Já havia anos que Rose queria conhecer o lugar onde Lula nasceria. Sempre admirara sua trajetória de menino pobre, nascido no agreste pernambucano, chegando a ser uma grande liderança na política. Tinha curiosidade de ver este espaço originário, em Garanhuns. Quando morou em Maceió, em 1994, antes ainda de ser eleito, fez uma tentativa. Uma estranha aventura pelas estradas de Alagoas, num potente Fusca, com amigos. Saíram cedinho atravessando o estado rumo a Pernambuco, mas, no meio do caminho foram parados pela polícia. Checam documentos, isso é aquilo, uma conversa estranha. O grupo falou que ia até Garanhuns ver onde nascera Lula. Foi o que bastou para os policiais fecharem a cara. Arranjaram uma irregularidade na lanterna e prenderam o carro. Queriam propina para liberar. Indignada, a turma não se prestou à chantagem. O carro ficou e todos tiveram de voltar para Maceió. Para fazer o veículo ser novidade outra, mas isso não importa, o fato é que não consegui ir até a terra do Lula.
Passados 30 anos, Rose voltou para Maceió. Desta vez iria até Garanhuns e teve o cuidado de verificar tudo no carro para não sofrer outro “assalto” policial. Juntou os amigos Assis e Gracinha e lá foram eles pela estrada até Pernambuco. Desta vez aqui. Em poucas horas ficou diante da casa de Dona Lindu, mãe do Lula, lugar onde ela passou a viver depois de seu casamento com Aristides. Ambos muito jovens, Lindu com 20 anos, ele com 22. Juntos tiveram 12 filhos, quatro morreram. A casa de pau-a-pique está erguida no espaço onde então se erguera a casa original. É uma réplica, levantada por familiares que ainda vivem em Garanhuns. Tudo ali busca retratar o tempo difícil da família Silva. São 30 metros quadrados, pouquíssimos móveis, uma cama grande, um fogão de chão, o quadro de Jesus, as portas de madeira, as frestas no barro, a singeleza do sertanejo.
Nos tempos da dona Lindu era preciso buscar água bem longe e a comida era escassa numa terra pouco fértil. Tinha muito trabalho, mas dinheiro que é bom, nada. E foi justamente por isso que Aristides migrou primeiro, sozinho. Depois, lá se foi Lindu com a penca de filhos numa viagem de 13 dias, em caminhão pau-de-arara. E o resto é história.
Hoje, a vida por ali é diferente. O verde viceja e as famílias conseguem construir suas casinhas em material. As moradas têm cisternas, a água jorra, e as crianças têm escola. Quem conta sobre isso é o Jorge Rodrigues de Melo, vizinho da família Silva. Ele conheceu a gurizada toda e lembra que o pai muitas vezes deu comida para o Lula. Por tudo isso, todos têm muito respeito e admiração pelo agora presidente, filho da terra. “Se hoje a vida da gente tá melhor, é por causa do Lula”.
A visita à casa da dona Lindu foi um dia de alegria para o trio que foi de Maceió. Rose e Gracinha, jornalistas, sempre caminharam na estrada da justiça e apostaram, desde 1989, na possibilidade da mudança com Lula. Assis, que nasceu no Piauí, é um viajante contumaz. Já chegou a fazer, à pé, o caminho de Teresina até Brasília, também percorreu vários rios, permanecendo, sozinho, sempre desafiando seus limites. Quando Lula esteve preso ele foi dar seu apoio, primeiro em Brasília, depois em Curitiba. Como homem das terras esquecidas do norte, tem muito amor pela figura do Lula, pelo que ele foi e pelo que conseguiu vencer. Por isso, foi o que mais se emocionou ao conhecer a casinha de barro onde Lula nasceu. Não está ligado ao partido político, ao PT, nada. É só esse profundo sentimento de amor pelo nordestino que venceu a fome, a miséria e hoje faz muito pela sua gente.
O encontro com o vizinho da família, o depoimento sincero do seu Jorge e a imagem da casinha despojada de quase tudo reforçou no trio de amigos o desejo de que toda a esperança depositada no presidente se faça real. Que o governo cuide de seu povo, que mude o que não presta e que garanta vida boa e bonita para toda gente. Nestes dias em que a bandeira dos Estados Unidos é intercalada nas ruas por chamados “patriotas” que celebram as avaliações de Trump contra o Brasil, Rose, Assis e Gracinha trazem de volta às retinas o cenário do agreste, da família Silva, e espera que Lula, o filho de dona Lindu, convoque o povo para mudar o Brasil. Não no discurso, na prática.
Um comentário:
Texto maravilhoso. Fiquei emocionada.
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