Elaine Tavares
Tenho gravada nas retinas e no coração
as imagens dos natais da minha infância. No início do mês de dezembro minha mãe
começava a preparar a construção do presépio. Era uma tradição. Nós, os três
filhos, participávamos organizando os personagens da famosa noite em que nasceu
Jesus. A família, os bichinhos, os pastores, os reis magos, a estrela. A coisa
levava o mês todo. Havia a árvore de natal, mas ela era absolutamente
secundária. Porque minha mãe reverenciava o menino e não o Papai Noel. Naqueles
dias, no interior do Rio Grande, o capitalismo selvagem ainda não tinha chegado
com toda a sua força. Depois, eu cresci, e segui a velha tradição. Todo o natal,
monto o presépio com todos os seus personagens. Passo o mês inteiro esperando
pelo dia do aniversário desse adorável deus-menino.
Sempre há os que dizem que ele (esus)
não existiu, que é uma invenção de Paulo. A mim não importa. Tudo que sei é que
as histórias que dele se contam, das coisas que ensinou, amparam minha prática
de vida. Jesuânica. Por isso o natal segue sendo importante pra mim. Não que eu
precise de um dia específico para lembrá-lo ou falar dele. Mas é um aniversário
e é sempre bom celebrar.
Não gosto dessa onda de Papai Noel. Sua
figura bonachona, de bom velhinho que vinha visitar as crianças na noite do
grande advento perdeu o sentido. Santa Klaus não gostaria de saber o que fizeram
dele. Agora, natal significa consumo, louco, desenfreado. Nas telas da TV tudo o
que se fala é da porcentagem do aumento das vendas e nas ruas já começa o
frenesi dos pacotes. Impossível andar pelo centro.
Eu não dou presentes no natal. Busco o
refúgio interior e o encontro com a idéia de Jesus, o cara do aniversário.
Também conspiro com as demais culturas originárias do hemisfério sul que
celebram o solstício de verão. Faço minhas cerimônias, minhas rezas e
celebrações. No dia do solstício, que é o 21, o sol parece ficar estacionado no
céu. O dia é longo e a gente faz reverências àquele que nos dá calor e propicia
a vida. Kuaray.
Então, natal é isso: festejar a vida.
Celebrar com os que amamos a idéia de que o mundo precisa ser justo, que as
riquezas devem ser repartidas, que as pessoas precisam ser solidárias e
amorosas. É dia de comungar com os ancestrais, com a natureza, com a vida que
vive. Dia de agradecer por poder estar neste lindo jardim. Se há algo a
presentear, que seja essa ideia, de que o natal não é um dia para comprar
presentes impessoais, impostos pelo mercado capitalista. O natal é dia de
armarmos nosso presépio interior, com todos os personagens do nosso grande
advento.
Aqui em casa ele já está montado, no
alpendre e em mim... Feliz Natal... Feliz Solstício... !!! Porque esse 21 será
ainda mais especial. Começa um novo giro cósmico. Outro pachakuti. Recomeços,
re-nasceres...
Nenhum comentário:
Postar um comentário