Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a
nossa própria substância. Simone de Beauvoir
Por Marcela Cornelli, jornalista
Na lógica do capitalismo, onde tudo é propriedade privada, a relação
homem e mulher não é diferente. A cada 2 minutos, 5 mulheres são espancadas e a
cada 12 segundos, uma mulher é estuprada. E quem é a culpada? As mulheres é
claro. De vítimas passamos a criminalizadas. Não temos o direito de decidir
sobre o nosso corpo e ainda quando somos violentadas somos vistas como "vadias".
Pois bem, se ser livre é ser vadia. Somos todas vadias.
De 1980 a 2010, foram assassinadas no Brasil cerca de 91 mil
mulheres - 43,5 mil só na última década. Nos último 30 anos houve um aumento de
217,6% nos índices de assassinatos de mulheres no Brasil. Os dados são do Mapa
da Violência da Mulher 2012, do Instituo Sangari.
Pelo fim da violência contra a mulher, pelo direto de decidir sobre
seu próprio corpo, mulheres marcharam em várias capitais do país neste dia 26 de
maio. Em Florianópolis a marcha foi bela, emocionante e extremamente importante.
Nas ruas olhos curiosos uns de aprovação outros de reprovação. Em uma sociedade
patriarcal e machista ainda há muito o que evoluir. Mulheres, meninas, mães,
homens, homossexuais, mulheres do movimento GLBT, mulheres sindicalistas,
trabalhadoras, todas marchando juntas pelo fim de qualquer tipo de preconceito,
pedindo liberdade e o fim da hipocrisia existente na nossa sociedade
conversadora que mata mulheres todos os dias.
Estupro RBS a gente não esquece
A marcha lembrou o fato ocorrido do estupro de uma adolescente em
Florianópolis sendo que um dos envolvidos era filho do dono da RBS, afiliada da
rede Globo. O caso foi abafado e os culpados permanecem sem punição. Como em
todo país a mídia burguesa se cala diante da violência sofrida pelas
mulheres.
Segundo a pesquisa Mulheres Brasileiras nos Espaços Público e Privado
realizada em 2010 pela Fundação Perseu Abramo, seis em cada 10 brasileiros
conhecem alguma mulher que foi vítima de violência doméstica e o parceiro
(marido ou namorado) é o responsável por mais de 80% dos casos de violência.
Embora apenas 8% digam já ter batido “em uma mulher ou namorada”, um em cada
quatro (25%) diz saber de “parente próximo” que já bateu e metade (48%) afirma
ter “amigo ou conhecido que bateu ou costuma bater na mulher”. Assustadoramente,
dos homens que assumiram já ter batido em uma parceira 14% acreditam que agiram
bem e 15% afirmam que o fariam de novo.
Bradando pelas ruas frases como “Chega de machismo, essa política
babaca. A gente tá lutando por uma vida igualitária!”; “Eu só quero é ser feliz,
andar tranquilamente com a roupa que escolhi” e “O corpo é da mulher, ela dá
pra quem ela quiser!”, o recado foi dado. A marcha das vadias, que teve origem
em 2011 com a slutwalk (caminhada das vadias) que ocorreu no Canadá em resposta
à justificativa dada por um policial de que as meninas de uma universidade
estavam sendo estupradas porque se vestiam igual “vadias”, não pode parar por
aqui, além de crescer e tomar as ruas mais vezes ela precisa exigir dos governos
o cumprimento da Lei Maria da Penha, o direito ao aborto, o direito de ser
mulher sem ter que mudar sua forma de vestir ou de ser para ser respeitada até
porque, como cantamos pelas ruas: “Nossa luta é todo dia contra o machismo, o
racismo e a homofobia”.
Até que haja uma só mulher apanhando, sendo estuprada, violentada,
impedida de decidir sobre seu próprio desejo, vamos continuar gritando e tomando
as ruas!
Pelo direito de decidir!
Pelo direito de amar e dar pra quem quiser!
Exigimos total respeito à mulher!
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