quinta-feira, 30 de maio de 2019

15 outonos de "Jornalismo nas margens"



Completam-se quinze anos de “Jornalismo nas margens: uma reflexão sobre comunicação em comunidades empobrecidas”, da jornalista Elaine Tavares. Era outono de 2004 quando ela lançou o livro, de 48 páginas.

E neste outono de 2019, precisamente amanhã (31), às 9h30, na Sala dos Conselhos do CSE da UFSC, Elaine defenderá sua tese em Serviço Social, sob a orientação da professora Beatriz Augusto de Paiva, com o título “Terra e território na América Latina: desafio indígena na era do capital”. São dois ciclos que se encontram.

O tempo vai passar e “Jornalismo nas Margens” será um clássico, trazendo um conceito inovador, o de jornalismo libertador. Ao longo de cinco capítulos do livro, Elaine reflete sobre o jornalismo não hegemônico, feito às margens, voltado para a grande parcela da população que está abandonada pelo poder público. Entre os autores citados despontam diferentes formas de nomear: folkcomunicação, comunicação alternativa, comunicação popular. Em todas elas a “comunidade” aparece como elemento que desencadeia essa forma de comunicar e, assim, a autora, ao pensar sobre o significado da palavra comunidade, traz uma reflexão fundamental: a imprensa comunitária não é produzida somente pela e para a comunidade. Ela também se faz com a comunidade.

Esse ponto de vista faz nascer o conceito que conduz os pensares dos outros quatro capítulos: jornalismo libertador. Para isso, Elaine busca raízes na Filosofia da Libertação, especialmente no que para ela contribuiu o filósofo argentino Enrique Dussel. A autora traz, para o jornalismo, uma forma de pensar o mundo a partir dos oprimidos, de narrar a vida a partir da consideração de cada ser como único, diferente, mas real. Entra em cena o papel do próprio sujeito-jornalista, que precisa refletir sobre o comprometimento com certas realidades que são negadas ou distorcidas pelo poder público e pela grande imprensa.

A autora discute esses aspectos no capítulo 3, no qual deixa claro que jornalismo é serviço público e nada tem de “neutro”. Segue pela vereda aberta por Adelmo Genro Filho e mostra que essa ótica libertadora não vale apenas para iniciativas feitas nas comunidades. Ela pode ser colocada em prática nos meios hegemônicos e chegar a um público maior e difuso, entre o qual possa despertar reflexões.
Outro aspecto levantado por Elaine é a necessidade de o jornalista olhar o mundo a partir do ponto de vista local. No capítulo 4, são desenvolvidos aspectos da notícia popular, que necessariamente precisa ligar os acontecimentos do lugar com o regional, o nacional, o mundial, e vice-versa, contextualizando e discutindo o significado dos fatos para a comunidade no qual eles repercutem, fazem sentir seus efeitos. No livro, a autora afirma que um dos pressupostos do jornalismo libertador é “(...) desvelar o cotidiano que cerca o viver daqueles que estão à margem” (p. 25).

No capítulo 5, a autora oferece caminhos para colocar a teoria em prática, discutindo as vantagens e as diferentes opções de veículos que podem ser usados nas comunidades. É certo que “Jornalismo nas margens”, ao dar corpo ao conceito de jornalismo libertador, inspira narrativas e jornalistas comprometidos, dispostos, como aponta Elaine, a “dizer o dizível e o indizível, ser capar de ver o que está além dos olhos, narrar, descrever, contar a história”, ajudar, enfim, a narrar e construir um tempo novo.


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