Miriam e eu
Jussara Godoi - musa inspiradora
Por elaine tavares
A vida passa num incrível turbilhão quando a gente está por
aí, envolvida com as lutas sociais, com as batalhas pela cidade que amamos, com
as dores e alegrias cotidianas. Então, ontem, indo para uma entrevista, Miriam
e eu começamos a falar alguma coisa da Pobres e, num átimo, percebemos: em maio
desse ano a Pobres e Nojentas – revista que criamos em 2006 – completa 10 anos
de existência.
Era uma dessas manifestações de luta no centro da cidade e
nós encerramos o dia na padaria Brasília, que ficava ali, em frente à Praça XV.
Era comum tudo acabar num café regado a memórias da batalha recém-vivida.
Falávamos então do jornalismo, cada dia mais idiotizado em revistas como a
Caras – especializada em falar da vida dos ricos anônimos. Aí, nossa musa –
Jussara Godoi – deu a ideia. Por que vocês não criam uma revista que fale dos
pobres, mas dos pobres nojentos, esses que não se entregam por estarem
empobrecidos e vão pela vida afora, nariz erguido, rompendo as cercas?
Foi a dica para o projeto. E, em maio de 2006 saiu o
primeiro número da revista que ousamos chamar de Pobres e Nojentas, buscando
mirar o mundo não só a partir da mulheridade, o feminino, mas também da classe.
Nossa revista nascia com uma escolha: era uma revista de classe. Da classe
trabalhadora. Pobres e Nojentas, um título pedagógico, difícil, “não vendável”
como nos alertavam os amigos. A intenção era provocar o desconforto, chamar ao
debate. Pobres, porque vítimas do sistema capitalistas, mas Nojentas, porque
falaria dessa comunidade que, mesmo solapada pelo sistema capitalista, erguia a
cara e enfrentava o mundo, na luta, na garra.
A ideia tomou corpo e a revista começou sua caminhada. Nas 28
páginas de cada número, a vida dos que realmente fazem o mundo andar.
Movimentos sociais, sindicalistas, trabalhadores comuns, artistas populares, heróis
e heroínas nacionais e latino-americanas, notícias do mundo sempre na
perspectiva de classe. Na Pobres saíam as notícias que nenhum veículo comercial
dava, apareciam as pessoas que não interessavam aos meios de massa. E a revista era distribuída nas
comunidades e no terminal urbano, gratuitamente.
Resistimos em papel até o número 30 (DEZ/2013), uma vez que
contávamos apenas com o apoio solitário do Sindprevs/SC e todos os custos saiam
do nosso bolso. Sem a ajuda do bloco da esquerda, tivemos de suspender as
impressões, mas a Pobres e Nojentas seguiu no mundo virtual através do blog: www.pobresenojentas.blogspot.com.
Nosso compromisso com a cidade, com os trabalhadores, com a vida digna fez com que
driblássemos as dificuldades e seguíssemos fazendo a cobertura daquilo que os
poderosos querem ver escondido.
A Pobres tem edições históricas, como uma especial sobre
Cuba, a cobertura do Plano Diretor, o debate sobre o Costão Golf, a luta pela
moradia, a questão indígena, as transformações na América Latina, e tantos
outros temas de importância vital para a vida dessa nossa amada Meiembipe.
Esse ano, percorrida uma década de vida da Pobres a gente vai sentar em alguma outra padaria – deve ser a do Alemão, lá no final da Conselheiro - para tomar café com pão e manteiga e conspirar sobre uma edição especial em papel. Vamos juntar os parceiros e parceiras de tantas edições, como a Marcela Cornelli, o Ricardo Casarini, a Raquel Moysés, a Rosângela Bion de Assis, a Sandra Verle, o Moacir Loth, o Celso Vicenzi, o Raul Fitipaldi, o Rubens Lopes – e a musa Jussara Godoi – para partilhar desse lindo aniversário.
Ao fim e ao cabo é bom saber que caminhamos dez longos anos
nessa cidade, visceralmente comprometidas com as gentes, sem nunca claudicar.
Quanto orgulho tenho dessa “pobrezinha”, que segue nojenta e insuportável, contando
as histórias, desvelando a vida. Quanta alegria tenho de ter apostado nesse
projeto com uma galera tão especial.
Viva a Pobres e Nojentas! Viva nossa revista de classe! Viva
a luta dos trabalhadores!
E que venha mais uma década, porque a luta não para!
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