quarta-feira, 30 de abril de 2008

2008, ano de Franklin Cascaes

2008 marca o centenário do nascimento de Franklin Cascaes, escritor, pesquisador da cultura açoriana, folclorista, ceramista e gravurista. Ele nasceu em 16 de outubro de 1908. O jornal da Editora da UFSC dedicou parte de sua edição de abril/maio a ele. Veja em http://www.agecom.ufsc.br/downloads/Leitura_e_Prazer_n15.pdf

Feira do Livro vai de 30 de abril a 10 de maio

A VII Feira de Rua do Livro de Florianópolis e 1ª Feira Catarinense do Livro abre no dia 30 de abril e vai até 10 de maio, das 9 às 20 horas, no Largo da Alfândega, Centro de Florianópolis. Confira a programação em http://www.cclivro.org.br/feira/

É na segunda, dia 5. Não perca!


terça-feira, 29 de abril de 2008

Pobres & Nojentas 12 está à venda

O número 12 de Pobres & Nojentas estará à venda, a partir desta quarta-feira, 30, na banca da Catedral e na da UFSC, em Florianópolis. A matéria de capa conta a luta do trabalhador José de Assis Filho, recentemente falecido, em defesa da Universidade pública, gratuita e de qualidade. Assine a Pobres!

Desenhuras

Desenho de Aloisio Lenz, interno do ex-NAPS, Hospital Espírita de Psiquiatria Bom Retiro.

Publicado por Don Suelda

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Poesias selecionadas

A jornalista Rosangela Bion de Assis, que diagrama a revista P&N, teve duas poesias selecionadas no 6o Concurso Conto e Poesia, promovido pelo Sinergia, o Sindicato dos Eletricitários em Santa Catarina. Realizado em nível estadual, há mais de 15 anos, o concurso, por sua abrangência e proposta, tem se constituído como uma das mais importantes iniciativas na área em Santa Catarina. Depoimentos de vários participantes do concurso e de expressivas personalidades do meio literário catarinense, como os escritores Alcides Buss e Leonor Scliar, afirmam: “poucas são as entidades não governamentais que têm desenvolvido um programa cultural tão rico e extenso quanto o Sinergia”. Rosangela emplacou as poesias Nos últimos dias e o O tempo.

O pensamento de uma louça na pia

Fernando Karl
Uma louça, na pia, tece considerações:
– Respiro este ponto do pensamento – que não é um ponto qualquer –, e, nesta cozinha, só sei que sou uma louça entre louças na pia. Logo todo o meu raciocínio se insurge contra esta condição e imagino outra coisa, imagino que sou um peixe que pula de ombro em ombro e também sonho que durmo na cama da princesa de longos cabelos azuis. Eu nunca acreditei no demônio, como nunca acreditei em Deus ou em Buda. Eu nunca disse alto às outras louças na pia que não acreditava em mais nada e o motivo é simples: não quis descontentar a letra fria das leis, encarregadas de manter o respeito por tais entidades divinas. Também nunca escrevi cartas às águas que jorram da torneira, seria inútil, mas que existam louças na pia, frágeis como as ondas do mar, isto eu observo todo santo dia aqui junto delas, iguais a mim, rivais sob uma torneira alheia, fazendo-se mutuamente pirraças de louça e tendo pensamentos de louça.

domingo, 27 de abril de 2008

P&N na América Latina 3










A Porta do Sol e os monolitos de Tiwanaku – Bolívia

Marcela Cornelli
Jornalista da P&N

“Eram os Deuses astronautas?” Foi lendo este livro que me inspirei para ir para Tiwanaku, na Bolívia, alguns anos atrás. Escrito em 1968 pelo suíço Erich von Däniken, o livro fala sobre a possibilidade das antigas civilizações terrestres serem resultados de obras alienígenas. Macchu Picchu no Peru e Tiwanaku na Bolívia, pela grandiosidade e engenharia de suas construções de pedra e seus monolitos, são citadas no livro como obras que poderiam ter sido construídas com ajuda extraterrestre.
A foto da Porta do Sol, com o Deus Sol (Viracocha) no centro e um magnífico calendário solar que provavelmente era utilizado para a agricultura, publicada em “Eram os Deuses astronautas?”, me deixou fascinada e eu sabia que um dia estaria lá, diante dela. Tiwanaku fica a mais ou menos 70 kilômetros de La Paz, a uma altura de 3.845 metros acima do nível do mar e é um importante sítio arqueológico pré-colombiano. Hoje só é possível ver em torno de 30% do que foi este grande centro espiritual e político da cultura tiwanaku.
A população local conta que as pedras usadas na construção de Tiwanaku foram retiradas dali para a construção das igrejas católicas. A civilização Tiwanaku, que nasceu às margens do lago Titicaca, é considerada precursora dos incas. Alguns estudos chegam a apontar que Tiwanaku poderia ter sido habitada até 12.000 a.C. e que seria a cidade perdida de Atlântida, citada por Platão, sendo que os indícios disso são as informações astronômicas gravadas da Porta do Sol e o fato de que no local existia um porto para embarcações. Existem teorias de que o nome “tiwanaku” teria derivado do termo aimara “taypikala”, que significa pedra no centro, referindo-se à rocha que se situa no meio do lago Titicaca.
A Porta do Sol é conhecida em todo o mundo como um exemplo do alto grau de perfeição alcançada pela cultura pré-colombiana na América do Sul. O belo portal consiste num único e imponente bloco de andesita, pesando em torno de 10 a 13 toneladas, talhado para assumir o formato de uma porta. É impossível não gostar do lugar, que nos faz respirar história e cultura latino americana. Após o passeio por Tiwanaku a dica é almoçar no restaurante ali perto que serve pratos típicos a base de trutas do lago Titicaca (para quem não quer comer a carne de Lhama – dá um dó). A entrada é sopa de quinua (só existe na Bolívia e é semelhante a um macarrãozinho redondo e bem fino).

P&N na América Latina 2






Destino: Macchu Picchu, no Peru
Santa Cruz – La Paz e Tiwanaku

Marcela Cornelli

Jornalista da P&N

Depois de 24 horas num ônibus pelo interior da Bolívia chegamos a uma das principais cidades do país, Santa Cruz de La Sierra – que, apesar de seus muros pichados em defesa de Evo Morales, tem sido palco, atualmente, de enfrentamentos, por parte de uma elite que não representa a grande maioria do povo boliviano, ao governo de Evo. Santa Cruz foi fundada em 1560 pelos espanhóis e fica no Centro da Bolívia, tendo uma população de mais ou menos 1.500 milhão de habitantes. É em Santa Cruz que inicia o Gasoduto Brasil-Bolívia.

Em Santa Cruz tudo é muito urbano, a cultura indígena aimara e quéchua que se vê pelo interior da Bolívia agora desaparece em meio a uma cultura mais americanizada, com muito comércio, caixas eletrônicos pelas calles, várias opções de hotéis e restaurantes pelo centro da cidade, lanchonetes parecidas com o MacDonalds, porém com nomes bem peculiares como o “El Rey del Pollo”. Aliás na Bolívia há muita carne de frango e batatas (pollo e papas) e massas (pasta), são comidas baratas e dão sustância para a viagem. Ah, já ia esquecendo dos sorvetes, que também são opções baratas e deliciosas para a sobremesa e que encontram-se em heladerias pelo centro de Santa Cruz. Ficamos somente um dia em Santa Cruz de La Sierra, o tempo de descansar e retomar forças para subirmos, e muito, até La Paz, saindo de uma altitude de 416 metros de altura para 4.100 metros em El Alto e 3.600 metros em La Paz.

Em menos de 24 horas subimos uma altitude 10 vezes maior do que estávamos em Santa Cruz. Apesar dos avisos para pararmos na cidade de Cochabamba, a 2.558 metros de altitude para ambientação, resolvemos economizar tempo e dinheiro e pegamos um ônibus direto a La Paz. Na rodoviária de Santa Cruz entramos na internet e buscamos no site Mochileiros.com (recomendo) um hotel para ficar em La Paz porque sabíamos que não íamos chegar lá em ótimas condições físicas para ficar andando com as mochilas atrás de alojamento. Escolhemos um pequeno hotel pelo preço e porque, também dizia o site, era limpo e confortável. Nem sabíamos que íamos ficar bem no centro de La Paz, próximo a tudo. Foi uma ótima escolha que recomendo também (Hotel Condeza). Saímos de Santa Cruz às 17h30min do dia 16 de janeiro e chegamos a La Paz às 9h30min do dia seguinte. Já na saída de Santa Cruz, a mais ou menos uns 15 minutos de viagem, o ônibus quebrou. Que susto. Todos desceram e começou a sair uma fumaça escura da traseira do ônibus. Depois do ônibus que pegamos pelo interior da Bolívia ficamos com medo que a sucessão de ônibus quebrando pelo caminho se repetisse até La Paz. Mas, por sorte, depois de consertado, o busão agüentou todas as subidas pela Cordilheira.

A partir de Santa Cruz de La Sierra começa a Cordilheira Oriental que é uma das três cordilheiras que formam o que é chamado de Cordilheira dos Andes, as outras duas são: Cordilheira Ocidental e Cordilheira Central. A paisagem muda radicalmente e a maior parte do trajeto é de subidas, o que faz você sentir os efeitos da altitude, conhecido como "soroche". Eu tomei alguns comprimidos de um antihistamínico, mais conhecido como Dramim. O que não impediu de chegar em La Paz nauseada e com dor de cabeça, além de uma alergia pelo corpo que, segundo meu companheiro, que é professor de Farmacologia, era uma foto digna de ser publicada numa revista de dermatologia, algo nunca visto.

La Paz fica numa cratera, rodeada pela Cordilheira dos Andes. De La Paz vê-se o monte Illimani (6.400 metros de altitude) e pudemos vê-lo com o pico coberto de neve, o que é raro para aquela época do ano. O mal da altitude não vai deixar você, mas o mate de coca, as folhas de coca e um comprimido a base de ácido acetil salicílico e cafeína – o “Soroche Pills”, ajudam muito. As casas sem rebocos e as ladeiras de La Paz assustam na chegada. Mas o clima frio é quebrado quando se anda pela ruas da capital política da Bolívia (a capital do país é Sucre). O povo é simpático, hospitaleiro e muito confiável. O “Mercado de las Brujas”, o “Museo de La Coca”, a feira que acontece todos os dias bem cedinho onde as bolivianas, com seus trajes típicos, vendem variados tipos de flores, ervas, frutas, sementes e cortes de carne de porco, entre outros produtos, os cafés e até mesmo as pizzarias em La Paz, vão tornar sua estadia na cidade bem agradável.

Turistas de todo mundo fazem da cidade uma verdadeira Torre de Babel. Há muitos passeios e aventuras para se fazer na região como subir o monte nevado Chacaltaya, a 5.400 metros de altitude, que, antes considerada a pista de esqui mais alta do mundo, não anda tão nevado assim devido aos efeitos do aquecimento global. Nós escolhemos ir a Tiwanaku, conhecer a cultura mais antiga e importante do período pré-colombiano. Depois de dois dias em La Paz, seguimos viagem pelas margens do Lago Titicaca até Puno no Peru. Uma viagem surreal escutando Bach e Strauss, que vou contar na próxima segunda.

O velho do saco

Clique em http://www.observatorio.jor.br/pag_/pag_14.htm para ler "O Velho do Saco", a mais recente crônica de Míriam Santini de Abreu para o jornal Observatório, do jornalista Eduardo Schmitz.

Quem e quantos não terão adormecido, amado, morrido sob sua copa?

Míriam Santini de Abreu

Notícia de 2008:
Cientistas da Universidade de Umeå encontraram na província de Dalarna, no noroeste da Suécia, uma conífera de 9.550 anos, a árvore viva mais antiga registrada até o momento no mundo. [...] Abaixo da copa de um pinheiro de uns quatro metros de altura no parque nacional de Fulufjället, em Dalarna, se acharam restos de seu sistema de raízes na camada superior de terra pertencentes a quatro gerações distintas, com idade de 375, 5660, 9000 e 9500 anos, disse Leif Kullman, professor de geografia natural da Universidade de Umeå (Suécia) e diretor da pesquisa.
Quem e quantos não terão adormecido, amado, morrido sob sua copa?
A da foto fica em uma das raras praças de Florianópolis, SC

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Rumo a Macchu Picchu

Não perca na segunda-feira, 28, mais uma crônica de viagem de Marcela Cornelli rumo a Macchu Picchu, no Peru!

Rugosidades


Míriam Santini de Abreu

Cada cidade tem a sua rugosidade. Peço essa palavra emprestada da geografia, ou melhor, do geógrafo brasileiro Milton Santos. É um conceito absolutamente poético quando a rugosidade nos faz parar na rua e tremer o olhar. Rugosidade, explica ele em um dos seus livros, é o que fica do passado como forma, espaço construído, paisagem. É o que resta do processo de eliminar, acumular, sobrepor, “com que as coisas se substituem e acumulam em todos os lugares”. Em Florianópolis, capturei essa rugosidade, fatia do antigo sobreposta ao novo.


quarta-feira, 23 de abril de 2008

Poesia: primeira manhã do mundo


Míriam Santini de Abreu

É noite em Florianópolis e, numa taberna, amigos em volta de mesa, restauramos o dia. Ter quem nos ouça é ter a vida tecida com seda. É a salvação contra a loucura do mundo. O desenho acima é da Mimi, filha mais nova da amiga Rô. Mimi, com seus olhos grandes e açucarados, me desenhou. E vieram à tona as palavras do jornalista e poeta Fernando Karl:

"A ética humana deve ser mais profunda --- cuidar das crianças, escutar música, não deixar que a poesia seque. Em nome de não sei o quê, sempre deixam a poesia de lado, logo a poesia que é dádiva perene dos anjos. Poesia: primeira manhã do mundo."


A América Latina no discurso dos jornais

Míriam Santini de Abreu
A lingüista Eni Orlandi, em seus livros, costuma dizer que somos condenados, desde que nascemos, a interpretar. Precisamos dar um sentido ao mundo, dar um sentido às coisas que acontecem nele. Assim, pode-se dizer que o jornalista é uma espécie de interpretador profissional, porque seu trabalho é produzir discursos sobre o mundo e fazê-los circular em diferentes meios. Todos os dias, lemos textos e ouvimos jornalistas que nos trazem notícias de fatos próximos e distantes, e essas notícias são interpretações. Por isso é impossível falar em jornalismo isento. Ficar isento é renunciar à interpretação. Isso é uma impossibilidade para o ser humano, porque parar de interpretar significa deixar de perceber o mundo, significa morrer.

A palestra do escritor Vito Gianotti, realizada no dia 18 de abril na Assembléia Legislativa de Santa Catarina, trouxe à tona as implicações disso na forma como a mídia em geral trata a América Latina. Gianotti, que também é coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação, cujo foco principal são os estudos sobre o jornalismo praticado em sindicatos, abriu a programação do II Seminário de Imprensa Sindical, promovido pelo Sindprevs/SC, o Sindicato dos Previdenciários.

Gianotti deu vários exemplos sobre a forma como a chamada “grande imprensa” trata a América Latina, principalmente quando estão envolvidos movimentos populares. Um deles trouxe à tona a cobertura jornalística sobre a RCTV, emissora da Venezuela cuja concessão para o sinal aberto não foi renovada pelo presidente Hugo Chávez. Durante semanas, emissoras como a Globo, revistas como a Veja e jornais como O Estado de S. Paulo falaram em “atentado à liberdade de imprensa” e que a “democracia estava ameaçada”.

Gianotti disse que foi omitido, por esses meios de comunicação, que em 2007 estavam por expirar a maioria das concessões de TV no Brasil, inclusive a da Globo. Além disso, de acordo com estudo do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), cerca de 40% das atuais concessões brasileiras apresentam irregularidades.

Outros fatos, ainda mais graves, também foram omitidos. Os que Gianotti listou estão disponíveis em vários artigos na Internet, entre os quais o de Edgard Rebouças, jornalista, doutor em Comunicação, professor da Universidade Federal de Pernambuco e membro da coordenação executiva da campanha Quem financia a baixaria é contra a cidadania, da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. Vale a pena conhecer um trecho:

“Também não foi dito que, já em 1976, a RCTV foi tirada do ar por três dias por veicular notícias falsas; em 1980 ficou 36 horas fora do ar por causa de sua programação sensacionalista; em 1981, foram 24 horas de penalidade por exibir cenas pornográficas em horário inadequado; em 1989, mais 24 horas fora do ar por ferir a lei ao veicular publicidade de cigarro; e em 1991, teve um de seus programas humorísticos tirado do ar pela Corte Suprema por ridicularizar as pessoas.

Não bastasse todos esses problemas relativos ao conteúdo, há ainda os processos na Justiça por sonegação fiscal entre 1999 e 2003, e por veiculação dos discursos do almirante Molina Tamayo e dos generais Nestor Gonzáles e Guaicaipuro Lameda em favor do golpe militar de 11 de abril de 2002. Ambos os casos: enganar o fisco e incitar o povo a um golpe de Estado, são ações puníveis constitucionalmente em qualquer democracia do mundo; pior ainda se tratando de uma concessão pública como as emissoras de televisão.”

Outro dado apresentado por Gianotti é que a não-renovação de concessões é normal. A Administração Federal de Comunicações (FCC na sigla em inglês), um órgão do governo dos Estados Unidos, fechou 141 concessionárias de rádio e TV entre 1934 e 1987. Em 40 desses casos, a FCC nem esperou que acabasse o prazo da concessão. Os dados foram levantados por Ernesto Carmona, presidente do Colégio de Jornalistas do Chile, no artigo intitulado Salvador Allende se revolve em sua tumba: senadores socialistas comparam Chávez a Pinochet. Para ler o original basta acessar
http://www.congresobolivariano.org/modules.php?name=News&file=article&sid=3491

Gianotti também falou sobre a nacionalização do gás boliviano, cuja cobertura, pela grande mídia no Brasil, igualmente omitiu fatos. “Basta lembrar que o presidente da Bolívia, Evo Morales, tinha essa proposta como uma das principais em sua campanha eleitoral, e deu vários avisos à Petrobras antes de tomar a medida.” O palestrante também disse que o gás natural é vital para a economia boliviana, e estava sendo vendido a preços sob medida para os interesses do Brasil, mas não para os da população do país vizinho. “O tom da cobertura jornalística foi quase o de uma declaração de guerra à Bolívia”, emendou.Quem deseja saber mais sobre a Venezuela pode ver o premiado documentário A Revolução não será televisionada, disponível, com legendas em português, em
http://video.google.com/videoplay?docid=-3258871973505291549

No seminário, Gianotti também falou sobre a importância da imprensa sindical e da necessidade de os meios de comunicação de sindicatos falarem sobre os assuntos que afetam o dia-a-dia dos trabalhadores, mas sem deixar de lado temas mais amplos.

terça-feira, 22 de abril de 2008

A civilização muitas vezes nos desumaniza

Míriam Santini de Abreu
Quase uma hora de madrugada de quarta-feira, 23, e os portais de notícias já estão recheados com informações sobre o tremor de terra sentido em vários estados do país. O povo, amedrontado, foi para a rua. Descobriu-se que esse espaço público geralmente abandonado quando a noite chega, porque palco de violência, virou refúgio mais seguro que o lar. Uma atriz deu entrevista para uma emissora de tevê comentando que ela e os vizinhos haviam rapidamente deixado os apartamentos para ficar na calçada e que, apesar da gravidade do fato, na rua estava a maior festa. Nessas horas, as pessoas se encontram e se olham, talvez pela primeira vez. A civilização muitas vezes nos desumaniza sem que percebamos. E em meio à ruína ou ameaça de ruína de nosso modo de vida é que reencontramos os extremos: a selvageria e a solidariedade mais profundas.

P&N troca experiências

A editora de P&N, Elaine Tavares, apresentou a experiência da revista no II Seminário de Imprensa Sindical, realizado no dia 18 de abril na Assembléia Legislativa de Santa Catarina, com organização do Sindicato dos Previdenciários do Estado, Sindprevs-SC.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

A caminho de um ano de vida de Desacato

A equipe do Desacato - http://www.desacato.info - já está pensando na programação que vai comemorar um ano de existência do Portal, em setembro. A equipe de Pobres & Nojentas convida os leitores a dar uma contribuição de qualquer valor para viabilizar a realização da atividade. Motivos não faltam!

Por que contribuir com o Portal Desacato?

Porque é fundamental consolidar e ampliar a Soberania Comunicacional dos Povos em oposição ao modelo monopólico mediático dependente do capitalismo imperialista.
Porque Desacato se dispõe desde 25 de agosto de 2007 a batalhar ativamente na ‘guerra comunicacional’ que a oligarquia e as transnacionais conduzem contra os interesses básicos dos povos.
Porque Desacato quer contribuir, e de fato já o faz, à integração do Brasil com todos os países da América Latina, e não exclusivamente com os Estados Unidos e Europa ocidental.
Porque Desacato se integra à luta internacional de todos os povos que se mobilizam pelos seus direitos à autonomia e independência e soberania, em todos os continentes (indígenas, palestinos, africanos, bascos, etc.)
Porque além de informar, educa, forma e acompanha a mobilização dos povos na busca da sua Soberania.
Porque não tem fins lucrativos a serviço de nenhuma organização, partido político, confissão religiosa, pessoa física ou projeto de poder individual ou institucional. Desacato milita por convicção e dever latino-americanista, pela liberdade da Pátria Grande.

Como contribuir:

Deposite sua doação na conta da secretária executiva: Vanessa Bortucan.
Doações pessoais de R$ 10,00, R$ 25,00 ou R$ 50,00 mensais.
Doações voluntárias anuais ou semestrais à vontade do doador.
A conta bancária do Portal Desacato é a seguinte:
Caixa Econômica Federal / agência 1877 – operação 013 /conta poupança 94609 – 9
Titular: Vanessa Bortucan Oliveira

Informe o depósito no e-mail desacato.brasil@gmail.com

P&N na América Latina 1



Destino: Macchu Picchu no Peru

Saída: dia 10 de janeiro de 2008

Florianópolis - Campo Grande - Corumbá - Puerto Quijarro (Bolívia) - Santa Cruz de La Sierra (Bolívia)

Marcela Cornelli
Jornalista da
P&N

Viajar como mochileiros para Macchu Picchu no Peru por terra, indo pela Bolívia, é tarefa para quem gosta de um pouco de aventura e não se importa de passar algumas privações. A viagem é linda, o povo acolhedor e a cultura maravilhosa. Eu e meu companheiro partimos rumo ao Peru, saindo da rodoviária de Florianópolis no dia 10 de janeiro num ônibus “executivo”, sem água, um dos bancos não baixava, enfim, sem grande conforto, rumo a Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Depois de 22 horas de viagem e um pneu furado chegamos à cidade, às 13h20min.
Foi o tempo de fazermos uma parada estratégica na casa de amigos, comermos, tomarmos um banho e à noite seguirmos viagem, agora sim num ônibus muito bom da empresa Andorinha (tenho que recomendar porque realmente a empresa tem ônibus muito bons) para Corumbá, cortando parte do Pantanal, já na divisa de MS com a Bolívia.
Chegamos a Corumbá às 5h30min e pegamos dois táxis para cruzar a fronteira (o do lado brasileiro saiu R$ 30,00, muito caro - o do lado boliviano, R$ 10,00) até a Estação Quijarro da Ferrovia Oriental para pegar o famoso Trem da Morte, com destino a Santa Cruz de La Sierra, nossa próxima parada. Não é necessário passaporte, somente carteira de Identidade e a carteira internacional de vacina contra a febre amarela para cruzar a fronteira. Entramos na fila na Estação Ferroviária um pouco antes das seis da manhã. A bilheteria abria às 8 horas. Éramos mais ou menos os números 70 e 71 da fila que já tinha umas 200 pessoas. Corria a informação de boca a boca que só havia 40 bilhetes para vender. E nós que havíamos programado comprar um bilhete mais caro da classe Super Pulmann, começamos a ver que o sonho de pegar o Trem da Morte ficaria para uma próxima vez.
Os portões abriram às 8 horas e, em meio a uma grande confusão e correria, pulamos para o número 100 da fila. Estávamos em desvantagem por causa das pesadas mochilas nas costas. Ficar horas na fila, embaixo de chuva e com fome, guardando o lugar não adiantou nada. Passagem para o Trem da Morte só dali a uns três a quatro dias. Como não podíamos e nem queríamos atrasar a viagem por causa do tempo e também, é claro, do gasto com hospedagem em Porto Quijarro, decidimos ficar mais um dia naquela cidade quente e em acomodações simples e baratas, fazer a mesma “via sacra” no dia seguinte e só então optar por ir de ônibus em último caso, porque era época das chuvas e o caminho podia ser muito perigoso. Mais um dia acordando cedo, nada de passagens.
Conversamos com pessoas do local e outros brasileiros que já estavam ali por dias tentando conseguir passagem, como uma professora do Rio de Janeiro que viajava sozinha e que passou o dia me fazendo companhia na entrada da hospedaria contando sobre sua viagem a Cuba, sobre os charutos cubanos e remédio para vitiligo que trouxe escondido do país para o Brasil.
Só os personagens que encontramos na viagem dariam uma bela história à parte. Todos nos disseram que seria muito difícil conseguir as passagens para o Trem da Morte em janeiro. Observamos que nem mesmo mães com crianças no colo conseguiam os bilhetes. Não tivemos nenhuma prova, mas ao conversar com os moradores de Puerto Quijarro entendemos que os bilhetes são vendidos pelas agências de turismo aos seus clientes, que podem pagar os caros pacotes fechados de viagens, antecipadamente. Alguns amigos paulistas que conhecemos em Puerto Quijarro encararam a proposta de um taxista de ir até uma localidade próxima e pular no Trem em movimento.
Encontramos esses mesmos amigos em La Paz dias depois. Eles disseram que revezaram às 24 horas de trem em um único banco para três pessoas, sem banheiro, enfrentando muito calor. Então dissemos a eles que o Trem da Morte até virou luxo perto da “Flota de la Muerte” como brincavam os turistas, que, como nós, encararam a ida de ônibus pelo interior da Bolívia por também 24 horas, empurrando o ônibus atolado, sem banheiro, e lotado com mulheres e crianças dormindo no corredor. A viagem pelo interior da Bolívia passa por povoados como El Carmem e Robore antes de chegar Santa Cruz de La Sierra, umas das principais e maiores cidades da Bolívia.
No caminho muita limonada servida em sacos plásticos e de canudinho, muita água, cuñape (o pão de queijo boliviano) paisagens lindas e a companhia de bolivianos, brasileiros, norte-americanos, peruanos e da simpática Deise, uma boliviana que vive no Brasil e trabalha como costureira em São Paulo e estava indo a Santa Cruz visitar a família. “A vida em São Paulo como costureira é difícil, mas é um pouco melhor do que na Bolívia, acho”, disse emocionada mostrando as fotos dos três filhos que ficaram com o marido no Brasil. O Ônibus atolava, quebrava, sofria nas subidas e ficava sem freios nas descidas, parava para revistas de policiais que tiravam até os parafusos dos pneus para ver se não tinha drogas. Os bagageiros não fechavam direito e eu ficava sempre espiando pra ver se as mochilas não caiam.
Passei a noite em claro, a região permitia ver o céu todo estrelado e até minha claustrofobia - o ônibus quase não tinha janelas que abriam e quando abriam só abria um pedacinho - ficou sobre controle na expectativa de chegar ao nosso destino. Foram 11 dias até chegarmos a Macchu Picchu. Dias de aventuras que aqui não caberiam todas, mas que tentarei contar nos próximos textos da série, com o objetivo de dar dicas para quem nunca foi e de relembrar a viagem junto com quem já chegou lá, na cidade perdida dos Incas.

sábado, 19 de abril de 2008

América Latina em viagem


A jornalista Marcela Cornelli (na foto), da equipe de P&N, a partir desta semana, alimentará o blog com vários posts sobre a viagem que fez, junto com o namorado George, ao Peru e Bolívia. A série vai se chamar P&N na América Latina. Aguarde!

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Roupandorinha


Míriam Santini de Abreu


Capeladeconcha, murocaiado, uvapreta... Canto de mundo onde pano e grampo viram roupandorinha.

Emulsão de Scott

Míriam Santini de Abreu
Uma surpresa da revista Careta de fevereiro de 1916, que obtive na página www.estantevirtual.com.br É uma propaganda da Emulsão Scott, um óleo de fígado de bacalhau que deveria ter poderes mágicos, tantas eram as qualidades propaladas. O Pepe tomava quando pequeno, e lembra-se bem do pescador, de chapéu, carregando o peixe.

Casinha de panelas

Míriam Santini de Abreu
No porão de minha tia-avó, uma paneleiro da série "INSFM": isso não se faz mais. Minha mãe tinha um desses, prateado, um pouco descascado. Nele, não bastava jogar as panelas, como se faz hoje nesses balcões modernos de cozinha. Era preciso encaixá-las com paciência, as menores nas maiores, as com com cabo sempre as mais rebeldes. Às vezes, na pressa do encaixe, as panelas caíam do paneleiro em grande algazarra, era preciso começar tudo de novo. Poupam-nos o tempo hoje, mas esse tempo poupado era antes gasto nesses gestos ditos desnecessários. Seriam desnecessários?

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Ó Linda!

Crédito: Periodistas Pobres & Nojentas

Vista do Alto da Sé, centro histórico de Olinda, Pernambuco

terça-feira, 15 de abril de 2008

Dynamogenol

Míriam Santini de Abreu
Leio que, segundo documentos publicados na terça-feira, 15, o laboratório americano Merck pagou pesquisadores para assinar seus estudos clínicos e artigos sobre o Vioxx, antiinflamatório retirado do mercado por estar relacionado a acidentes cardiovasculares. Foi revelado que a Merck também pagava certos pesquisadores para assinar estudos e testes clínicos realizados por outras pessoas. Parece argumento de filme, no melhor estilo “O Fugitivo”, com Harrison Ford, que mostra as sacanagens da indústria farmacêutica. Hoje a propaganda dos remédios usa termos científicos e o aval dos pesquisadores. Antes usava o modo de dizer das pessoas. Achei uma propaganda do Dynamogenol, lá do início do século 20, que era assim, mantida a ortografia:

Gerador da força
Especifico da neurasthenia
Soffreis? Cura:
Curai-vos emquanto é tempo usando
Dynamogenol
Dôres no estomago, Falta de appetite, Nervosismo, Dôres no peito, Anemia, Fraqueza nas pernas, Palpitações, Insonmia, Debilidade, Terrorres nocturnos, Tuberculose
Único Tonico que cura a debilidade dos velhos

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Amigos para sempre

Por Míriam Santini de Abreu

“Amigos para sempre” é slogan de uma propaganda que vi, duas semanas atrás, na Folha de S. Paulo, de um “PET Memorial”. Dizia: “Seu melhor amigo merece seu carinho e respeito... eternamente!”. O lugar tem cremação, capela São Francisco, salas de velório e urnas personalizadas. Não é novidade que, nesses tempos, tudo vira mercadoria, mas surpreende o avanço dos negócios que envolvem animais de estimação. Em 2003, a notícia era de que o mercado de pet crescia cerca de 17% ao ano no país, com faturamento de aproximadamente US$ 750 milhões.
O PET Memorial me fez lembrar de uma entrevista feita há alguns anos com a filósofa Sônia Felipe, da Universidade Federal de Santa Catarina. Recordei das palavras dela por constatar o quão contraditória é essa realidade: muitos animais domésticos, como cães e gatos, têm mais regalias do que seres humanos; boa parte, porém, é deixada nas ruas, muitos até com pedigree, experimentando a fome e o abandono. Também é contraditório esse imenso amor que muitas pessoas têm por animais de estimação, enquanto preferem ficar alheias, por exemplo, ao impacto econômico, social e ambiental do consumo de carne.
Sônia Felipe costuma dizer que os animais são seres com “alma”, animados, no sentido filosófico, e não religioso, da palavra. Eles movimentam-se para viver, fugir, com o ânimo, o espírito próprio de cada espécie. Cada animal, ensina Sônia, tem a sabedoria de viver em seu próprio corpo, seja qual for a forma como essa vida se expressa, e de nutrir-se conforme sua necessidade. Quando preso, o bicho é alimentado pela mão humana, que desconsidera o que aquela forma de vida precisa para se manter. O animal vira um produto, uma mercadoria.
Nesse processo se “naturaliza” um cerimonial típico da modernidade: matar para celebrar a vida. No batismo, no casamento, na comemoração de aniversário, algum bicho vira churrasco de comemoração. Sônia observa que lobbies poderosos impõem a dieta adotada pelas pessoas. Hoje, aponta a pesquisadora, os grandes supermercados são locais para aluguel de espaço onde as grifes expõem seus produtos. São, diz a filósofa, grandes edifícios de derivados de bichos mortos. Neles, o animal não interessa, e sim as partes de seus cadáveres.
No fim da contas, é isso: cachorro pobre tenta matar a fome na rua; cachorro rico é cremado na capela São Francisco e enterrado sob um bosque, enquanto, numa bela casa ou apartamento, os donos celebram a lembrança do bicho com um belo churrasco.

Para quando eu me tornar um verme...

Jussara Godoi, de Florianópolis

Já ando um pouco cansada de procurar sentido para a existência humana. Estou achando que não somos frutos de nenhum "projeto" divino, portadores de alguma coisa que, ao morrermos, nos transforma em algo melhor ou pior. O pior é que seremos comidos pelos vermes, o resto será lucro! Estou achando que não somos nada além de uma divisão celular. Tal qual a que aprendemos nas nossas aulas de Biologia. Mas como só nós, os Humanos, possuímos essa chance que estudar sobre nós mesmos, seguimos achando que para nós, além do tempo determinado de existência, assim como qualquer outro animal, também resta uma segunda chance. Estou achando que apenas possuímos células diferenciais! Queria tanto acreditar que temos um "alguém" que nos projetou e que estará em algum lugar da "eternidade", esperando pelo dia da nossa morte, para nos dar uma outra vida sem sofrimento. Ah, como eu gostaria de acreditar! Mas não. Tudo o que consigo visualizar é um fim nada agradável para nossos corpos. Que, assim como qualquer outro animal, entrará em decomposição e desaparecerá, consumido pelos vermes. Peço desculpa, caro leitor, por esta a pequena crônica, mas não poderia deixar de expressar minha total desilusão com as expectativas de "vida após a morte". E digo isso com a tranqüilidade de quem não acredita que alguém irá se revirar em algum lugar da "eternidade". Bem, como sei também que estou escrevendo para pessoas com um elevado senso crítico, elas não me darão crédito algum.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

A vida brotando

A equipe de Pobres & Nojentas gosta de brincar com a mentora da revista, a jornalista Elaine Tavares. Dizemos: "Se alguém inventar de criar a Associação dos Vagalumes sem lume do Campeche (bairro onde ela mora), Elaine será sócia, e fará a luta para lhes devolver o lume!"
E isso porque Elaine é generosa com o seu tempo. Às vezes, até demais. E ainda sobram horas para cuidar de plantas e bichos, como os gatos que a tem (falamos assim, "a tem", porque com Elaine o norte é o sul, as coisas são não-coisas, e então ela não tem gatos; os gatos a tem). Elaine filmou os seus gatos, e chamamos a atenção para um deles, que se move com a própria sombra de uma forma especialmente altiva e serpenteante, fazendo jus à condição de um Felis Catus da família Elainnaeus!

terça-feira, 8 de abril de 2008

Ônibus

Míriam Santini de Abreu
Às vezes, saio de casa com máquina fotográfica, na esperança de, ao cruzar a ponte Continente-Ilha, apanhar um dia sem nuvens num filminho tosco. Mas é difícil. Há filhotinhos de nuvem, sonhos de nuvens, rastilhos, pequenos novelos brancos. Quem sabe agora, no outono... Então me distraio no ônibus. A vendedora de pastéis sempre está no da manhã, quase o das oito horas. É tão séria, sempre olhando para um ponto lá fora, os braços robustos. Noutro dia havia um gurizote bonito, uns 17 anos, a camisa passada. Noto isso, não passo roupa, vivo meio amassada. As duas mãos de menino seguravam, no colo, uma pasta transparente dentro da qual - pude ler - estavam currículos. Onde iria? Uma vez um velho parecia chorar. Eu quase choro também. A vida na cidade às vezes fere.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Jardim de Inverno


O vendaval fustiga as árvores que batem nas vidraças do jardim de inverno do senhor Caligari. Ele fuma erva, sorve líqüido. Uma deusa aquática, que ali está junto ao abajur, dirige-lhe a voz, de modo familiar, para lhe perguntar alguma coisa, algo banal que seja, mas, em verdade, para retê-lo consigo, e sentir a língua escamosa dele na sua pele branca.
Com os dedos hábeis e chuvosos o senhor Caligari ergue a saia da deusa e a violenta ali mesmo entre as plantas do jardim de inverno. “Que amor mais escuro, choram árvores da noite – galhos contra muros” – árvores que batem cada vez mais fortes na ampla janela envidraçada.
Antes de dobrar a esquina, ela voltou a cabeça, e, na forma do costume, disseram adeus com a mão.

Fernando José Karl
Foto de Angela Svoronou

domingo, 6 de abril de 2008

Transparente Demais


A jornalista Rosangela Bion de Assis, que diagrama a revista Pobres & Nojentas, irá lançar no dia 5 de maio o livro de poesias "Transparente Demais". Aguarde mais detalhes ao longo do mês!

sábado, 5 de abril de 2008

Vestido rosa antigo de crepe

Míriam Santini de Abreu

Minha mãe comenta, por telefone, que vai ao casamento de uma sobrinha. Tomo o primeiro susto. Há anos ninguém casa na família, que parece pouco afeita a ligações formais. Ao comentar que vai falar com amigas para tomar emprestado um xale chique, tomo o segundo susto:
- Vai com que roupa, mãe?
- Com o conjunto da Ilse! – ela responde.
Explico. Há uns 20 anos, a mãe pediu à amiga Ilse, uma conhecida estilista de Caxias do Sul, que lhe fizesse um conjunto chique para o casamento de um outro sobrinho. A Ilse fez uma saia plissada de crepe com forro de cetim e uma blusa de manga comprida com um detalhe drapeado na cintura. A cor, uma rosa “antigo”, como define a mãe. Lembro-me de que, no dia em que ela trouxe as duas peças para casa para a primeira prova, disse que também desejava muito ter os retalhos, caso fosse necessária uma reforma no conjunto, mas não tinha coragem de pedi-los de volta.
Depois de minutos tentando convencê-la a falar com a estilista, fiquei exasperada:
- Ai, mãe, até parece que tu tem medo dessa Ilse!
Nunca me esqueci desse último comentário porque, naquele momento, eu registrava toda a conversa com um pequeno gravador comprado dias atrás. No que mencionei o tal medo, vi que um dos cachorros da vizinhança, sabe-se lá como, despencava de um muro com uns dois metros de altura que faz o limite entre o beco e a nossa casa. Comecei a gritar como uma louca:
- Ahhhhhhhhhhhhhhhh! Ahhhhhhhhhhhhhhhhh! O cachorro caiu! O cachorro caiu!
E lá ficou, gravado, o meu gritedo, meio ridículo, sempre lembrado quando se fala do vestido de crepe. A história só não é mais anedótica do que a conhecida frugalidade de minha mãe, não só em relação a roupas, mas a tudo. Tem as mesmas roupas e sapatos há anos, a maioria dados por amigas e conhecidas. Eu, que só viajo com o que posso carregar um uma bolsa apenas- seja para Caxias ou para outro lugar - sempre vasculho as gavetas dela para me vestir. E me decepciono:
- Credo, só tem paninho!
E ela, quando todos os filhos moravam em casa, volta e meia fazia o que chamava de “dar uma limpa”, que significava doar tudo o que não usava ou que não tivéssemos vestido nas semanas anteriores. Eram dias de medo. As coisas sumiam do guarda-roupa e da penteadeira. Não adiantava xingar nem ranger os dentes. E ela continua a “dar limpas” nas próprias roupas sempre que ganha alguma peça nova.
Ao longo dos anos, salvaram-se apenas as peças do enxoval dela e do meu, uns sapatinhos de lã e babeiros lindamente bordados que usei quando era criança e, cuidadosamente enrolado numa fronha, o conjunto de crepe rosa antigo da Ilse.
Na nossa conversa por telefone, ela profetizou:
- Vai durar para sempre. Tu vai ficar velha e também vai usar.
Não duvido.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Artistas de Recife

Veja no filme a arte de Souza, artista de Recife (Pernambuco)


Crédito: Periodistas Pobres & Nojentas

terça-feira, 1 de abril de 2008

Tec-tec-tec...

Míriam Santini de Abreu
Dia desses recebi uma carta do amigo jornalista Darci Demetrio, que mora em Porto Alegre. Não bastasse ter ele enviado uma bela croniportagem para o festival promovido por Pobres & Nojentas, também me fez desfiar lembranças igualmente deliciosas. Os endereços, Demetrio datilografou. Detalhe: o S, de Santini, ficou um pouco acima da linha, e o polis, de Florianópolis, um pouco abaixo.

Há pouco mais de um mês eu e o amigo Samuel Frison já havíamos conversado sobre máquinas de escrever. Ele estava acompanhando a minissérie Queridos Amigos e, como eu, também vira o filme Desejo e Reparação. Em ambos, elas são parte vital do cenário, com aquele tec-tec-tec tão... século 20. O Samuel chegou até mesmo a colocar a dele no centro da estante da sala, dividindo espaço com os livros que mais ama. A geração anos 80 já começa a ficar saudosista.

E então também me lembrei da Remington comprada logo que entrei na faculdade de Jornalismo, em 1990. Ao contrário do Samuel, não guardei a máquina. Num entre tantos tempos de dinheiro curto, tive que vendê-la.

Quando entrei no jornal Folha de Hoje, em Caxias do Sul, naquele mesmo ano, a redação já estava informatizada. Mas, logo depois da primeira entrevista que fiz, num plantão de feriado, corri para casa e datilografei todo o dito e o visto na Remington. No dia seguinte, quando, no jornal, recorri às folhas para ler e digitar o texto no computador, a editora riu:
- Nossa, tu datilografou tudo!
A minha Remington já me chegou antiga.

Assisviajantes VIII


Rosangela Bion de Assis

Chegamos em Roma no fim de tarde de um domingo quente e cheio de sol. Fomos primeiro ao Coliseu, passamos pela "via dei fiori reale" e ao monumento à Pátria – homenagem a Vitório Emanuelle II, o unificador do país. Foram as construções mais impressionantes que eu já havia visto. As ruas estavam interditadas e a multidão de turistas caminhava feliz. No dia seguinte percorremos os principais pontos turísticos do centro de Roma, incluindo o Capitólio, o Panteon, o foro Romano e o Coliseo por dentro, uma loucura de beleza por todos os lados. Rimos muito ao passar pelo que chamam de "circus maximus", um local que abrigava corridas de bigas na época do império romano. Hoje é apenas uma área ao ar livre, barro e nada de ruínas. Me neguei a fotografar aquilo.

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