Completam-se quinze anos de “Jornalismo nas margens: uma
reflexão sobre comunicação em comunidades empobrecidas”, da jornalista Elaine
Tavares. Era outono de 2004 quando ela lançou o livro, de 48 páginas.
E neste outono de 2019, precisamente amanhã (31), às
9h30, na Sala dos Conselhos do CSE da UFSC, Elaine defenderá sua tese em Serviço
Social, sob a orientação da professora Beatriz Augusto de Paiva, com o título “Terra
e território na América Latina: desafio indígena na era do capital”. São dois
ciclos que se encontram.
O tempo vai passar e “Jornalismo nas Margens” será um
clássico, trazendo um conceito inovador, o de jornalismo libertador. Ao longo de cinco capítulos do livro, Elaine reflete
sobre o jornalismo não hegemônico, feito às margens, voltado para a grande
parcela da população que está abandonada pelo poder público. Entre os autores
citados despontam diferentes formas de nomear: folkcomunicação, comunicação
alternativa, comunicação popular. Em todas elas a “comunidade” aparece como
elemento que desencadeia essa forma de comunicar e, assim, a autora, ao pensar
sobre o significado da palavra comunidade, traz uma reflexão fundamental: a
imprensa comunitária não é produzida somente pela e para a comunidade. Ela
também se faz com a comunidade.
Esse ponto de vista faz nascer o
conceito que conduz os pensares dos outros quatro capítulos: jornalismo
libertador. Para isso, Elaine busca raízes na Filosofia da Libertação, especialmente
no que para ela contribuiu o filósofo argentino Enrique Dussel. A autora traz,
para o jornalismo, uma forma de pensar o mundo a partir dos oprimidos, de
narrar a vida a partir da consideração de cada ser como único, diferente, mas
real. Entra em cena o papel do próprio sujeito-jornalista, que precisa refletir
sobre o comprometimento com certas realidades que são negadas ou distorcidas
pelo poder público e pela grande imprensa.
A autora discute esses aspectos no
capítulo 3, no qual deixa claro que jornalismo é serviço público e nada tem de
“neutro”. Segue pela vereda aberta por Adelmo Genro Filho e mostra que essa
ótica libertadora não vale apenas para iniciativas feitas nas comunidades. Ela
pode ser colocada em prática nos meios hegemônicos e chegar a um público maior
e difuso, entre o qual possa despertar reflexões.
Outro aspecto levantado por Elaine é a
necessidade de o jornalista olhar o mundo a partir do ponto de vista local. No
capítulo 4, são desenvolvidos aspectos da notícia popular, que necessariamente
precisa ligar os acontecimentos do lugar com o regional, o nacional, o mundial,
e vice-versa, contextualizando e discutindo o significado dos fatos para a
comunidade no qual eles repercutem, fazem sentir seus efeitos. No livro, a autora afirma que um dos pressupostos do
jornalismo libertador é “(...) desvelar o cotidiano que cerca o viver daqueles
que estão à margem” (p. 25).
No capítulo 5, a autora oferece caminhos
para colocar a teoria em prática, discutindo as vantagens e as diferentes
opções de veículos que podem ser usados nas comunidades. É certo que
“Jornalismo nas margens”, ao dar corpo ao conceito de jornalismo libertador, inspira
narrativas e jornalistas comprometidos, dispostos, como aponta Elaine, a “dizer
o dizível e o indizível, ser capar de ver o que está além dos olhos, narrar,
descrever, contar a história”, ajudar, enfim, a narrar e construir um tempo
novo.
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