sexta-feira, 13 de maio de 2011

O cheiro que tem os homens quando trabalham

Míriam Santini de Abreu

Dia desses um colega comprou um desodorante e pediu minha aprovação para o aroma.
- Sou suspeita - respondi.
- Por quê? - perguntou ele.
- Porque cheiro de axila não me incomoda.
Ele, pasmo, comentou:
- Então tu não te importa de ficar em ônibus lotado, num final de dia de sol, no verão?
Respondi que não era bem assim. Mas é fato que o cheiro de suor invoca alguma lembrança remota em mim, boa, a ver com esforço, tenacidade. Gosto dos braços masculinos, especialmente aqueles musculosos por causa de esforço, trabalho físico, não os malhados em academia. Braço de homem, suor de homem, e nas veias correndo tempestade.
Meu pai, três vezes por semana, de manhã, trabalha em um pequeno restaurante - perto de minha casa em Caxias - onde prepara, espeta e assa a carne a ser servida no almoço. Uma manhã em que estava de visita por lá, fui dizer a ele que iria ao centro da cidade e dei um beijo em seu rosto, úmido pelo esforço e calor, e tão salgado como sal puro. Fiquei tocada, como fico agora quando lembro da cena. O cheiro e o gosto de quem a gente ama são bons. Suados ou não.
Recordo do trecho de uma música: "o cheiro que tem os homens quando trabalham".

http://www.youtube.com/watch?v=QxpZdxpe0Mo&feature=related


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