votação do Plano Diretor em Florianópolis
por elaine
tavares
A guerra de
torcidas entre os partidários de Moro e de Lula tem escondido algo muito mais
precioso do que os nomes dos que receberam propina da grande empreiteira
global, Odebrecht. É nada mais nada menos do que a prova concreta daquilo que
podemos chamar de "ditadura do capital". Um pouco o que o candidato
estadunidense Bernie Sanders vem tentando dizer na sua inusitada campanha bem o
centro nervoso do sistema.
É também a
comprovação de algo que até então estava apenas no discurso dos
"comunistas" (para o senso comum qualquer um que critique o sistema),
como mais uma de suas loucuras. Ou seja,
a dita democracia burguesa não é democracia. Ela é o espaço no qual reina a bem
camuflada ditadura econômica. Sim, eu disse ditadura. Esse "fantasma"
que, na boca dos "democratas" só existe nos espaços de seus inimigos.
Pois essa bem azeitada ditadura do capital usa os deputados, senadores,
prefeitos, governadores, vereadores, em sua maioria quase absoluta, para representar
os interesses de grandes grupos econômicos e não os da população que o elege.
A tão
incensada democracia liberal - que o presidente Obama fez questão de dizer em
Cuba que é "melhor do que a ditadura de um home m só" - é um grande
engodo. Nela, o império é o do dinheiro. Quem tem a "plata" investe em
pessoas que vão defender seus interesses como se estivessem defendendo os
destinos de toda a nação. Por isso, uma boa estudada na conformação das
bancadas legislativas das cidades, dos estados e dos países, e vamos ver que o
que ali está em jogo são as necessidades do grande capital, seja ele produtivo
ou financeiro. Muito pouco está em pauta o desejo da maioria da população. Não
é sem razão que numa cidade como Florianópolis, por exemplo, enquanto milhares
de pessoas se manifestam em frente à Câmara de Vereadores contra a proposta de
um Plano Diretor que destrói a cidade , a maioria dos legisladores vota às
pressas e sem discussão um plano que só será bom para as grande empreiteiras,
os bancos e os empresários do turismo. Essa é a lógica.
A lista da
Odebrecht e suas centenas de nomes não deve ser diferente de outras tantas
listas que poderíamos descobrir em outras empreiteiras, ou bancos, ou
federações de empresários. Essa gente é quem tem o controle do país, e paga
generosamente por isso. Assim, bancadas como a da bala, do boi ou da bíblia, no
Congresso Nacional, para além de seus interesses particularistas - que também existem - escondem também a
manipulação da política para favorecer a manutenção do sistema capitalista,
concretizado pelas grandes empresas e bancos. Tudo está ligado. Nesse universo
perverso salvam-se alguns legisladores que, por suas lutas e por suas ligações
viscerais com as comunidades onde vivem, apenas se configuram em exceções à
regra.
A lista da
Odebrecht é só a ponta de um escândalo maior, que é o da farsa da democracia.
Ela não existe. É apenas uma palavra, que os governantes usam como arma contra
os que decidem organizar a vida de outra forma, e que sejam seus inimigos.
Porque pensem bem: que diferença há entre a organização da vida de Israel para
o Irã. Ambos os países são teocráticos, governam em nome de uma verdade
revelada desde cima, um deus. Mas, Israel é amiga dos EUA, então pode.
E Cuba? Como
pode um arrogante como Obama ir arrotar na cara dos cubanos que a democracia
dele é melhor? Ou que Cuba não tem democracia? Os legisladores cubanos são
eleitos em eleições onde a propaganda eleitoral não existe. O candidato tem de
ser alguém que atua de verdade na comunidade e, por isso, é conhecido pelas
gentes. Ali a ditadura é outra. É a da maioria dos trabalhadores, dos que vivem
a vida cotidiana e decidem nela.
Já na
democracia liberal, do Obama e a nossa, a ditadura é a do capital. São
ditaduras diferentes, com objetivos diferentes. Uma visa o bem de todos e outra
visa o enriquecimento de alguns. Nós estamos aí no meio desse rolo e cabe a nós
decidirmos em qual delas é melhor viver.
Há os que ingenuamente
acreditam que na ditadura do capital há chances para todos, e que se
trabalharem muito, "chegarão lá". Sim, pode ser que sim. Mas serão
poucos, muito poucos. Nesse tipo de sistema - a democracia liberal ou a
ditadura do capital - o jogo é entre os "cachorros grandes", não
tenha ilusão.
Assim que ao
fim e ao cabo, a lista da Odebrecht, que contempla políticos de quase todas as
cores - lembrem-se das honrosas exceções - é uma boa oportunidade para que as
pessoas saiam do âmbito da consciência ingênua e se deparem com a verdade nua.
A de que os que fazem as leis, os que julgam, os que comandam, nada mais são do
que mandaletes dos graúdos. E contra eles só tem um jeito: povo crítico, unido
e em luta.
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