segunda-feira, 10 de dezembro de 2007


Míriam Santini de Abreu, jornalista

Fiz uma croniqueta em maio sobre o espantalho que eu espiava em meio a uma plantação nas minhas viagens semanais a Rio do Sul, SC. E eis que, na semana passada, o reencontro, desta vez acompanhado, no mesmo terreno em declive próximo ao rio Itajaí-açu. Pena não ser possível parar o ônibus para fazer fotos. Mas encontrei um banco de imagens só de espantalhos em
http://www.fotosearch.com.br/fotos-imagens/espantalhos.html Há uma, encantadora, de um espantalho a vigiar um campo de lavandas. E por falar nelas, encontrei outra blogueira que ama alfazemas, em http://mariaalfazema.blogspot.com/ A imagem acima, do campo de lavandas, está disponível em: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c7/Lavanda.jpg

Espantalho

Desde pequena tenho fascínio por espantalhos. Não sei o motivo. Também adoro os corvos. São espertos. Conseguem até usar gravetos para alfinetar insetos abrigados em tocos apodrecidos de árvores. Vi isso num documentário. E foi por esses estranhos gostos que, no ano passado, quase fiz um motorista de ônibus parar na BR-470 entre Blumenau e Rio do Sul.
Estava eu sorvendo a paisagem quando, de plantação ainda miúda na beira do rio, aparece um espantalho! Foi num átimo. Aquilo me fulminou. E assim, nas viagens semanais, ver novamente o espantalho era um desejo fremente e difícil.O trecho entre as duas cidades é longo. Eu confundia o lugar onde ele vigiava a plantação e assim ficava minutos a fio com a cara na janela, o pescoço dolorido. Às vezes, não o via.
Depois de algumas semanas, gravei na memória a paisagem do trecho. O espantalho me esperava um pouco antes da curva onde o rio corre no sopé de um morro alto, parecendo o dorso pesado de uma anta, com umas rochas nuas à vista. Que delícia reencontrá-lo! Fiquei meses sem ir a Rio do Sul. Em março último, voltei. E esperei em vão. O milho cresceu e o espantalho sumiu. Estará oculto em meio às espigas? Não sei. Mas aguardo ansiosa o início da semeadura.

Um comentário:

Anônimo disse...

No meu tempo de A Notícia eu ficava horas espiando um espantalho, humilde, ali atrás de um Hotel barato próximo da rodoviária. Se chovia nele, chovia em mim. E assim eu aprendi que até as coisas aparentemente mortas têm pulsação, sopro.

As lavandas --- Míriam --- são meninas que vão cedo pra cama sonhar, escutar a chuva.

Karl