Elaine Tavares
A vida do trabalhador é uma
desgraceira. Não bastasse ser explorado pelos patrões dia, noite e até quando
pensa descansar vendo televisão, ainda tem de pagar por todas as merdas que os
que governam fazem. É o que acontece hoje na capital dos catarinenses. O fim de
tarde foi de completo terror no terminal do centro. Por conta dos ataques que o
crime organizado vem realizando desde há dias, os trabalhadores do transporte
coletivo decidiram encerrar as atividades às oito horas da noite. Quem sai do
trabalho as seis já vem para o terminal na maior correia. As filas que se formam
são imensas e os empresários, com medo que queimem os ônibus novos, colocam só
as carroças para rodar.
Seis e cinco e a confusão era geral no
terminal. Ninguém mais sabia onde começavam e onde terminavam as filas. Rostos
tensos, coração aos saltos. Poucas horas antes um ônibus tinha sido incendiado
no Saco dos Limões, diziam os fiscais. E nada de horários especiais. Os ônibus
estavam saindo nos horários normais como se tudo estivesse em
ordem.
A confusão cresceu quando por volta das
seis e meia os próprios fiscais começaram a gritar, dizendo para as pessoas
entrarem nos ônibus porque aquele poderia ser o ùltimo. “O sindicato vai fechar
o terminal do Rio Tavares”, diziam, e as pessoas, apavoradas, com medo de ficar
no centro, corriam para dentro do ônibus, se empurrando e se acotovelando. Os
carros saiam com gente saltando pelo ladrão.
Eu estava na fila esperando chegar na
ponta, para ir sentada, e já tinham passado seis ônibus. Os caras sempre com a
mesma conversa de que era o último. Eu fique doida com aquele papo de que era o
sindicato que estava fechando o terminal, porque já tinha gente na fila xingando
os trabalhadores. Comecei a gritar com os fiscais, dizendo que aquilo que eles
estavam fazendo era criminoso. Em vez de agilizar a coisa e acalmar a população,
eles estava tocando o terror e ainda colocando a culpa no sindicato. Porra, a
culpa é do governador do estado que parece que não estar nem aí para o que
acontece. “Ah é.. então tu quer morrer queimada”, retrucou o fiscal, continuando
com a algaravia de que era o último ônibus. Eu continuei gritando que se a gente
estava vivendo aquele horror era por culpa do governo que promovia a violência
nos presídios e agora deixava o povo a ver navios. Nada, olhares de
ódio.
Quando finalmente entrei no ônibus,
alucinada com tudo aquilo, ainda tive de vir escutando aqueles comentários
grotescos de exigência de mais violência contra a violência. De matar. A chuva caindo, o ônibus lotado, as pessoas em
confusão. Tudo porque o fiscal anunciara que o terminal do Rio Tavares fecharia
às sete e meia.
Como quem tem carro foi trabalhar com
ele, o trânsito estava um caos, agravado pela chuva. Demoramos mais de uma hora
para chegar ao Rio Tavares. Lá, a balbúrdia estava formada porque os ônibus, de
fato, já tinham parado. Única saída era seguir “na bota”, andando. Para quem
mora mais perto a coisa não é tão ruim, mas e o povo da Caiera, do Ribeirão, da
Tapera¿ Absurdo total. A cidade de Florianópolis está há dias refém do crime
organizado. A polícia está tonta. O governador diz que na quarta-feira vai
chegar reforço federal. Reforço do quê¿ Ninguém sabe.
As pessoas, andando pela estrada afora,
cabeças baixas, corpo curvado, levarão horas para chegar à casa. Molhadas,
cansadas, humilhadas. Amanhã, levantarão cedo e irão para o trabalho. Santa
desgraça, Batman... Por que será que a gente não se revolta contra quem
realmente merece¿¿¿¿¿
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