Por Koldo Campos Sagaseta, do País Basco - Fonte: Portal Desacato
São tão ingratos os emigrantes aos que fizeram o favor de acolher no Estado espanhol, que nem sequer se preocupam de imitar as clássicas e higiênicas maneiras de quem os recebe, por sinal, com os braços abertos, e andam por aí, faltando com o respeito, de qualquer jeito, sem escovar os dentes nem aliviar os sovacos, contaminando com suas pestilências naturais os mais insignes espaços do país. Em sua lastimável ingratidão chegaram até a expor seus fétidos eflúvios os próprios tribunais de justiça, os mais imaculados espaços do reino espanhol cuja fragrância, a mesma que se exala desde o fundo das becas, é fama não conhece nem nunca se viu envolvida em assuntos que cheiram mal.
No juizado de Logroño, o fiscal Eduardo Peña, pouco antes que entrasse na sala uma nigeriana que seria julgada por um caso de violência familiar, teve a boa idéia de fazer uma solicitação: “Abram as janelas, que a negra cheira mal!”
A pesar da prudência do pedido, dada a pestilência do contexto, nem só fica o agradecimento ao fiscal Peña pela adoção de tão sensatas medidas preventivas que evitaram na augusta sala vômitos ou desmaios, senão que foi sancionado pelo fiscal superior da região, Juan Calparsoro, com uma… admoestação. Sei que alguns pensarão que se trata de uma falta leve que não requer sanção, e que podia ter sido pior se não coincidissem com sua pituitária os critérios de seu superior, mas é lastimável que em lugar de galardoar em público reconhecimento a iniciativa do fiscal, tenha sido submetido à indignidade de uma admoestação.
A mulher tinha passado dois dias trancada em um calabouço da polícia sem que lhe permitissem se limpar e tal circunstância tinha sido revelada ao fiscal por um funcionário do juizado. Inteirado do fato o diligente fiscal Peña, mesmo que fosse um pretexto da negra ou fosse verdade, como representante da justiça, o único que lhe competia fazer era pedir que abrissem as janelas “que a negra cheira mal”. E assim foi feito.
Agora só falta que a cidadania, animada pelo exemplo de tão pulcros e higiênicos representantes, exija que em todas as audiências e tribunais, além das janelas, também se abram as portas, que a justiça cheira mal. Mais do que isso, fede.
Versão em português: Tali Feld Gleiser, de América Latina Palavra Viva
No juizado de Logroño, o fiscal Eduardo Peña, pouco antes que entrasse na sala uma nigeriana que seria julgada por um caso de violência familiar, teve a boa idéia de fazer uma solicitação: “Abram as janelas, que a negra cheira mal!”
A pesar da prudência do pedido, dada a pestilência do contexto, nem só fica o agradecimento ao fiscal Peña pela adoção de tão sensatas medidas preventivas que evitaram na augusta sala vômitos ou desmaios, senão que foi sancionado pelo fiscal superior da região, Juan Calparsoro, com uma… admoestação. Sei que alguns pensarão que se trata de uma falta leve que não requer sanção, e que podia ter sido pior se não coincidissem com sua pituitária os critérios de seu superior, mas é lastimável que em lugar de galardoar em público reconhecimento a iniciativa do fiscal, tenha sido submetido à indignidade de uma admoestação.
A mulher tinha passado dois dias trancada em um calabouço da polícia sem que lhe permitissem se limpar e tal circunstância tinha sido revelada ao fiscal por um funcionário do juizado. Inteirado do fato o diligente fiscal Peña, mesmo que fosse um pretexto da negra ou fosse verdade, como representante da justiça, o único que lhe competia fazer era pedir que abrissem as janelas “que a negra cheira mal”. E assim foi feito.
Agora só falta que a cidadania, animada pelo exemplo de tão pulcros e higiênicos representantes, exija que em todas as audiências e tribunais, além das janelas, também se abram as portas, que a justiça cheira mal. Mais do que isso, fede.
Versão em português: Tali Feld Gleiser, de América Latina Palavra Viva
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