Míriam Santini de Abreu
Foi sem alarde que o Grupo RBS fechou o suplemento AN Capital, que circulava na Grande Florianópolis dentro do jornal A Notícia, com sede em Joinville, comprado em 2006 pela empresa gaúcha. Não é de causar espanto o silêncio da empresa; incomoda, sim, esse silêncio da sociedade, por assim dizer. Não se viu manifestação, cartaz, faixa, protesto. Nada. Somente o Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina e a Direção da Federação Nacional dos Jornalistas emitiram uma nota de repúdio, protocolar, que teve mais repercussão entre os próprios jornalistas.
O AN Capital tinha charme; começou em formato standard, depois virou tablóide; apesar de menor, oferecia notícias que o então concorrente, o DC, não dava. A falta de saneamento em vários bairros da Capital, a situação precária de escolas, as agressões à natureza por causa da especulação imobiliária, eram assuntos freqüentes no suplemento. Os textos muitas vezes fugiam do padrão dos manuais de jornalismo, sem aquela cara de “drops informativo” da maioria dos veículos impressos.
Na época da transação entre a RBS e os então proprietários de A Notícia, diz a nota da FENAJ, a redação contava com cerca de 30 jornalistas. Quando a empresa anunciou a última edição, em 31 de janeiro de 2008, alegando questões financeiras, havia apenas 12. Além de questão do desemprego de profissionais com experiência, outro fato lamentável é que a RBS consolida uma posição discursiva privilegiada: dona de emissoras de rádio, de tevê e de jornais, ela é a grande fonte de interpretação da realidade social, espacial, política, econômica, do Estado. Santa Catarina vai se ver pelos “olhos” da RBS, que vai consolidar uma certa memória das coisas a dizer, filmar e escrever sobre SC.
Mais do que isso, houve um “apagamento” de arquivos. Quando a compra do jornal A Notícia foi concluída, uma das medidas do novo proprietário foi fazer a migração do Portal AN, que tinha suas páginas indexadas no Google, o que permitia a pesquisa por tema ou palavra, para outro provedor, o que limitou a série histórica já consolidada. Segundo a página do Sindicato dos Jornalistas, "as matérias publicadas entre 1998 e o final de 2004 somente podem ser encontradas pela data de publicação, o que praticamente inviabiliza a pesquisa jornalística".
O fechamento do AN Capital e a falta de reação social ao fato revelam o quanto o mergulho na indiferença é fundo e sufocante. Nesse mundo de fluidez incessante, parece não haver tempo suficiente para festejar a vida do que nasce, lamentar a finitude do que morre e, mais do isso, expressar a revolta pelo que vai deixando de existir por causa do lucro e em nome do “negócio”. Nesse tempo sombrio, ninguém se ilude esperando um estrondo, mas é triste saber que as coisas, as vidas, os projetos, as idéias, morrem sem evocar nem mesmo um suspiro.
Para saber mais, leia o artigo "RBS expande seus domínios", escrito por Jacques Mick em 28 de agosto de 2007: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=448IPB002
Nenhum comentário:
Postar um comentário