quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Memórias do primeiro jornal

 

Aos 20 anos na Redação da FH

CRONIQUINTAS DA POBRES & NOJENTAS

Por Míriam Santini de Abreu

Eu era auxiliar de escritório em uma rede de supermercados de Caxias do Sul em meados de 1990. Entrava na segunda fase de Jornalismo e decidi bater na porta do extinto jornal Folha de Hoje para pedir emprego. Consegui um estágio e lá fiquei durante dois anos. Como tantos outros que passaram pelo jornal, a minha relação com a Folha era um caso de amor. 
Havia a Tríade dos Editores – Cancian, Ibanor e Braga. E trabalhava lá o Darci Demetrio, que sabíamos – os repórteres – ter ganho um Prêmio Esso Regional Sul de Jornalismo. Toda semana o Demetrio selecionava uma reportagem para colocar no mural da Redação e comentar. Lembro-me ainda hoje do dia em que a primeira que fiz foi “para o trono”, como dizíamos. Era sobre uma ocupação de famílias empobrecidas ao lado da Prefeitura. Prova de que o tema me percorre há décadas. Recortei o comentário, datilografado em máquina de escrever, e guardei numa pasta de velhas matérias que tenho até hoje.
Eu amanhecia plena de notícias a apurar e escrever, e anoitecia pulsátil, mesmo depois das acabrunhantes viagens diárias a São Leopoldo para cursar jornalismo na Unisinos. 
Na Folha aprendi a adorar a Editorial de Geral, onde está a peonada do jornalismo: Repórter de Geral, em especial de matérias de cidade e meio ambiente. Aprendi a adorar também as botas pretas de cadarço com sola pesada, confortáveis e aptas para qualquer solo e clima. Botinha de Repórter é como as batizei. 
Toda manhã as pautas nos esperavam em tirinhas de papel. Cada saída com a equipe repórter-fotógrafo-motorista era uma celebração para mim, “foca” deslumbrada. Digitávamos os textos em PCs com monitor verde em meio ao alarido da Redação, uma sala apenas dividida em Editorias com uns seis PCs cada. Os Editores ficavam no único aquário – a sala com divisória de vidro -  e havia as salas menores de Fotografia e Arquivo, de recebimento de telex e de diagramação e finalização das edições. Ah, que grande azáfama! Papel, bloco, telefones, dicionários, “espelhos”, “bonecos”, dicionários, fotos, canetas, pressa! 
Quando o relógio apontava 17h30, eu, a Rosane Berti e o Samuel Frison corríamos Redação afora, sempre atrasados para encontrar, na Praça, o ônibus para a Unisinos. Havia histórias e risos nessas viagens, sempre tendo a Folha de Hoje como cenário.
As pessoas que trabalharam no jornal organizam confraternizações em Caxias e há um quase consenso em relação aos episódios mais marcantes da história da FH. Um deles foi o dia em que parte do prédio da Prefeitura da cidade pegou fogo. 
Era final de tarde, mas o Cancian, nosso Editor Geral, não precisou chamar ninguém de volta ao trabalho. Estávamos todos lá, uns nos carros do jornal, outros subindo às carreiras a rua Dom José Barea, no alto da qual está, ainda hoje, o Centro Administrativo. Eu e o Samuel chegamos juntos, e ainda hoje me lembro da gafe que cometi. Lá estava o prefeito Mansueto Serafini, uma expressão atordoada no rosto. Eu, afobada pela corrida, lasquei:
- Oi, prefeito, tudo bem!?
Atrás dele, as chamas destruíam parte do prédio! 
Nem bem perguntei, me dei conta da gafe e saí dali rapidinho. Uma insensibilidade de Nero, a minha.
Uma hora depois chega à rua, esbaforido, o então secretário da Educação. Ele conta que uma criança quase fora esquecida no local porque dormia em uma das salas da secretaria. A mãe havia saído e voltou desesperada quando soube do incêndio. Os detalhes da história hoje me escapam, mas eram muitos, e eu e o Samuel resolvemos fazer um texto assinado pelo dois. 
Eu estava então imbuída do espírito dos manuais de redação e – temente àqueles preceitos ridículos - insistia em um texto protocolar. O Samuel, hoje doutor em Literatura, queria fazer uma narrativa quente como as chamas. O texto publicado foi um híbrido, e o episódio da criança, dias a fio, discorrido em nossas viagens a São Leopoldo. 
A Folha fechou de forma melancólica em meados dos anos 1990. Não sei se algum estudante de jornalismo da Universidade de Caxias do Sul contou a história do jornal. Espero que sim. Lá se foram 35 anos. 

Escadaria da rua José Boiteux (E 4)




A equipe da revista Pobres & Nojentas apresenta mais um episódio do projeto Escadarias do Maciço, trazendo agora a escadaria da Rua José Boiteux, possivelmente a mais longa do Maciço do Morro da Cruz. Neste episódio entrevistando o morador Sidnei Paim, que vive no meio da escadaria. 

O projeto busca ouvir moradores do Maciço Central ou Maciço do Morro da Cruz, parte do Distrito-Sede de Florianópolis (SC), revelando assim o cotidiano naquele espaço urbano da Ilha de Santa Catarina. O Maciço é uma formação rochosa próxima às áreas centrais da capital catarinense e se estende por quase 5 km no sentido das Baías Norte e Sul, atingindo 285 metros de altura. Nele há pelo menos 18 comunidades e cerca de 30 mil pessoas constituindo diferentes apropriações socioespaciais. 

Um dos desafios para as populações que ali moram é a mobilidade e a acessibilidade, sendo uma das formas mais características, além das linhas de ônibus, o uso das escadas para o trajeto entre as comunidades e delas até as áreas planas do centro da cidade. 

O projeto tem o apoio da UDESC e do Instituto Cidade e Território (ITCidades). 


quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Billy Culleton, repórter

O jornalista Billy Culleton é o 31º entrevistado do projeto Repórteres/SC. Nascido em Buenos Aires, mudou-se para Santa Maria (RS) para estudar primeiro Filosofia e depois Jornalismo, decisões amadurecidas em vivências na Pastoral Carcerária do município gaúcho e que também levou a viagens Brasil fora e às primeiras experiências jornalísticas.

A vinda para Florianópolis foi em 1993, com ingresso no Diário Catarinense, consolidando carreira como repórter e editor de política em um período no qual as empresas mantinham setoristas para acompanhar de perto os três poderes. No DC, a partir de uma nota lida no Jornal do Brasil, viajou com o repórter fotográfico Daniel Conzi para a produção de uma reportagem sobre as circunstâncias da morte de João Goulart que municiou os trabalhos de Comissão Especial na Câmara dos Deputados entre 2000 e 2001. Tudo num tempo em que a internet era incipiente e a busca por fontes se fazia nas velhas listas telefônicas. 

Ao mesmo tempo, concluiu o mestrado pela UFSC, exerceu a docência durante 14 anos nos cursos de Jornalismo da Unisul, Universidade Federal de Santa Catarina e Centro Universitário Estácio SC. Com a saída do DC, até 2018 Billy foi assessor de comunicação em órgãos como o Tribunal Regional Eleitoral de SC e a Procuradoria Geral do Estado. De ascendência irlandesa, ele aproveitou viagens às terras europeias para fazer reportagens publicadas pela Carta Capital.

Em 2019, Billy criou o Portal Floripa Centro, que traz notícias do cotidiano e reportagens históricas sobre Florianópolis, constituindo acervo valioso de um jornalista conectado com a vida e as diretrizes nascidas de um corpo a corpo com a rua. Atualmente ele é gerente de Comunicação do Porto de São Francisco do Sul e tem à vista os projetos de retomada do Portal Floripa Centro e as investigações sobre a morte de Jango. Na entrevista, ele também fala sobre autores que influenciaram seu trabalho e analisa o cenário atual do jornalismo catarinense. 

A gravação e as fotos são de Rubens Lopes.

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Billy Culleton no Repórteres SC






O jornalista Billy Culleton é o 31º entrevistado do projeto Repórteres/SC. Nascido em Buenos Aires, mudou-se para Santa Maria (RS) para cursar jornalismo.

A vinda para Florianópolis foi em 1993, com ingresso no Diário Catarinense como repórter e editor, seguindo também carreira na docência e em assessorias de imprensa. 

Na entrevista, Billy fala sobre reportagens que marcaram sua trajetória, como a investigação das circunstâncias da morte de João Goulart, e a produção para o Portal Floripa Centro, criado por ele em 2019. 

O vídeo está em edição e será divulgado em breve com mais detalhes da trajetória de Billy. As imagens são de Rubens Lopes.

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

No caminho de El Tatio

Nossos gêiseres

Eu não esqueço a cena. Era madrugada e um pequeno grupo seguia em direção a El Tatio, um dos pontos mais altos da região da quebrada de San Pedro de Atacama, no deserto chileno, onde ficam os famosos gêiseres. Havia chovido bastante na noite anterior e as estradas estavam muito ruins. O guia que levava o grupo era um representante legítimo dos Likan Antay, o povo atacamenho, originário do lugar. Seu nome: Getúlio. Homem de poucas palavras, com aquele silêncio pesado que precede tempestades, típico das gentes do Atacama que veem a cada dia seus espaços sendo tomados por empresários europeus.

Na Van seguia um grupo animado composto por brasileiros, chilenos e um espanhol. Basicamente colocávamos nossa vida nas mãos daquele homem, pois o caminho era absolutamente invisível, tamanha a espessura da neblina. Nada se via e só o que a gente sabia era que de um dos lados estreitos da estrada se abria um precipício imenso. Getúlio seguia impávido, conhecedor de que era daquelas milenárias veredas.

Então, houve um estrondo e o carro caiu num buraco, pendente para o lado do penhasco. Foi um momento de pânico geral. Logo estávamos todos na rua e Getúlio tentava retirar o carro da fenda onde tinha caído. Foi nessa hora que o espanhol surtou. Dizia ao indígena que ele era um irresponsável, que não havia condições de subir a montanha, que estava colocando em risco sua vida e tantas outras barbaridades que não vou reproduzir. Getúlio ouvia com sua impassível paciência enquanto, sozinho, lutava para tirar o carro da vala. Ficava explícito ali naquele monólogo do espanhol todo desprezo que ele tinha pelo saber e pela cultura de Getúlio, do povo originário. Sequer se prontificou em ajudar. Só gritando.

E foi tanta a loucura do espanhol que ele praticamente obrigou todo o mundo a voltar para a vila, fazendo ameaças e impedindo que o carro seguisse o caminho até os gêiseres. Como se a estrada ruim e o acidente fossem responsabilidade de uma “burrice” natural de Getúlio. A histeria do cara foi tanta que todos decidiram voltar para São Pedro e retornar a El Tatio só na madrugada seguinte, sem a presença do espanhol. Foi o que fizemos. 

No dia seguinte partimos pela mesma estrada e com o mesmo motorista, vivendo a mesma aventura da neblina fechada. Lá em cima, maravilhada com a beleza dos gêiseres, tive tempo de conversar com Getúlio enquanto devorávamos sanduíches no almoço. Eu meio que pedindo desculpas pelo espanhol. “Esse povo é assim, acha que ainda manda por aqui”, disse ele. "Pensam que somos sua colônia. Não somos mais!". 

Pois não é que no dia seguinte fomos todos chamados à chefatura dos “carabinieri” para dar declarações. O espanhol havia feito uma denúncia crime contra Getúlio, dizendo que ele havia colocado em risco a nossa vida. Claro que todos defendemos Getúlio, pois ele não só tinha cuidado muito bem da situação como sabia andar naquelas estradas de olhos fechados. Nunca houve risco para nossa vida. Foi o maior mico do espanhol! Mas, mostrou bem a sua cara...


quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Culpa do Vento Sul


Por 
Dinovaldo Gilioli

O sujeito era muito vaidoso, daqueles que não saíam de casa em dia de vento sul só para não espalhar o cabelo que, aliás, tinha muito pouco. Certa vez, essa sua vaidade quase lhe fez romper o casamento. O ingresso para o show tinha sido comprado com bastante antecedência, sua esposa sabia que se comprasse em cima da hora e tinha tal vento não havia quem o tirasse de casa. 

Esse show era o sonho de Tereza. Fã incondicional do músico, era sua grande chance de assistir o ídolo, quem sabe até conseguir tirar uma foto com o famoso cantor e postá-la na internet. Com certeza ia causar inveja nas amigas. Tereza também tinha lá suas vaidades. 

No dia fatídico, ela não se aguentava de ansiedade. O sol estava radiante e tudo corria dentro do previsto. No entanto, quem é que domina o tempo. À noite, sem nenhuma previsão meteorológica, caiu um vento sul de arrancar peruca e pra complicar mais ainda uma chuva fina, daquelas que corta feito navalha. 

Tereza já imaginava a cena: Godofredo, seu digno esposo, ia querer ficar em casa e ela não saia sem ele. Você sabe, mulher casada, proba, de moral ilibada, não ia andar por aí à noite desacompanhada. Na próxima hora do show, Godofredo não dava nenhum sinal. Todo sujo de mexer no quintal, banho que era bom, nada. Tereza não se conteve. 

- Apura Godofredo, desse jeito vamos perder o show! 

Ele se fez de esquecido, mas lembrou o tempo todo do vento sul e da chuva fina gelada. Na maior cara de pau indagou: show, que show? Tereza não hesitou um segundo sequer. 

- Tudo bem, se não quer ir por causa do vento sul e da chuva fina, paciência. Vou convidar o Jerônimo pra ir comigo. 

Jerônimo foi ex dela e era muito amigo do casal. Godofredo tinha uma confiança demasiada no amigo e ele disse, sem pestanejar: "com Jerônimo pode ir, até porque não estou me sentindo bem". Pura mentira, é claro. 

Dito e feito, Jerônimo topou na hora ir com a Tereza. E lá se foram. Animada e saltitante, chegou em casa à meia noite. O show tinha terminado às 22h. Acordado ainda, Godofredo perguntou: E, daí, como foi o show? 

Sem muito pensar, num ato falho, Tereza respondeu, perguntando: show, que show?



quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Raimundo Caruso, escritor


Raimundo Caruso é catarinense, nascido em Urussanga, no sul do Estado. Bem jovem foi estudar em Curitiba e lá na capital paranaense esteve em contato com rico movimento cultural movido por escritores de alto calibre. Fez a faculdade de jornalismo porque lhe encantava a palavra.

Mas, inquieto, percebeu que conhecer era também andar pelos caminhos da América. Foi quando decidiu pegar uma mochila e sair pelo mundo. Andou por vários países, coletando imagens e histórias que depois se transformaram em livros. Esteve por um tempo no Jornal O Estado, de Florianópolis, e passou pela UFSC, aonde deu aula.

Disposto a não se deixar prender por amarras empregatícias decidiu voltar a viajar, desta vez com a intenção de entrevistar pessoas e contar as histórias, tendo como parceira, em muitos livros, sua esposa Mariléia Caruso. Assim, nasceram novos livros, sobre a Amazônia, os Açores, os jangadeiros do Ceará, a Bolívia, os automóveis. Ele acredita que a entrevista é o suprassumo do jornalismo. Também já se aventurou no romance – tem três escritos. 

É essa trajetória de vida e obra que o projeto “Conversas na Tiradentes” apresenta agora, com imagens de Tasso Cláudio Scherer, direção de fotografia de Sérgio Vignes e entrevista de Elaine Tavares. 

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Enxoval de Palavras






Por Míriam Santini de Abreu

Eu devia ter uns 15 anos quando descobri que minha mãe fazia, às escondidas, o meu enxoval. Palavra linda, vem do árabe ax-xauar. Lá estavam, na prateleira mais alta do guarda-roupa dela, escondidos, os delicados conjuntos para enfeite em crochê, toalhas, colchas, lençóis, tudo bordado com ponto cruz colorido e miúdo.

Ah, que berros eu dei naquele dia! Fiz um discurso inflamado contra o que, naquela época, o enxoval significava para mim: casamento formal e filhos. E eu, eu só pensava em ser jornalista.

A mãe, como sempre, fez cara de paisagem e não deu a mínima para as minhas queixas. Anos a fio, continuou a comprar toalhas e tecidos e a costurar e pregar, nas barras, arremates bordados naquele caprichado ponto cruz que ela até hoje tem disposição para fazer.

Algumas peças eu escondi dela, como um pequeno pano decorativo de veludo preto com um beija-flor bordado, de fios lindamente coloridos, que eu queria fazer crescer até virar um vestido tão deslumbrante quanto os de Scarlett O'Hara. Escondi tão bem que nunca mais achei. 

Quando finalmente pude morar num local onde valia a pena colocar adornos tão bonitos, humildemente pedi o enxoval. Ela me olhou com aquela expressão de triunfo e disse que eu deveria, sim, levar o que queria, mas aos poucos. E assim é, até hoje.

Toda vez que vou para casa, vasculho a guarda-roupa dela para escolher peças do enxoval, inspiradas em modelos de umas revistas antigas de ponto cruz que a mãe guarda até hoje. Muitas das peças em crochê foram feitas por tias já falecidas e a gente gosta de afirmar: – Tem pelo menos 50 anos!

Se a mãe inventa de dar alguma peça de presente para amigas e parentes, eu faço um berreiro, em atitude infantil: – É meeeuuu! É tudo meu!

Sob quadros, nas paredes, nas colchas, nos lençóis... As artes enxovalísticas de dona Eluci estão por toda parte lá em casa. 

Naquela época, o enxoval significava tudo o que eu não desejava para mim, o modelo contra o qual eu me rebelava. Hoje, significa o que é: peças delicadas feitas pela minha mãe. 

Nada entendo de agulhas, linhas e máquinas de costura. Mas quero seguir o exemplo da mãe e deixar por aí ao menos um enxoval de palavras.

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Em Susques, com Gladis Contreras

Gustavo, Elaine, Gladis e Miriam

Centro de Susques



Por Elaine Tavares

O ano é 2005. O lugar foge a qualquer conceito e é chamado de pórtico dos Andes. Fica bem no pé da Cordilheira, na puna argentina. Uma pequena comunidade de 800 pessoas, última parada antes de avançar pelas montanhas, no rumo da fronteira com o Chile. Tudo ali tem a cor da terra, até as gentes, de um marrom indescritível. Quase não há árvores. Encravado entre montes pedregosos, o povoado de Susques desafia a vida. O ar é raro, afinal, fica a 3.675 metros acima do nível do mar.

Susques não está nos roteiros turísticos. É apenas conhecido pelos caminhoneiros que precisam entrar na aduana, instalada ali, para acertar os papéis com os quais cruzarão o Paso de Jama, posto da fronteira. Passou quase a sua vida inteira - e é um povo antigo, milenar - sem luz elétrica. Essa novidade só chegou ao povoado - por 24 horas seguidas – no ano de 2002. Mas, é ali que vive uma professora primária, que levou a sério essa “tal ideia” de integração latino-americana. Parece que na nossa América só os "pueblos chicos" compreendem a necessidade de um encontro verdadeiramente humano entre as gentes dos mais diversos países. 

Gladis Contreras, que naqueles dias já passava dos 60 anos, deu aulas para a criança de Susques até o começo dos anos 2000. Chegou ali jovenzinha, vinda de um povoado vizinho. Apaixonou-se, casou-se e nunca mais saiu. Agora está aposentada e cuida de uma pequena hospedaria, chamada de "La Vicuñita". Ela conta que, tão logo começou "essa onda" do Mercosul, decidiu aprender o português para, depois, poder ensinar aos alunos. Estudou por cinco anos a língua do maior país da América Latina. Confessa que tem dificuldades, pois não tem com quem praticar. Daí a alegria com que recebeu três brasileiras perdidas em busca do caminho dos Andes. 

Gladis fez a sua parte na tentativa de compreender o “brasileiro”. Fala devagar, pronunciando bem as palavras. Tem um bom vocabulário e consegue compreender tudo. Mas isso não é algo comum. No mais das vezes, as pessoas de fala espanhola têm bastante dificuldade de entender o português, assim como os brasileiros também patinam no entendimento do espanhol, embora muitos façam o esforço supremo de falar o “portunhol”, buscando maior aproximação com os “hermanos”.

O certo é que, nas ruas, na vida das pessoas comuns, a integração se dá de forma natural. No jeito simples de cada um inscreve-se o desejo de aprender sobre a vida do outro, uma ou outra palavra, busca-se o conhecimento sobre a geografia, os costumes. A comunicação vai fluindo, natural, dos mais variados jeitos. O encontro humano se faz. E, quando a gente parte, fica um pouco do Brasil. Assim como, na bagagem, levamos também algo do lugar, das gentes.

Já na vida acadêmica ou política tudo parece tão difícil. A integração que se pensa é apenas econômica, abertura para o comércio. A língua é banida, sendo sempre imposta a da maioria, sem qualquer respeito à diferença. No mundo do comércio há o império do inglês e até os líderes governamentais acabam falando o idioma gringo quando visitam países estrangeiros. 

Poucos na América Latina fazem o que fez a professora Gladis Contreras, aparentemente perdida no povoado de Susques. Ela percebeu que uma integração não acontece por cima e deve, isto sim, começar na tentativa de compreender o outro, dando-lhe o devido espaço. Deve permitir que o outro apareça na sua diferença, que se explicite, que se diga na sua língua. Um e outro, tentando se entender. Um e outro aprendendo um do outro. 

Naquele dia passado em Susques, aprendemos que a vida naquelas alturas é difícil. Que Gustavo, o filho de Gladis, insiste numa velha tradição plantando no quintal de casa a quínua – um cereal típico das culturas autóctones, quase em extinção – e, com ela, faz deliciosas receitas que compartilha com sua gente. Aprendemos ainda que os homens do lugar ganham a vida nas salinas, no trabalho duro, na extração manual do sal, que extingue a saúde, que fere os olhos. Aprendemos que a palavra Susques (portal dos Andes) deriva do idioma quéchua, que o povo dali vivia do pastoreio e da agricultura e que, agora, já anda perdido de sua antiga forma de viver com as modernidades chegando.

E foi ali, na entrada para a cordilheira, que, numa noite de muita chuva, Miriam, Marcela  e eu, premiadas, uma com dor de dente e as outras com o mal das alturas, compartilhamos a vida, falando um pouco em português, um pouco em espanhol, trocando receitas, contando histórias. No meio da noite argentina, integrados, sem que para isso fosse necessária qualquer lei. Só o desejo infinito de compartilhar e compreender... 


quarta-feira, 20 de agosto de 2025

P&N 20 anos - Rubens Lopes



Rubens é jornalista e repórter fotográfico. Conheceu a Pobres quando morava em Minas e ela mudou seu rumo. Ele, que iniciou o curso de Letras, decidiu vir para Florianópolis fazer jornalismo. Veio, fez o curso e hoje faz parte da equipe da Pobres e Nojentas, atuando no Projeto Repórteres SC e colaborando com a fotografia sempre que necessário. Seu projeto de TCC no jornalismo foi justamente contar a história da revista e discutir o jornalismo praticado nela, um fazer que leva a marca de Adelmo Genro Filho e o compromisso com as pessoas das margens.


sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Ivani Borges, repórter


A jornalista Ivani Silveira Borges é a 30ª entrevistada do projeto Repórteres/SC. Nascida em Porto Alegre (RS), ela registrou que uma de suas referências na escrita era o avô paterno, que colaborava para um jornal de Pelotas. Formada pela PUC/RS, teve professores que fizeram história no estado, como Antônio Gonzáles.  

A mudança para Santa Catarina foi em 1975 para fazer parte da equipe do Santa, em Blumenau. Em Florianópolis, parte expressiva de sua trajetória foi em O Estado e em assessorias de imprensa em órgãos públicos de educação estadual.

Na entrevista, Ivani relembra episódios de sua trajetória, mas um deles ela contou na conversa mantida depois da gravação. Quando o cantor Gilberto Gil foi preso em Florianópolis por causa de um cigarro de maconha e outra pequena porção da droga, durante a passagem da turnê dos Doces Bárbaros pela capital em 1976, ela foi escalada para cobrir o depoimento do artista: “A entrevista que fiz foi quando eles levaram Gil e o baterista Chiquinho Azevedo para o Hospital São Sebastião dois dias depois. Tinha correspondentes de vários jornais do país e só eu de jornal de Santa Catarina, pelo O Estado. E Gil disse que só receberia o jornalista do jornal local. Não pôde entrar o fotógrafo. Gil estava tranquilo e até paparicado pelas enfermeiras, que fizeram pinhão para ele, ele não conhecia”.

Segundo Ivani, o que mais a satisfazia como repórter era denunciar as injustiças sofridas pelas pessoas, como os sem-terra, e pressionar as autoridades a dar soluções.

Na entrevista, Ivani também fala sobre a experiência de, já aposentada, trabalhar com o repórter fotográfico Orestes Araújo no Jornal de Barreiros, referência no jornalismo de bairro no estado, e de seus planos futuros de escrever livros.

A gravação e as fotos são de Rubens Lopes.

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Rua de afeto – Olavo Bilac

Atrás da árvore, a casa dos Parisi na Olavo Bilac, 2025. O prédio sobre a escada tomou o lugar da casa da nona

Velha casa da nona

Por Míriam Santini de Abreu

Casa é substantivo concreto, diz a classificação da língua portuguesa. Para mim, é abstrato. A pedra e a madeira de que são feitas têm alma. As casas são seres vivos. Elas nascem, crescem, envelhecem e morrem. As casas rangem, mudam de humor se está frio ou quente. As portas vergam, se expandem; as maçanetas enferrujam, o reboco se esfarela. As casas têm espírito.

Isso, dirão os descrentes, são apenas fenômenos físicos e químicos. É claro. Mas, desde o início dos tempos, somos, os humanos, fadados a interpretar, a dar sentido às coisas. Por isso nos custa tanto largar a vida, a vida que alimentamos também dentro de casa. 

Minha avó materna, Antonia, faleceu quando eu tinha 11 anos, e ainda estão no beco da Olavo Bilac, em Caxias do Sul, resquícios de meninices. A casa onde ela morava deu lugar a um prédio. Antes de a casa morrer, a tinta já havia há muito sumido; a madeira, de tão apodrecida, em alguns cantos se soltava ao toque dos dedos; as telhas só por milagre não despencavam do beiral. Nada restava, mas, contraditoriamente, restava tudo, porque ali estavam cristalizadas as minhas mais antigas memórias de infância. 

O sótão era o que mais me apavorava. Que medo quando os degraus de madeira cediam sob o meu peso e gemiam! E eu mesmo assim subia, atraída por um não sei o quê de mistério, de algo a ser secretamente revelado. Da janelinha eu via a rua, a solitária araucária na frente do terreno, e umas flores cujo nome não sei e nunca mais flagrei em jardim nenhum. Até as flores saem de moda. 

A nona morava na parte de cima da casa e eu, meus pais e meus dois irmãos no porão. A tremenda umidade do inverno da Serra Gaúcha atraía, para os nichos mais quentes daquelas velhas tábuas, uma fauna repelente. Eu, protagonista de estranhos feitos, fiquei famosa no beco por ter, sem querer, esmagado uma aranha caranguejeira ao correr de pés descalços. Vinham, esses bichos, da horta e da parreira atrás da casa, dois mundos a mutuamente se alimentar. Num dos canteiros eu enterrei, com uma sensação de triunfo, as adenóides extraídas de meu irmão do meio, trazidas dentro um pequeno vidro quando ele saiu do hospital. O Jardim das Adenóides. 

Na vizinhança, me embeveciam as lindas casas dos Scalabrin, dos Spada, dos Parisi, insuportavelmente sumarentas para a minha inveja agridoce. A mais amada era a casa de madeira rosa dos Parisi, rodeada por gramados e uma árvore até hoje de pé, ofertante de uma fava espinhenta que eu usava para brincar de pentear o cabelo e depois escondia num longo oco do tronco. É na frente da casa dos Parisi a minha foto com o adorado macacãozinho rosa, doado por alguém, cercada pelos meus irmãos e os dois irmãos Parisi, com o cachorrinho Dudi saltitando aos nossos pés.

Na garagem da casa dos Spada, com as irmãs Raquel e Rafaela, aprendi a ler e, na Escola Clemente Pinto, consegui entrar direto na primeira série com seis anos e sete graus de miopia. Foi rápido sair do “ivo viu a uva” para as deliciosas histórias da série Vaga-Lume. 

Visito vagarosamente a Olavo Bilac, da Marechal Floriano até a Rio Branco, quando vou a Caxias. A casa que parecia saída do filme “... E o vento levou”, perto da esquina com a Regente Feijó, cercada de árvores por quase meia quadra, virou um conjunto de torres tristes. Mas ainda estão ali a casa do Erni, que se fantasiava de Papai Noel no Natal, e a da Jacimara, onde nos juntávamos para brincar. Eu a percorro com uma euforia descontrolada e, às vezes, com uma pedra no peito. Mas chego em casa com aquele sentimento de fim de missa que me vinha quando a mãe, aos domingos, nos levava para a igreja. A sensação benfazeja de missão cumprida. De me percorrer na mais antiga rua dos meus afetos.

Casa dos Parisi, 1977, sob a árvore 

Na rua com meus irmãos, os Parisi e o Dudi, 1977


Casa dos Parisi com a velha árvore e os ocos esconderijos, 2025

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Ivani Borges no 30º episódio de Repórteres/SC





A jornalista Ivani Silveira Borges é a 30ª entrevistada do projeto Repórteres/SC. Nascida em Porto Alegre (RS), ela registrou que uma de suas referências na escrita era o avô paterno, que colaborava para um jornal de Pelotas. Formada pela PUC/RS, teve professores que fizeram história no estado, como Antônio Gonzáles.  

A mudança para Santa Catarina foi em 1975 para fazer parte da equipe do Santa, em Blumenau. Em Florianópolis, parte expressiva de sua trajetória foi dada em O Estado e em assessorias de imprensa em órgãos públicos de educação estadual.

Na entrevista, Ivani também fala sobre a experiência de, já aposentada, trabalhar com o repórter fotográfico Orestes Araújo no Jornal de Barreiros, referência no jornalismo de bairro no estado.

O vídeo está em edição e será divulgado com mais detalhes da trajetória de Ivani. As imagens são de Rubens Lopes.

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

A casa da Dona Lindu











Já havia anos que Rose queria conhecer o lugar onde Lula nasceria. Sempre admirara sua trajetória de menino pobre, nascido no agreste pernambucano, chegando a ser uma grande liderança na política. Tinha curiosidade de ver este espaço originário, em Garanhuns. Quando morou em Maceió, em 1994, antes ainda de ser eleito, fez uma tentativa. Uma estranha aventura pelas estradas de Alagoas, num potente Fusca, com amigos. Saíram cedinho atravessando o estado rumo a Pernambuco, mas, no meio do caminho foram parados pela polícia. Checam documentos, isso é aquilo, uma conversa estranha. O grupo falou que ia até Garanhuns ver onde nascera Lula. Foi o que bastou para os policiais fecharem a cara. Arranjaram uma irregularidade na lanterna e prenderam o carro. Queriam propina para liberar. Indignada, a turma não se prestou à chantagem. O carro ficou e todos tiveram de voltar para Maceió. Para fazer o veículo ser novidade outra, mas isso não importa, o fato é que não consegui ir até a terra do Lula. 

Passados 30 anos, Rose voltou para Maceió. Desta vez iria até Garanhuns e teve o cuidado de verificar tudo no carro para não sofrer outro “assalto” policial. Juntou os amigos Assis e Gracinha e lá foram eles pela estrada até Pernambuco. Desta vez aqui. Em poucas horas ficou diante da casa de Dona Lindu, mãe do Lula, lugar onde ela passou a viver depois de seu casamento com Aristides. Ambos muito jovens, Lindu com 20 anos, ele com 22. Juntos tiveram 12 filhos, quatro morreram. A casa de pau-a-pique está erguida no espaço onde então se erguera a casa original. É uma réplica, levantada por familiares que ainda vivem em Garanhuns. Tudo ali busca retratar o tempo difícil da família Silva. São 30 metros quadrados, pouquíssimos móveis, uma cama grande, um fogão de chão, o quadro de Jesus, as portas de madeira, as frestas no barro, a singeleza do sertanejo. 

Nos tempos da dona Lindu era preciso buscar água bem longe e a comida era escassa numa terra pouco fértil. Tinha muito trabalho, mas dinheiro que é bom, nada. E foi justamente por isso que Aristides migrou primeiro, sozinho. Depois, lá se foi Lindu com a penca de filhos numa viagem de 13 dias, em caminhão pau-de-arara. E o resto é história. 

Hoje, a vida por ali é diferente. O verde viceja e as famílias conseguem construir suas casinhas em material. As moradas têm cisternas, a água jorra, e as crianças têm escola. Quem conta sobre isso é o Jorge Rodrigues de Melo, vizinho da família Silva. Ele conheceu a gurizada toda e lembra que o pai muitas vezes deu comida para o Lula. Por tudo isso, todos têm muito respeito e admiração pelo agora presidente, filho da terra. “Se hoje a vida da gente tá melhor, é por causa do Lula”. 

A visita à casa da dona Lindu foi um dia de alegria para o trio que foi de Maceió. Rose e Gracinha, jornalistas, sempre caminharam na estrada da justiça e apostaram, desde 1989, na possibilidade da mudança com Lula. Assis, que nasceu no Piauí, é um viajante contumaz. Já chegou a fazer, à pé, o caminho de Teresina até Brasília, também percorreu vários rios, permanecendo, sozinho, sempre desafiando seus limites. Quando Lula esteve preso ele foi dar seu apoio, primeiro em Brasília, depois em Curitiba. Como homem das terras esquecidas do norte, tem muito amor pela figura do Lula, pelo que ele foi e pelo que conseguiu vencer. Por isso, foi o que mais se emocionou ao conhecer a casinha de barro onde Lula nasceu. Não está ligado ao partido político, ao PT, nada. É só esse profundo sentimento de amor pelo nordestino que venceu a fome, a miséria e hoje faz muito pela sua gente. 

O encontro com o vizinho da família, o depoimento sincero do seu Jorge e a imagem da casinha despojada de quase tudo reforçou no trio de amigos o desejo de que toda a esperança depositada no presidente se faça real. Que o governo cuide de seu povo, que mude o que não presta e que garanta vida boa e bonita para toda gente. Nestes dias em que a bandeira dos Estados Unidos é intercalada nas ruas por chamados “patriotas” que celebram as avaliações de Trump contra o Brasil, Rose, Assis e Gracinha trazem de volta às retinas o cenário do agreste, da família Silva, e espera que Lula, o filho de dona Lindu, convoque o povo para mudar o Brasil. Não no discurso, na prática. 


quarta-feira, 6 de agosto de 2025

P&N 20 anos/ Leo Nogueira Paqonawta



Leo é publicitário e professor dos anos iniciais. Desde os primeiros passos da Pobres e Nojentas caminhou com equipe desenhando as artes relacionadas aos projetos desenvolvidos, fazendo capas de livro, produzindo material das campanhas. Companheiro de primeira hora também já foi retratado em reportagem dentro da revista por seu trabalho em prol da paz. Até hoje, sempre que a gente precisa de uma arte ele está à postos, participando e criando com amor e entusiasmo. Somos gratos por essa parceria. 

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Raquel Ribeiro, escritora

Raquel Ribeiro veio ao mundo em Juiz de Fora, Minas Gerais, mas só nasceu. A mãe já morava no Rio de Janeiro, mas buscou ter Raquel junto aos pais que viviam em Minas. Logo em seguida ao nascimento, a família voltou para casa, em Botafogo, e foi lá que Raquel viveu até os 20 anos. Já bem menina ensaiava palavras escrevendo histórias em quadrinho, as quais buscava vender na rua. 

O diário que recebeu de presente da avó foi o nascente de novas escritas. Todos os dias um texto. Por isso, quando chegou a hora de escolher a faculdade optou por Comunicação e Letras. Fazia as duas. Mas, ao conhecer um fotógrafo decidiu trancar Letras e encerrar de vez o curso de Comunicação para que pudessem trabalhar juntos. Seu caminho natural então foi o jornalismo, atuando em grandes projetos como a revista Ícaro, da Varig, sempre em parceria com Veiga, o fotógrafo.

Sua primeira história infantil nasceu quando morava em Porto Alegre. Sua intenção foi ganhar um prêmio literário. Não deu certo, então decidiu engavetar o projeto. Mais tarde, já num novo casamento, foi viver no campo e lá surgiu uma nova história, a qual ela deu vida, publicando pela primeira vez. Desde aí, não parou mais. Seus temas tratam da natureza e da vida mesma. E alguns de seus livros também servem para os adultos discutirem temas difíceis com as crianças, como a morte e a doação de órgãos. 

Morando em Florianópolis há nove anos Raquel continua observando o mundo com olhos cheios de alumbramento. As histórias seguem morando nela, ainda que agora esteja mais focada em divulgar o trabalho já feito. São sete livros publicados e caminhantes. 

Neste episódio de Conversas na Tiradentes ela conta de sua vida, da relação com os ilustradores e de sua obra.