domingo, 3 de fevereiro de 2008

Solaris

Míriam Santini de Abreu

Impossível terminar a leitura de Solaris, de Stanislaw Lem, sem um nó na garganta. É ficção científica da melhor qualidade, e uma reflexão aguda sobre as “sedes” que a espécie humana não consegue saciar. Na história escrita pelo polonês em 1961, o “outro”, o alienígena, não é um ser com forma mais ou menos humana, engraçada ou assustadora. É completamente diferente: em vez de “homenzinhos verdes”, um gigantesco oceano de plasma pontilhado de ilhas é que se estende por toda a superfície de Solaris.

Quando o astronauta Kelvin chega ao planeta - que é um quinto maior que a terra - para um missão, encontra desordem na estação espacial e nos terráqueos que nela habitam. O caos é material e psíquico. Um dos homens morreu, outro parece não reconhecê-lo e um terceiro se recusa a manter contato com outros seres humanos. Não precisa muito tempo para Kevin entender o motivo do horror de seus companheiros. Ele descobre que o planeta tem duas formas de se comunicar com os visitantes da Terra. Uma é criar gigantescas formas de plasma que recebem nomes como mimóides e simetríades. Outra, muito mais inquietante, é materializar os pensamentos dos humanos. O astronauta Snow resume bem o significado dessa forma de comunicação do oceano de Solaris: “Portanto, você compreende que devem existir coisas... situações que ninguém ousa materializar e que o pensamento engendrou de maneira acidental, num momento de loucura, de alucinações, chame como quiser. Na etapa seguinte, a idéia se materializa. É isso".

O leitor do livro tenta imaginar qual o pensamento que mais tentou enterrar, que mais desejou não ter pensado... Pode ser o puro horror, a pura beleza. Pois os personagens da história precisam enfrentar ou esse horror, ou essa beleza, plenamente materializados na estação Solaris. Seria isso um presente do oceano para os humanos que o visitam? Ou uma forma brutal de vingança?

Num tempo em que astronautas de verdade consertam naves em pleno espaço, que sondas construídas pelos humanos chegam a planetas distantes, outra reflexão do personagem Snow é reveladora:“Só nos interessa o homem. Não precisamos de outros mundos. Precisamos de espelhos. Não sabemos o que fazer dos outros mundos. Um único mundo, o nosso mundo, nos é suficiente, mas não o aceitamos como ele é. Procuramos uma imagem ideal do nosso próprio mundo. Saímos à procura de um planeta, de uma civilização superior à nossa, mas desenvolvida na base do protótipo do nosso passado primitivo”.

No livro, a incapacidade de compreender o planeta e sua forma de vida tão diferente leva os astronautas a pensarem em destruí-lo. Os três homens reproduzem em Solaris o que, na Terra, geralmente caracteriza o olhar e o modo de agir na relação com o diferente. A história de Stanislaw Lem foi filmada pelo russo Andrei Tarkovski (1971) e pelo estadunidense Steven Soderbergh (2002). Nesse último, disponível nas locadoras, o papel principal é de George Clooney. Mas o livro é bem mais desconcertante.

STANISLAW LEM. SOLARIS. RIO DE JANEIRO: RELUME DUMARÁ, 2003. 269 PÁGINAS.

Um comentário:

diego costa disse...

gostei da sua definiçao sobre solaris é bem esse desconcerto de ideias que prevalece no livro.TENHO QUE TERMINA-LO DE LE-LO HOJE PARA DAR MINHA EXPLICAÇAO SOBRE ESSA FICÇAO PARA RECBER UMA NOTA DE 1 A 5