quinta-feira, 15 de agosto de 2013

E as lutas se renovaram nas ruas






As mobilizações que sacudiram o País também sacudiram as esquerdas

Por Marcela Cornelli


As mobilizações de junho e a reorganização da classe trabalhadora foram temas de debate promovido pelo Sindes, sindicato que representa os trabalhadores em entidades sindicais, no dia 8 de agosto no Plenarinho da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, em Florianópolis.

Para debater o tema estiveram presentes na mesa representantes da CSP-Conlutas (Central Sindical e Popular), da Intersindical, da CTB (Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Brasil) e do Movimento Passe Livre Floripa. Também participaram do debate sindicatários, dirigentes sindicais, estudantes, representantes de movimentos sociais como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), membros da Cooperativa de Produção em Comunicação e Cultura (CpCC) e do Portal Desacato, representante do gabinete do deputado estadual Sargento Amauri Soares, entre outros segmentos da sociedade civil organizada. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) também foi convidada, mas não aceitou o convite.

Os debatedores responderam perguntas sobre o que significaram as manifestações de junho; a necessidade de unificação das centrais sindicais em defesa da classe trabalhadora; a criminalização dos movimentos sociais, políticos e partidários pela mídia, governos e polícia; a greve de 11 de julho e as dificuldades e perspectivas de se reorganizar a classe trabalhadora do País.

“Alguns segmentos abandonaram a pauta classista”

“Embora o movimento não seja novo, ninguém passou ileso ao processo de mobilizações de junho”, observou Simara Pereira, uma das lideranças do Movimento Passe Livre Floripa. A luta pela redução da tarifa desencadeou as mobilizações e conquistou avanços reduzindo as passagens de ônibus em mais de 50 cidades brasileiras, entre elas 14 capitais. “O movimento de junho ainda está em disputa, mas serviu para sacudir o movimento sindical. Alguns segmentos tentaram amortecer a luta, diminuir a importância do movimento, mas isso não foi possível”, disse Simara.

Para a militante do Passe Livre Floripa “não se pode poupar nenhuma crítica aos governos. O transporte do País não é esse que queremos, não é este o sistema bancário que queremos, a mobilidade urbana não é esta que está aí que queremos. Houve por parte dos movimentos sindicais, que se engessaram, o abandono das pautas classistas. É preciso haver o resgate desta pauta. E o movimento de junho fez isso. Despois de um período de negociação e conciliação permanente que vinha persistindo no movimento sindical, a juventude, os estudantes e a população foram para as ruas mostrar seu descontentamento”.

“Não podemos sair das ruas”


Ao contrário das críticas do Movimento Passe Livre, na opinião do presidente da CTB, Odair Rogério da Silva, houve um avanço em questões sociais no governo Lula/Dilma e que não podem ser ignoradas. “A situação econômica melhorou”. Porém ele admitiu que “houve falhas na política do governo”, principalmente nos setores da saúde e educação.

Ele também destacou que o rechaço aos partidos e sindicatos durante as manifestações de junho mostrou que “as pessoas não entenderam que foi com a luta destes segmentos que se construiu a democracia no País e só assim é possível às manifestações nas ruas”.

Para o sindicalista, a internet se mostrou um novo instrumento de mobilização. “As redes sociais foram um elemento importante”. Ele disse ainda que a mídia pautou o movimento das ruas para tentar desgastar o governo federal e defendeu a democratização dos meios de comunicação, pois “eles não estão do lado dos trabalhadores”. Por outro lado, ele acredita que o governo sentiu a pressão e veio para o debate com os sindicatos. “O governo respondeu ao apelo. Temos que estar permanentemente nas ruas. Vem aí o leilão dos postos de petróleo e temos combatido muito pouco este ponto. A unidade das centrais sindicais se faz necessária. Não podemos sair das ruas”.

Com olhar mais crítico, o professor Ricardo Velho, que representou a Intersindical na mesa, enfatizou que “a realidade da classe trabalhadora piorou muito nos últimos anos e que houve pouca distribuição de renda no País”. Quando se fala das manifestações de junho “a luta de classes deve ser a pauta da discussão”, apontou. “A classe por trás de todas as suas direções resolveu revoltar-se. Cansada de negociações, foi às ruas”.

Ricardo defendeu que “não é possível administrar o capitalismo dentro do estado e tentar melhoras. As manifestações aconteceram porque o capital avançou cada vez mais sobre os trabalhadores”. Na avaliação do professor, a greve do dia 11 de julho, chamada pelas centrais sindicais, “foi um fracasso”. “As organizações perderam a capacidade de organização. Porque a classe trabalhadora não veio pra rua? Por que as organizações estão tentando dirigir a fórceps a classe”, criticou.

O representante da CSP-Conlutas, Daniel Silveira Ramos,  avaliou que as mobilizações de junho abriram um novo momento no País. “Desde o Fora Collor e as Diretas Já não se via o povo com esta ofensiva nas ruas”. “As mobilizações mostraram a capacidade de organização dos jovens e estudantes”. Para Daniel, é possível se avançar nas lutas e a unidade das centrais se dará na prática. “Os salários dos trabalhadores estão praticamente congelados. É possível uma pauta unificada em torno do aumento geral dos salários e contra as privatizações, independente do governo que está no poder”, disse.

Na avaliação de Daniel, o dia 11 de julho não foi um dia de greve geral, mas foi um dia de luta e mobilizações e foi vitorioso. Ele citou como exemplo a paralisação dos metalúrgicos e do transporte em São Paulo. Para o militante da CSP-Conlutas, a unidade da classe trabalhadora, do movimento estudantil e o conjunto de explorados e oprimidos é a única saída para a construção de outra sociedade, uma sociedade socialista.

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