domingo, 28 de setembro de 2008

Esmeraldas tristes

Míriam Santini de Abreu
As esmeraldas que ornamentavam o corpo, a roupa e a casa dos ricos, quando o Egito era parte do Império Romano, eram arrancadas das minas de Sikait-Zabara, perto do Mar Vermelho. Naquele início da Era Cristã, tal como hoje, as gemas verdes alimentavam o comércio e a vaidade. As preciosas pedras sumiram, mas estão lá os túneis estreitos de Sikait-Zabara, onde ainda hoje um homem mal consegue rastejar. Sob a rocha e a areia do deserto ficaram apenas cacos de antigos objetos usados pelos que mourejaram e morreram no anonimato. Terá vivido pouco aquela gente.
Há um ano li uma notícia assim: “Bombeiros apagam incêndio que durou 180 anos em mina chinesa”. Dizia que a equipe especial de bombeiros trabalhava na extinção das chamas desde 1997, e que o fogo fora provocado aparentemente por mineradores que teriam discutido com seu capataz, na mina Rujigou - região autônoma de Ningxia- no século 19. O incêndio consumiu 30 milhões de toneladas de carvão, cerca de 10% da reserva total da jazida, em quase dois séculos. De tudo isso, tão inusitado, o que mais me chamou a atenção foi o fato de que, devido à alta toxicidade da fumaça, cada bombeiro só podia trabalhar no máximo 10 minutos seguidos, o que retardou o combate ao fogo.
Do Egito à China e de lá ao Brasil, onde, no Paraná, trabalhadores contratados para a colheita fumam pedras de crack para turbinar o corpo e aumentar a quantidade de toneladas arrancadas da terra. Duram pouco, a energia e o corpo. Tal como os homens que colhem cana-de-açúcar e que, de repente, caem em meio às plantações, mortos pela exaustão. A modernidade do agronegócio.
Esses músculos cansados, essas veias desfalecidas em Sikait-Zabara, Rujigou, Paraná, estão aí a engordar a balança comercial, a preencher as linhas em branco das planilhas. Como tudo o mais, estatísticas. Esmeraldas tristes tragadas em nome de quê?

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