terça-feira, 1 de novembro de 2016

Pobres e Nojentas celebra Dia do Saci




Não foi fácil celebrar o dia do Saci Pererê e seus amigos um dia depois do processo eleitoral. A cidade ainda estava emburradinha, cansada dos panfletos e das cantilenas partidárias. Por isso, o pequeno grupo que organiza a sacizada era olhado meio de revés, considerando que estavam todos de gorrinho vermelho. Mas, tão logo as crianças que passavam agarradas às mães ou pais na Felipe Schmidt enxergavam o enorme Saci na esquina, a coisa ia mudando de figura. Brotavam os risos e os rostos desenferruscavam.

Animados pelo ator Eduardo Bolina, no seu personagem Magrão, as pessoas já arriscavam uns pulinhos e não foram poucos os que se postaram do lado do Saci para as fotos. Foi o caso de um rapaz do Ceará, que circulava pelo centro com a mulher. Encantado com o molequinho das matas ele se postou para o clique, e a mulher, cega, insistiu para tocar aquilo que tanto o estava comovendo.
- Mas, é um boneco! Exclamou, enquanto percorria a figura feita de papel machê com os dedos. “O saci é nosso”, finalizou entre risos.

Além das estripulias do Magrão foram distribuídos panfletos, principalmente para quem estava com crianças. Nele estava a história do Saci, para lerem em casa, aprofundando os conhecimento sobre o mito brasileiro. Também foram distribuídos barretinhos vermelhos, cachimbos e pipoca, fazendo a festa da gurizada.

O tradicional folguedo da ilha, o Boi-de-Mamão também veio se juntar ao Saci com todos os seus bichos, e a Maricota – personagem do boi – até arriscou um namoro com o Saci. Durante 45 minutos o centro parou para ver o “Alevanta meu Boi”, lá da comunidade dos Ingleses.

A festa sacizistica acontece na ilha desde o ano de 2004, iniciada pelo grupo da revista Pobres e Nojentas e o Sindicato dos trabalhadores da UFSC, e é uma tentativa de popularizar os mitos e lendas nacionais, até porque nesse mesmo dia os brasileiros andavam comemorando uma festa linda que faz parte da cultura estadunidense, o “raloim”. Assim, para valorizar os mitos locais começou esse sabá de Saci.

Desde aí, todos os anos, o mesmo grupo se reúne e organiza atividade que leva alegria e conhecimento para as ruas. É o momento em que se dialoga com a população e se contam das lendas locais.  

Esse ano contamos com o apoio fundamental do Sintufsc, Sintrajusc e Eletricitários, sindicatos que reúnem trabalhadores da universidade federal, justiça federal e eletricitários, e que historicamente tem se somado às Pobres e Nojentas nesse esforço de divulgação da cultura brasileira.

Em 2016 também foi a primeira vez que o Dia do Saci aconteceu já sob os auspícios da lei municipal que instituiu o 31 de outubro como Dia Municipal do Saci e seus amigos, através de um projeto de lei do vereador Lino Peres. A ideia agora é procurar incluir esse dia como um momento de debate sobre a cultura da nossa cidade, que também tem tradição de bruxas, desenhadas e divulgadas pelo grande Franklin Cascaes. O saci, como um mito que articula o país inteiro, é o condutor dessa proposta que visa nacionalizar a cultura.

Sua figura representa os três ramos culturais e étnicos do nosso povo: o indígena, o negro e o branco. Uma mescla de histórias e culturas que hoje formam o imaginário mítico do nosso país.

A festa do Saci encerrou com a tradicional ciranda, esperando que os tempos que se avizinham sejam de muita força para toda a gente. Com o Saci, molequinho travesso que gosta de esconder coisas e embaralhar os cabelos, vamos saracotear nos redemoinhos da vida e da política do nosso país. E, como ele, vamos sobreviver a todos os vendavais. Porque estamos juntos e porque sabemos onde queremos chegar.


Nosso carinho especial aos sindicatos que nos ajudaram, ao vereador Lino e particularmente às “nojetas” Miriam Santini, Jeane Adre e Salete Lanzarin, que garantiram, na raça, mais um Dia do Saci.  


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