O que eu aprendi, nesta minha vida, é que o Deus (ou Algo) é uma luz tão fina, tão minúscula, que quase não a percebemos: uma névoa, um perfume de prímula, um abismo. É uma luz invisível, sem dúvida, e que fica mais próxima de nós que nossa jugular. Uma luz, sim, o Deus (sem o peso do vocábulo Deus) que não podemos ver, mas o sentimos onde apenas as palavras – com sua pouca matéria – podem entrar e fecundam nosso chão imaterial. Uma luz como se fosse uma casa. Este Deus ou Algo não é matéria nem não-matéria, mas uma constante possibilidade. Se estou diante do mar, por exemplo, percebo que o mar só existe por minha causa. Sem mim ele fica confuso e tristemente salgado. Daí eu sou um Deus para o mar e o mar ora pra mim com sua voz líquida. Inscape: aquilo que eu olho atentamente, olha atentamente pra mim. Nunca esquecer que a palavra Deus, em sânscrito D’jeus, significa lua cheia. E a lua só é cheia se iluminada pelo sol. Deus é quando a luz de nossa consciência alumia algo muito humilde ou reverente, sim, pois a lua nada mais é que oxigênio (O2) seco altamente concentrado. E a consciência, sabe-se, não tem cheiro nem gosto, e depende de nossas palavras para vir à tona – de nossas palavras tocadas pela emoção – porque só a emoção pressente alguma coisa. "O que em mim sente está pensando", diria a pessoa do Fernando Pessoa. O que seria a lua sem o sol? Uma humilde ou reverente Deusa no escuro à espera da carícia nupcial. Contudo o sol precisa desta Deusa pra mostrar o quanto são belas suas vibrissas luminosas. Deus sempre é, mas nunca vem a ser, nem deixa de ser. Isto quer dizer que Deus é um desenho de leão no muro branco: que sempre é, pois ali está desenhado no muro branco, mas nunca vem a ser, porque um desenho não pode ser comparado a um leão vivo, nem deixa de ser um leão, posto que ao vislumbrarmos o desenho do leão no muro branco despertamos o leão em nossa alma; alma que os gregos chamavam apenas de brisa suave.
sexta-feira, 18 de março de 2011
A luz é uma casa
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