Por Marcela Cornelli

O jornalista, professor e fundador da Telesul, Aram Aharonian, participou da 7ª edição das Jornadas Bolivarianas, realizadas pelo Instituto de Estudos Latino Americanos (Iela), de 4 a 7 de abril, no auditório da Universidade Federal de Santa Catarina. Aram falou sobre a mídia e o imperialismo.

“Há 40 anos as práticas nas universidades são as mesmas, repetem os mesmos livros e não dão conta. Formam jornalistas que não sabem onde vivem e qual a posição social ocupam na sociedade”, criticou o palestrante. Para ele, a comunicação social que se diz alternativa, a exemplo da comunicação sindical, precisa romper paradigmas. Precisa saber a que ela é alternativa. “A comunicação alternativa, sindical, é considerada marginal. Ela tem que deixar de ser marginal, de ficar às margens, precisa se massificar para chegar às gentes e ser realmente alternativa a essa hegemonia que ai está”, ponderou Aram.

O professor ressaltou que, antes o capitalismo usava a força física para a dominação dos povos, agora usa a força midiática da indústria cultural. “Eles (os capitalistas) nos dizem o que é democracia e como ela deve ser. Há 30, 40 anos, se necessitava das forças armadas para se impor o modelo político, econômico e social capitalista. Hoje, o capital entra nas nossas casas com uma imagem única através dos noticiários, utiliza-se da cultura de massa”.

Para o professor, a idéia de que a mídia seria o quarto poder e fiscalizaria o legislativo, o judiciário e o executivo já caiu por terra. “Hoje, a mídia não é mais o quarto poder e sim o primeiro poder. E quem vai fiscalizar a imprensa se ela é o primeiro poder?” Para o palestrante, o que se busca hoje na mídia é “conseguir consumidores ou cordeirinhos políticos e religiosos, não formar cidadãos”.

Sobre o que está acontecendo na Líbia, por exemplo, Aram disse que a mídia está usando a tese de que em nome de salvar a humanidade é necessária uma intervenção do imperialismo naquele país. Assim como no Iraque Bush invadiu em nome das possíveis armas químicas, Obama agora invade em nome de proteger civis. “A primeira vitima é da guerra é a verdade”, disse.

Dominação cultural

“Na América Latina, a mídia nos mostra louros, altos e de olhos claros. Não mostra a diversidade. Nós, latino-americanos, já não nos reconhecemos mais”, afirmou o professor. “Não adianta criarmos novos canais se continuarmos reproduzindo os conteúdos. Os conteúdos têm que mostrar nosso povo, nossa história, nossos sonhos. Hoje a mídia pauta os movimentos. Isso precisa mudar. São os movimentos que precisam pautar a mídia. Por exemplo, a Telesul (rede pública de TV Venezuelana criada no governo de Hugo Chavez) não pode ser uma versão da CNN em espanhol. Deve cobrir fatos que antes eram ocultados. Deve ter uma produção própria”, declarou.


Aram observou que na mídia burguesa o conteúdo é 90% de entretenimento. Porém, ressaltou que de nada adiantam TVs novas, novas rádios, novos jornais se estes continuarem passando o mesmo conteúdo e copiando os mesmos projetos imperialistas. Para ele, a imprensa sindical dvee ampliar a discussão e sair da marginalidade. “É preciso ocupar os espaços públicos”. Não adianta a imprensa sindical ficar restrita aos jornais das entidades sindicais. Aram também defendeu que a comunicação sindical precisa se profissionalizar e investir na formação dos seus jornalistas.