terça-feira, 20 de abril de 2010

Eu quero acreditar

Míriam Santini de Abreu


Eu e um grupo de amigas amamos a série estadunidense Arquivo X. São histórias que envolvem conspiração, alienígenas, fatos aparentemente inexplicáveis. Nela está expresso, explícito, o que de mais abominável há no modo de ser e de viver daquela sociedade. Mas também o que há de mais belo e arrebatador no ser humano.

E por isso tantas vezes falamos de nosso amor por Fox Mulder, que é protagonista da série com a personagem Dana Scully. Elaine Tavares prometeu fazer um texto sobre os motivos de nosso amor. Mas eu adianto que, para mim, um deles é a absoluta generosidade que move aquele personagem.

Há um comercial de televisão que menciona a generosidade, com o recado final de que é preciso “passá-la adiante”. Generosidade, no mundo capitalista, é como filantropia ou trabalho voluntário, algo que faz bem para quem a coloca em prática e que, para as empresas, rende bons ganhos no balanço da “responsabilidade social”. Não é essa generosidade que move Mulder. É a generosidade absoluta.

O fazer generoso dele é de qualidade diferente porque não se expressa como desejo de ser generoso, e sim como algo primordial, que nasce com cada gesto, que está nele como está a pulsão vital. Ele não precisa se lembrar de ser generoso.

Um dos episódios mais lindos de Arquivo X é sobre uma “gênia” que concede três pedidos a quem a liberta, mas o resultado nunca é o esperado pelo desejante – é desastroso! - e também a “gênia” jamais se liberta. Pois chega a vez de Mulder fazer os pedidos. O primeiro é a paz mundial, e ele se vê completamente sozinho no mundo. O segundo é para que o primeiro pedido seja revertido. Então Mulder pede à “gênia” que diga qual é o maior desejo dela própria. Ela responde que é a liberdade, a possibilidade de sair da prisão de eternamente atender desejos. E Mulder então usa o seu terceiro pedido para conceder isso a ela! O episódio termina com os dois bebendo café em uma lanchonete.

Lembrei-me disso porque eu procurava uma certa resposta, e não a encontrava. Então, por modos estranhos e sinuosos, a encontrei, e na mesma noite liguei para uma amiga para contar. E ela me disse que, naquele mesmo dia, estando numa igualmente estranha possibilidade de formular um pedido, desejou que eu encontrasse a minha resposta.

Li na Scientific American uma reportagem sobre cosmologia segundo a qual o Universo pode fazer parte de um multiverso muito maior que, como um todo, é simétrico no tempo. Em outros universos, o tempo pode fluir ao contrário, para trás.

Essas possibilidades fantásticas investigadas pela ciência me fazem pensar no quanto tudo o que aí está, visível ou não, é também sagrado, divino. E gosto de assim pensar porque a minha amiga, com seu gesto generoso, simbólico, abriu um portal por onde a minha “gênia” começa a se libertar.

Mulder, ao final deste episódio, certamente daria a Scully um adorável meio sorriso cheio de cumplicidade, nos olhos aquela expressão inefável: - Eu quero acreditar...

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