segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O povo foi impedido de entrar na escola pública


O povo foi impedido de entrar na escola pública


Por Lidiane Ramos Leal

Era dia 23 de agosto de 2012, dia lindo e propício para se discutir política, assim como já havia sido combinado. O povo do Norte de Florianópolis se organizou em uma belíssima passeata com vistas a reivindicar seus direitos e conhecer as propostas dos candidatos ao executivo da capital. Em frente ao TICAN (Terminal de Canasvieiras) lá estavam crianças, estudantes, homens e mulheres de todas as idades. Participaram aproximadamente 150 moradores e lideranças, representando a classe trabalhadora. A passeata começou. Palavras de ordem eram ditas: “Na Ilha da Magia Queremos Moradia…”, enquanto caminhavam rumo ao debate com os candidatos a prefeito da capital, que seria realizado na escola Jacó Anderle.
Quando os manifestantes chegaram ao destino, a lamentável surpresa, o povo não poderia entrar na escola, diziam os seguranças que “o evento foi cancelado”. Algumas horas antes, sem maiores explicações a direção da escola, de maneira irresponsável, desfez o acordo com as lideranças que organizaram o ato e proibiu a entrada do povo na escola, que deveria ser pública e aberta a tais iniciativas democráticas. Nesse momento aproximadamente 10 viaturas com trabalhadores da Polícia Militar iluminavam os rostos dos manifestantes com suas sirenes, policiais à paisana registrando fotograficamente os moradores, seguidos de muitas armas e até fuzil, contrastando com as panelas, as faixas e apitos dos trabalhadores.
Como não podiam entrar na escola, decidiram realizar o debate ali mesmo, em frente ao portão da escola que lhes foi fechado. E o debate começou através do megafone, o diálogo foi sendo construído entre os candidatos e o povo, bem próximos. Os candidatos a prefeito presentes foram o Gilmar Salgado (PSTU) e Élson Pereira (Psol), participaram ainda mais de 10 candidatos a vereadores, sendo do PT, PSTU e Psol. Com o megafone em mãos o debate foi realizado. Lamentavelmente,  somente dois dos seis candidatos a prefeito participaram desse momento tão importante.
Ainda estamos no aguardo por uma resposta oficial por parte da direção da escola Jacó Anderle, acerca do impedimento da realização do debate em suas dependências. E claro, nos questionando por que os demais candidatos não deram à devida importância para o povo do Norte de Florianópolis. E entre questionamentos, finalizo com Rosangela Bion de Assis:
Até quando haverá dois tipos de mundo para uma só humanidade?
Até quando alguns serão mais seres que outros humanos?
Até quando?…

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Frente de Luta Popular promove debate com candidatos municipais na região Norte

Projeto “Propostas democráticas para a cidade” pretende apresentar demandas regionais dos movimentos sociais em Florianópolis

A Frente de Luta Popular realiza, na quinta-feira (23), o primeiro debate do projeto “Propostas democráticas para a cidade”, iniciativa de lideranças dos movimentos sociais de Florianópolis para apresentar aos candidatos à Prefeitura Municipal e aos vereadores as demandas regionais populares da Capital. O encontro será realizado a partir das 19h, no Ginásio de Esportes do Colégio Jacó Anderle, próximo ao TICAN.

Lideranças ligadas às lutas do Plano Diretor, do meio ambiente, saúde e educação, transporte e mobilidade urbana, saneamento e moradia estão envolvidas neste debate. Representantes da Vila do Arvoredo, do Morro do Caçador, famílias despejadas do Papaquara, em 2011 e comunidades mobilizadas na luta por moradia digna realizarão uma passeata antes dodebate com os candidatos. A concentração começa às 17h, no TICAN, e a passeata seguirá pela SC-401 até a rotatória de Canasvieiras, voltando pela SC-401, até o local do debate.

A Frente de Luta Popular está preparando reuniões e debates regionais como este, em defesa dos Direitos Políticos, Sociais, Econômicos e Ambientais, e para construir um espaço de discussão e identificação das demandas urgentes e reais da sociedade e cobrar compromissos regionais, neste momento de eleições. À princípio, serão realizados quatro debates regionais: Rio Tavares, Trindade-Centro, Norte da Ilha e Continente. Ao final, o grupo irá realizar um debate municipal, com a apresentação demandas populares da cidade e compromissos assumidos ou não pelas candidaturas.

Todos os candidatos à Prefeitura de Florianópolis foram convidados a participar do encontro. Para mais informações, acesse http://desacato.info/batepapocidade/, siga @desacatobrasil ou envie um e-mail para desacato.brasil@gmail.com

SERVIÇO

Debate para as “Propostas democráticas para a cidade” - Região Norte

Onde: Colégio Jacó Aderle (Rua Francisco Faustino Martins. S/N - Ao lado terminal TICAN, no bairro Vargem Grande)

Quando: 23 de agosto, quinta-feira, a partir das 19h

Fonte: Portal Desacato

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

SANEAMENTO: Crimes Ambientais e Contra a Saúde em Florianópolis e as Demandas da Sociedade


              Alertamos à todos, que mesmo após o Relatório dos Técnicos da FATMA apontarem graves problemas de crimes ambientais e contra a saúde pública em todas as ETEs (Estações de Tratamente de Esgoto) de Florianópolis, estas ainda permanecem  funcionando de forma irregular, como abaixo segue: 
·      Sem licenças ambientais de funcionamento; 
·      Deterioradas, com rachaduras, vazamentos e contaminação do solo e mananciais; 
·      Com operação e sistemas de tratamentos inadequados que resultam em efluentes e resíduos contaminados;
·      Sem instalações, equipamentos, insumos, manutenção e recursos humanos adequados; 
·      Com destinação final inadequada do esgoto nas dunas, rios, baias, manguezais, córregos, rios e praias.
            Porem, mesmo assim a CASAN, Prefeitura e a direção da FATMA irão insistir no TAC (termo de ajuste de conduta), sem enfrentar de vez os problemas, que entre os piores estão os inadequados Sistemas de Tratamentos existentes e os locais para Destinação Final dos resíduos sólidos e dos efluentes líquidos.
 
          Neste atual processo de denúncias e crise no Saneamento Básico de Florianópolis, lamentamos a trajetória política e administrativa, irresponsável, das direções da CASAN, que seguem o caminho do sucateamento e desqualificação do serviço prestado, da insolvência financeira, que são a ante-sala da sua privatização total da CASAN e do Saneamento, setor e serviço estratégico essencial, para a sociedade, que deve ser tratada não como mercadoria, mas como infra-estrutura básica e universal do direito à saúde das famílias e salubridade da nossa cidade, do direito ao meio ambiente saudável e sustentável, e de apoio à produção dos frutos do mar.  
         Nós, do Fórum da Cidade, dos movimentos sociais e ambientais, temos claro o papel que pode e deve desempenhar a CASAN na oferta deste direito coletivo e universal. Estamos cientes que a privatização deste serviço, só servirá para torná-lo mercadoria à serviço do capital e de sua irrevogável necessidade de obter lucro e não para atender ao nosso direito vital de saúde pública, do bem estar e sustentabilidade da sociedade e do meio ambiente,  com qualidade de vida digna para todos e para nossas futuras gerações.
          Por isso também lamentamos e denunciamos as ações irresponsáveis do Governo do Estado, que levou a CASAN ter 49% das ações privatizadas, após aprovar na ALESC o projeto do Governador para "sanear a CASAN vendendo ações", e sem alterar sua gestão politiqueira. Contra isso, exigimos do Governo do Estado, da ALESC e do TCE, ações contra a privatização de recomposição do patrimônio público, para que a CASAN esteja à serviço da sociedade, da saúde e do meio ambiente. É preciso por fim ao cabide de emprego e contratações sem concurso público, a terceirização das suas funções, ao uso de cargos de direção como trampolins e caixas de campanha, para se elegerem e aos seus apadrinhados nas eleições municipais e gerais.
           Diante desta situação da CASAN e da conivência da Prefeitura e da pouca ação da direção da FATMA, diante dos históricos crimes ambientais e contra a saúde pública, exigimos também a apuração e responsabilização criminal e civil dos titulares, executores, licenciadores e fiscalizadores desta política pública municipal, para que se cumpra a função social do saneamento básico, expressa na Lei federal 11.445/2007, Lei municipal 7.474/2007 e no Plano Municipal Integrado de Saneamento Básico.
             Fazemos um apelo especial e destacamos o papel importante que devem e podem cumprir os servidores técnicos, da FATMA e da CASAN, na execução adequada da Política de Saneamento, colocando suas funções, competências e conhecimento à serviço da população, e  da gestão ética e democrática da FATMA e da CASAN, denunciando os casos de interferência política que promovam irregularidades.
          Na mesma medida de qualificação técnica e isenção, na análise das ETEs, feitos pelos técnicos da FATMA (apesar da sua direção política), esperamos que atuem as diretorias e servidores técnicos da CASAN, na busca de soluções e operação adequada dos serviços, sob pena de responsabilidade técnica com as  manipulações da direção da CASAN e Prefeitura, que deveriam orientar e garantir qualidade e eficiência no serviço prestado.
         Para tanto é preciso total Transparencia e Controle Social nas ações da CASAN e Prefeitura, que negam informações solicitadas pela sociedade civil e pelo Conselho de Saneamento-COMSAB, sobre os contratos, financiamentos, projetos, licenças, obras e operação dos serviços de oferta de água e tratamento de esgoto. 
         Defendemos também, diante do papel que desempenha Florianópolis no montante estadual dos serviços da CASAN, que o setor de usuários da sociedade participe do Conselho Fiscal da CASAN, para conter a sua privatização em curso e para afirmar o caráter público e a qualidade do serviço, e que a participação de todos os conselheiros não sejam remuneradas, sob qualquer forma ou espécie.
         Por último, frente aos crimes ambientais e contra a saúde pública, revelada por nós, comprovado pelas ações do ICMBio e o Relatório dos Técnicos da FATMAexigimos a revisão dos atuais projetos e contratos da CASAN e dos recursos disponibilizados (a exemplo do que fizemos em 2009), para realizar ações emergenciais nas atuais ETEs, para que se cumpra a salvaguarda da saúde e do meio ambiente, que são  princípios e objetivos da Lei Federal e Municipal que regulam o financiamento da Política de Saneamento. 
 
 
Neste sentido exigimos da CASAN, Prefeitura e FATMA, através do Ministério Público, Tribunal de Contas e da ALESC:
 
1.   Paralização imediata das obras sem controle social e em desacordo com a Lei 11.445, Lei 7.474, o PLAMISAB, os Termos de Acordos, os projetos e as condicionantes dos contratos de financiamentos. 
2.   Bloqueio de qualquer nova ligação nas atuais ETEs, até que se resolvam definitivamente os crimes e problemas existentes apontados pelos técnicos da FATMA, ICMBio e pelos Conselheiros do COMSAB.
3.  Criação de força tarefa (com representação municipal, estadual e federal, com participação e controle social) para analisar as deficiências do Sistema de Tratamento e Esgotamento Sanitário em operação, visando soluções para a imediata realização de obras, serviços, compra de equipamentos e contratação de pessoal, para solucionar as irregularidades de todas as Estações de Tratamento (qualidade do tratamento,  operação e manutenção, e localização adequada da destinação final dos esgotos tratados). 
4.  Execução de novos Relatórios de Analises para as demais ETEs públicas e privadas em operação, avaliando a qualidade das etapas de tratamento, operação e manutenção e detalhar com rigor a qualidade final dos efluentes, de todas as ETEs.
5.  Execução de Relatório do Sistema das Redes Coletoras, Emissários Terrestres e Estações Elevatórias, e mais urgente ainda, o adequado tratamento e destinação final dos resíduos solidos e efluentes líquidos.
6.  Execução de relatórios de análises urgentemente dos aqüíferos da ilha e dos serviços municipal de Captação, Armazenamento, Tratamento e Distribuição de Água Potável. 
7.  Revisão e suspensão de todas as licenças expedidas pela FATMA e elaboração de novos EIA/RIMAS com Termos de Referencias, elaborados em conjunto pela FATMA, ICMBio e IBAMA, vinculadas a realização de novas Audiências Públicas. 
8.   Realização de aditivos e revisões dos atuais contratos (como ocorreu em 2008/2010), para garantir soluções necessárias  nas ETEs existentes, frente as emergências que a saúde pública e ao meio ambiente nos exigem.
9.  Abertura de Inquérito Público Investigatório de responsabilidade Civil e Criminal, contra a Presidência da CASAN e da FATMA, o Prefeito Municipal, o Secretário Municipal de Saneamento, o Presidente da FLORAM e o Secretário da Vigilancia Sanitária do Município e de qualquer servidor que tenha participado por ação e/ou omissão do uso da função pública, que resultaram nos atuais crimes ambientais e contra a saúde pública; crimes contra o patrimônio e orçamento público; e crimes de improbidade administrativa no cargo público. Este Inquérito Investigatório, busca promover a moralidade da coisa pública e a devida recomposição e indenização, a serem pagas pelos possíveis contraventores, aos cofres públicos.
10. Ato seguinte, que se cumpram as novas metas de expansão das redes coletoras e das novas unidades de tratamentos previstos no PLAMISAB. Porem destacamos que este serviço, em nosso município, por estar situada numa região com bacias de enormes recursos hídricos, com manguezais, córregos, rios e lagoas, e diante da conurbação urbana com 5 municipios, interligados por baias e beira-mar, territórios de produção alimentar, requer muito mais planejamento e solução adequada (técnica, ambiental e financeira). Requer inevitavelmente gestão pública consorciada, entre os 7 municipios. Advogamos por Consórcios Públicos Regional, pois comparando eficiencia e eficacia, das gestões isoladas dos municípios, frente a uma possível gestão publica consorciada, veremos que estamos perdendo enormes quantias  de recursos disponíveis para recursos humanos, equipamentos, instalações, obras e na prestação dos serviços, com qualidade adequada para a região metropolitana e seu meio ambiente.
11. Solicitamos elaboração de estudos para a Revisão Social da Tarifa dos serviços de Água e Esgoto, frente ao seus valores reais e específicos de produção e oferta, e também frente aos usos diferenciados do consumidor residencial e do setor de serviços, comercial e industrial. Este estudo deve ser apresentado para debate e aprovação na I Conferencia Municipal de Saneamento Básico, que propomos seja realizada em Março/Abril de 2013.
12. Estas considerações acima, devem estar na base da realização do Contrato de Concessão dos serviços, que deve ser celebrado entre a CASAN e Prefeitura. Porem, defendemos que o Contrato de Concessão, que foi recentemente celebrado de forma fraudulenta, considerado juridicamente nulo, seja executado no primeiro semestre de 2013, com instrumentos de participação e controle social previstos em lei (a ser garantido pelo próximo Prefeito e Camara de Vereadores a ser eleita nestas eleições 2012). Até lá, que permaneça o atual Convenio de Cooperação, assinado em 2007 e, que se faça junto ao COMSAB o devido balanço patrimonial da CASAN no município, para integrar cláusulas do futuro Contrato, e os relatórios de realização das contra-partidas da CASAN ao município, previstas neste atual Convenio de Cooperação.
 
Florianópolis, 07 de agosto de 2012
 
LOURECI RIBEIRO arquiteto e urbanista
Membro da CMAS - Camara de Meio Ambiente e Saneamento do Fórum da Cidade

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Um médico, por favor...

Elaine Tavares
 
Há três anos quase morri. Estava com uma infecção numa pequena espinha que brotou nas costas e nenhum dos 12 médicos dos postos de saúde de Florianópolis pelos quais passei conseguiu ver. Depois de um mês inteiro de agonia, já com bolas gigantes em todo o pescoço e omoplatas, por insistência dos amigos, decidi buscar um infectologista famoso. Ele me atendeu e em menos de 15 minutos já tinha o diagnóstico. Olhou para mim, deu importância para minhas queixas, realizou um bom exame e medicou. Coisa rara. Em três dias estava bem.
Essa maratona nos postos de saúde me mostrou duas situações: médicos mais antigos, totalmente insensíveis e arrogantes, e médicos jovens, apavorados e despreparados. De 12 profissionais nenhum olhou para a espinha que eu tinha nas costas, sobre a qual eu insistentemente reportava. Alguns deles nem me tocaram, escrevendo a receita do indefectível paracetamol. Uma desimportância com os seres doentes, uma desconexão humana.
Naqueles dias de desespero me veio, nítida, a imagem do Dr. Hildebrando, um médico que cuidava de mim e dos meus irmãos na pequena cidade de São Borja. Morava do lado da nossa casa e minha mãe não tinha dúvidas. Se algum de nós ficava doente, ela saia porta afora e invadia o consultório. Ele era um homem sério, não recordo de vê-lo sorrir. Mas, era cuidadoso. Atendia com paciência e, no final do dia, batia na porta a perguntar como estávamos. Se a doença era grave ele vinha, todos os dias, espiar. Dinheiro era a última coisa que entrava na relação. Se houvesse, muito que bem, se não, também não era problema.
O Dr. Hildebrando era desses médicos que cuidava de seus pacientes por toda a vida. E quando alguns deles morria, ele ia ao enterro, cabisbaixo. Seguia o caixão na sua impotência, visto que sabia que a medicina só ia até certo ponto. Depois, era o mistério.
Médicos como aquele não existem mais. Pelo menos eu não tive a sorte de encontrar por aqui onde vivo hoje, na bela ilha de Santa Catarina. Em 24 anos de moradia, cada vez que fico doente vou num médico diferente. Não encontrei o meu “Dr.Hildebrando”, alguém que me olhasse como uma criatura humana, frágil e insegura na dor. No geral, a maioria nos vê como um talão de cheques ou um pedaço doente. Hoje, há médico para cada pedacinho do corpo. Perdeu-se a ideia de totalidade. Ninguém mais trata as pessoas, só pedaços delas. Tampouco há essa humildade de saber que às vezes, o único remédio que a pessoa precisa é um apertar de mãos e um dizer seguro: fica tranquila, isso vai passar. Não, seus olhares não se cruzam com os do paciente e suas bíblias são os catálogos das indústrias farmacêuticas.
Dia desses enfrentei forte gripe. Com medo da H1N1 fui atrás de médico. Toda a agonia outra vez. Assustada e sem conseguir consulta, me rendi outra vez ao particular. Liguei para 10 clínicas e mesmo pagando não havia vaga. Mais alguns telefonemas e nada de vaga. “Só para o dia 22”, e era dia 2. “Até lá já morri”. “Sinto muito”. Nem pagando.
Perdida de toda a sanidade recorri a automedicação. Pesquisas na internet, buscas nos livros de medicina. Estressada até o último grau, envolvida com greves e outros quetais, fui para a farmácia encomendar os remédios. Por um milagre, a farmacêutica olhou pra mim. E sentiu todo o desespero. Solícita foi perguntando o que era, os sintomas, acalmando. “É gripe forte, mas não é a suína. Fica tranquila. Vai passar”. Caí em lágrimas. Era o que eu precisava. Alguém que pudesse ver um ser humano em escombros. Seu nome é Selma e ela tende na farmácia do terminal, no meio do caos. Sai com o xarope na mão e a alma em festa. Não era o Dr. Hildebrando, mas já estava bom. Ainda assim sigo esperando, que haja, em algum lugar, alguém capaz de cuidar da gente como aquele carrancudo, mas cuidadoso, médico do interior.

E que a doença não me alcançe...

Segundo Bate-Papo avança em propostas para uma Frente de Luta Popular na cidade

Por Marcela Cornelli

Enquanto a cidade respira eleições, um grupo de militantes políticos dos mais variados segmentos sociais e correntes partidárias de esquerda se reuniram na tarde do sábado, dia 4 de agosto, no auditório do curso de Arquitetura da Universidade Federal de Santa Catarina, para dar continuidade ao Bate-papo em busca de um projeto democrático para Florianópolis.
O objetivo dessa Frente de Luta do Movimento Popular e Sindical em defesa dos Direitos Políticos, Sociais, Econômicos e Ambientais, que teve sua primeira reunião em 23 de junho desse ano, é construir um espaço de discussão e de encaminhamentos de lutas na cidade, independente do processo eleitoral. Afinal não é só em tempo de eleições que a cidade deve respirar política e debater seus problemas, buscando soluções e se contrapondo à dominação das elites que estão no poder, em defesa da classe trabalhadora.
Dessa vez, a pauta debateu conjuntura nacional e internacional e temas mais locais como mobilidade urbana, moradia, plano diretor, meio ambiente e saneamento básico. Várias falas também defenderam a necessidade de se investir em meios alternativos de comunicação que estejam do lado da classe trabalhadora para se contrapor à grande mídia que é mais um braço do capital.
A Frente de Luta está deixando de lado as diferenças políticas e buscando pontos que unam os movimentos como as lutas contra o capital e a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Durante o debate, falou-se sobre a necessidade das lutas locais dos trabalhadores estarem interligadas com as lutas nacionais e internacionalistas, por serem as mesmas em todo o mundo, e todas com o objetivo de derrotar o capital. Lutas como moradia, saneamento e mobilidade são fundamentais porque têm um viés anticapitalista e anti-imperialista e devem estar na pauta do dia. As falas também expuseram a necessidade de se investir em meios de comunicação alternativos para dar visibilidade a essas lutas e se contrapor ao oligopólios das comunicações.
Foi colocado que é preciso cobrar das candidaturas ao pleito municipal para que elas deixem explícito o que efetivamente pensam sobre os problemas da cidade e como irão agir para combatê-los.
Foi enfatizado que o debate da Frente de Luta deve ir além do período eleitoral e será feito um chamamento ao movimento sindical para que este esteja mais próximo das lutas dos movimentos sociais e não só trate de questões corporativas. Também foram expostos os problemas de moradia urbana na cidade, citando exemplo o Norte da Ilha, onde famílias estão sendo despejadas para que os terrenos sejam usufruídos pela especulação imobiliária: 51 famílias no Morro do Mosquito, 168 famílias na Vila do Arvoredo, 13 famílias no Cartódromo, 6 famílias na Vila União, 46 famílias no Papaquara. Todas essas famílias estão pedindo socorro e precisam do apoio dos demais movimentos sociais da cidade. Foi lembrado que o Costão do Santinho está construindo um campo de futebol em cima de uma área de preservação ambiental, enquanto que muitas famílias são expulsas dos seus lares por estarem nessas áreas há muito anos, ou seja, as leis só servem para os pobres. Também foram feitas críticas ao programa Minha Casa, Minha Vida do governo federal, enfatizando que os valores das moradias não são para atender a camada mais pobre e necessitada da população, que recebe entre 0 a 3 salários mínimos.
Na avaliação de conjuntura, foi colocado que quem está pagando pela crise do capital mundial é a classe trabalhadora. E que esta é a lógica do capital. Foram feitas duras críticas também à realização dos megaeventos no País, pois estão sendo despejadas milhares de famílias sob uma ótica de higienização social e “limpeza” das cidades onde acontecerão os eventos.
Nas falas dos participantes também foi pedido solidariedade aos dois mil trabalhadores que a GM quer demitir em São José dos Campos.
Foi consenso dos participantes a necessidade de se elevar consciência política da classe trabalhadora e que a soluções para os problemas não virão do parlamento e sim das lutas nas ruas. Nesse sentido, a Frente de Luta pretende realizar atividades e debates nas comunidades para que elas possam apresentar suas propostas aos candidatos e manter esse espaço de discussão e luta após as eleições, com o objetivo de criar alternativas para a cidade que beneficiem verdadeiramente a classe trabalhadora e não as elites como vem acontecendo.
Veja abaixo as propostas do Bate-Papo realizado no dia 4 de agosto entre movimentos populares e sindicais:
- Buscar junto com o Fórum da Cidade socializar o documento final do Congresso da Cidade, realizado em 2011.
- Preparar reuniões regionais, definir a pauta dessa Frente de Luta e realizar quatro debates regionais com os candidatos da majoritária. Ao final realizar um debate municipal com a apresentação das resoluções regionais e compromissos assumidos ou não pelas candidaturas, no período de 13 a 15 de setembro. Convidar para o debate também os candidatos proporcionais.
- Criar uma Coordenação para se reunir semanalmente e definir os encaminhamentos, socializando-os para o debate com os candidatos e também convocar centrais sindicais, sindicatos, entidades, universidades, pautando coletivamente o resultado da discussão da Frente de Luta.
- Criar um Coletivo de Comunicação para mobilizar e socializar o resultado da discussão da Frente de Luta.
- Fazer arrecadação solidária para construir os projetos da Frente de Luta, garantindo autonomia.
- Definir quatro debates regionais (Rio Tavares, Trindade-Centro, Norte da Ilha e Continente).
- Definir o que são os temas centrais para levar aos debates, com sugestão de que sejam as áreas públicas e ambientais (exemplo: Ponta do Coral), mobilidade urbana e transporte coletivo (estatização), saneamento (situações das estações de tratamento), habitação (recursos efetivamente direcionados para populações de baixa renda de 0 a 3 salários mínimos) e saúde.
- Articular movimentos e comunidades organizadas com suas necessidades nas ações da Frente de Luta.
- Reunião da Coordenação da Frente dia 7 de agosto, após a Audiência Pública de Santo Antônio, no mesmo local.
- Primeiro debate: entre 14 a 17 de agosto: Norte da Ilha
- Segundo debate: entre 20 e 24 de agosto na Trindade
- Terceiro debate: entre 27 e 31 de agosto Carmocris (Conselho das Associações de Moradores do Bairro Monte Cristo)
- Quarto debate: 11 de setembro no Centro Comunitário da Fazenda do Rio Tavares ao lado do Tirio (Terminal do Rio Tavares).
- Apresentação e Debate Municipal Final: entre 13 e 15 de setembro.
Contamos com o apoio de todos, venha para a Frente de Luta!