terça-feira, 18 de dezembro de 2007

As palavras aprisionadas

Míriam Santini de Abreu, jornalista

Desejos estranhos, misteriosas motivações, fazem do ser humano. Desde que li sobre o jornalista James Agee em um texto do amado jornalista Marcos Faerman, não tive sossego. Faerman cita Agee em um dos mais belos textos sobre o trabalho do repórter. Agee, conta Faerman, foi escalado para fazer uma reportagem sobre famílias rurais na época da Depressão no EUA. Ele foi, e voltou com um épico.
E estou eu, há anos, atrás desse épico, sem tradução em português, esgotado em espanhol. Fuçava em tudo na internet. E eis que, semana passada, encontro um exemplar em francês no site Estante Virtual, do qual sou cliente assídua. Lá estava, no sistema de busca, Louons maintenant les grands hommes. E louvemos agora os grandes homens. Ah, que delícia encomendar e esperar chegar, e cá o tenho nas mãos, sentindo, com um arrepio quase erótico, o cheiro de livro de sebo bem-cuidado, edição de 1972 da Librairie Plon, brochura elegante, as páginas coradas de um leve amarelo, encarte de fotos... Junto chegou outra encomenda, Alexandre e César, de Plutarco, edição de 1956 em português, brochura com um cheiro mais... nobre, eu diria, uma nota de fundo adocicada.
Plutarco me terá, mas Agee revela-se em uma língua estranha. Por isso falo de misteriosas motivações. Só para lê-lo, comprei um dicionário e uma gramática da língua francesa. Vou aprender. Agee em breve me terá.

Trecho de Marcos Faerman sobre James Agee:

As lembranças do repórter. 'Tudo isto me parece curioso, obsceno, aterrorizante,
disse certa vez um repórter, James Agee, de quem fiz a citação anterior.
James Agee. Um repórter. Era um garoto quando a Life lhe pediu a história de
algumas famílias rurais na época da Depressão dos EUA, de onde nasceu uma
espantosa reportagem, Louvemos Agora os Grandes Homens. A Life rejeitou a
reportagem de Agee por considerá-la anti-jornalística. Agee descrevia com
minúcias até a respiração do pesado sono de trabalhador. Construiu um documento
eterno. Seu relato é obra à altura de Steinbeck, John dos Passos, Faulkner. Quem
quiser saber alguma coisa sobre a vida camponesa nos anos 30 terá que ler este
relato que a Life rejeitou. O relato seria publicado na forma de livro. Trinta
anos depois seria editado numa coleção de Antropologia dirigida por Lévi
Strauss. Da rejeição em nome do jornalismo para a glória (as famílias camponesas
assassinadas em nome do jornalismo renasceram!).

Texto completo em:
http://www.andredeak.com.br/emcrise/nao-pereciveis/npfaerman.htm

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