florianópolis as seguintes entidades: Sindes, Sindprevs/SC, Sinte, Sinergia,
Sintrasem, Sintrafesc e o Movimento Negro Unificado (MNU).
Nenhum comentário:
Postar um comentário