terça-feira, 13 de março de 2012

Reforma do Código Florestal em debate na UFSC

Seminário em defesa do SUS e contra a privatização

O Sindicato dos Trabalhadores em Saúde (Sindsaúde-SC) está convocando toda a sociedade catarinense a se unir em defesa de um dos maiores patrimônios do povo brasileiro: a saúde pública.

O SUS (Sistema Único de Saúde) foi construído a partir da mobilização popular, e hoje é uma política pública de Estado, de bem estar social. Contudo, o avanço do neoliberalismo coloca a saúde como foco central da nefasta política de estado mínimo e tenta abrir o mercado da saúde para a exploração do capital, como se esse bem do povo pudesse ser mercantilizado.

Não bastasse o Hemosc, Cepon, Hospital Infantil de Joinville, o Hospital de São Miguel D'Oeste, agora a Secretaria de Estado da Saúde tenta privatizar o SAMU, que está com edital aberto para contratação de outra organização social.

Esse assunto será debatido em seminário em defesa do SUS e contra a privatização.

Seminário em defesa do SUS e contra a privatização
Data: 14 de março de 2012
Horário: 14 horas
Local: Centro de Ciências da Saúde da UFSC, Florianópolis

quinta-feira, 8 de março de 2012

A mulher de Cuzco

Elaine Tavares

Dia 8 de março, tempo de pensar a vida a partir da “mulheridade”. Hora de refletir sobre o que é viver o feminino num mundo patriarcal, dominador e cheio de preconceitos. É comum, nessa data, lembrar das operárias queimadas por conta da luta por melhorias nas condições de trabalho, nos Estados Unidos, ao final do século XIX. Eu as reverencio, certamente, mas hoje vou falar de Maria, uma mulher de ascendência inca, que vive na cidade de Cuzco, no Peru.

Maria é uma dessas mulheres, herdeira dos povos originários, prisioneira de um atávico silêncio. Eu a vi vendendo pulseiras na praça de armas, mas não consegui estabelecer contato na primeira vez que a encontrei. Resmungou alguma coisa que ficou difícil de compreender em função de estarem suas bochechas cheias de folha de coca, as quais mascava lentamente. Foi só no dia seguinte que finalmente nos conhecemos. Ela veio a mim. O corpinho fraco, de costas curvadas, se achegou sem que eu percebesse. Naquela manhã de fevereiro eu chorava desconsolada, sem procurar abafar os soluços. Eu vivera uma odisséia pelas estradas de “nuestra América” para chegar até ali e, na porta de entrada do maior monumento da comunidade inca, não conseguiria chegar. O valor da passagem do trem até Machu Pichu era um absurdo, praticamente o mesmo tanto que eu pagara para chegar no Peru, percorrendo Paraguai, Argentina e Bolívia.

Mostrando que apesar do passar do tempo, tudo seguia muito igual, uma empresa espanhola é quem tem o domínio do caminho e, para chegar até a cidade perdida, havia que se aceitar as regras e o preço. Podia-se ir caminhando, mas, para isso, era preciso ter um guia e toda uma equipagem que, igualmente, encarecia a viagem. Sozinha, sem maiores informações, resolvi chorar. Sonhara com esse encontro por anos a fio e agora morreria na praia. Pensando assim eu me acabava em lágrimas bem em frente a enorme catedral – também espanhola - aproveitando para atirar sobre ela milhares de maldições.

Foi aí que a mulher inca se acercou. Munida de sua sabedoria ancestral ela percebeu que ali estava uma companheira, talvez pelo ódio que fuzilavam meus olhos em direção às construções espanholas que margeiam a praça. Ainda mascava as folhas de coca, mas eu a compreendi muito bem. “Que pasa, nena?”

E eu desandei a falar do tanto que havia esperado para conhecer Machu Pichu e que agora não poderia, por não ter dinheiro suficiente. Ele me olhava com os olhos mansos. Então, solene, perguntou. “Veniste para sacar fotos o para saludar a los dioses?” Então foi a minha vez de ficar em silêncio. Aquelas gentes já deveriam andar fartas de ver milhares de turistas, com suas máquinas potentes, a caminhar pelas pedras sagradas desfilando suas posses e tirando fotos para os álbuns familiares, pouco se importando com a histórica dominação, até hoje visível. “Saludar los dioses”, respondi, sem titubear.

Então ela me convidou para segui-la. E lá fui eu, esquecida das lágrimas, pelas ruelinhas cuzqueñas, cheias de caminhos internos lotados de barracas de artesanato. Numa delas, Maria entrou. Lá dentro, uma profusão de ervas, ossos e outros instrumentos mágicos davam conta que aquele era o reduto de uma mulher especial. Ela procurou entre as coisas um saquinho cheio de pó e o passou para mim. Disse que se eu queria render homenagens aos deuses não precisava ir a Machu Pichu. Bastava subir, a pé, pelo lado norte, até Sacsayhuaman e lá fazer uma singela celebração. Ensinou algumas palavras do seu idioma e pediu que eu cantasse para os deuses, podia ser na minha língua mesmo. Aquilo seria o suficiente para eu mostrar meu respeito e faria com que a viagem não tivesse sido em vão. “Ellos saberán”, sentenciou. Então, segurou as minhas mãos num gesto de despedida e seus olhos indicaram: vai!

Eu fui e encontrei os deuses. Foi o suficiente. Aquela jornada já valera. Eu estava feliz. E foi lá que encontrei também um pessoal que deu a dica de outro caminho para Machu Pichu, bem mais barato, no trem usados pelas gentes locais. Já nem importava mais. O encontro essencial se fizera. Ainda assim eu subi até a cidade sagrada. Não tirei fotos. Não precisava. Tudo estava cravado em mim.

A lição maior me deu Maria, a inca. Mulher e feiticeira, sacerdotisa de Inti. Com toda a carga da opressão de 500 anos nas costas e na vida, foi capaz de sentir a desolação de uma viajante branca e, solidariamente, ensinar o caminho dos deuses, os seus. Forjada no aço da dor - da invasão, do genocídio, da submissão - ela encontrou espaço para a ternura e abriu fendas no seu silencio milenar. Fez encontro, partilha, comunhão. É essa mulher que quero sempre ser. Dura na luta, mas pronta para gesto mágico do encontro amoroso. Fibra e amor, juntos - tal qual já ensinara el Che – no caminho da libertação que há de chegar. E é essa imagem que compartilho hoje, dia da mulher, com todas as companheiras e com os varões, também capazes de compreender...

Audiência Pública vai debater a criminalização dos movimentos sociais e a luta por moradia

O Comitê Florianópolis em Solidariedade ao Pinheirinho e em Defesa da Moradia participa de Audiência Pública no dia 16 de março, às 15 horas, no Plenarinho da Assembléia Legislativa de Santa Catarina, que debaterá a Criminalização dos Movimentos Sociais em Santa Catarina e no Brasil. A audiência deve contar com a presença de lideranças da luta do Pinheirinho e da luta por moradia em Florianópolis. Além disso, neste dia 9 de março, às 13h30min, representantes do Comitê e lideranças comunitárias participam de entrevista no Floripa em Foco, da TV Floripa (Canal 4 da Net) para falar mais sobre esta luta no Estado.

quarta-feira, 7 de março de 2012

PONTA DO CORAL: começa a derreter a ponta do iceberg da CORRUPÇÃO

Carta Aberta à População, às autoridades e ao Ministério Público

Apesar da tentativa que até então estava sendo orquestrada pela Hantei, em defesa de seu empreendimento na Ponta do Coral, como se fosse do interesse e da vontade da maioria da cidade, e que este cumpria o rigor da Lei, o fato é que bastaram duas noites e uma hora cada de debate na TVCom RBS, para tudo ser desmascarado, pois a ilegalidade e improbidade administrativa é a base de sustentação do projeto da Hantei na Ponta do Coral.

Mesmo com a formatação dos dois debates que evitou de colocar na mesa a Hantei e a Prefeitura X Movimentos Sociais, e até com o uso de noticias paralelas que jogaram no meio do último debate para dispersar a discussão e atenção, mesmo assim caiu por terra o castelo de areia arquitetado pela Hantei e amplamente divulgado pela imprensa. A postura firme e clara da SPU, Superintendência do Patrimônio da União, manifestada pela Dra. Isolde Espíndola, não deixou dúvidas ao dizer que a Lei 180/2005, aprovada pela Câmara e sancionada pelo Sr. Dário Berger, é ilegal pois não pode ser repassado area pública de marinha para empreendedor privado, e muito menos autorizar construção de aterro sobre o mar da Baía Norte. Deixou claro que Prefeitura e a Nova Próspera, a proprietária da área, já estão notificados pelo SPU desta situação desde 2005 e que se encontra tramitando em Brasília, sendo analisado pela Advogacia Geral da União o pedido de anulação da Lei 180/2005 formulado pelos Movimentos Sociais e pela Superintendência do Patrimonio da União-SC.

Nossa participação nestes debates deixou claro que a população não quer a destruição da natureza, mas sim um desenvolvimento sustentável da cidade e com respeito às suas características ambientais e culturais (como demonstram as pesquisas encomendadas pela RBS, feitas pelo Instituto MAPA em novembro de 2011). Deixamos claro que existem outras possibilidades de ocupação mais racional e sustentável para aquela área, e que cumpra a sua função social como determina a Constituição Federal, voltada ao interesse da municipalidade e sem ferir o direito patrimonial do proprietário da área privada e da área pública de marinha que corresponde a 60% da Ponta do Coral.

Porém tambem ficou claro que não existe vontade política dos agentes públicos, vereadores e prefeito, e que estes usam de suas funções públicas para serem despachantes de luxo dos interesses da Hantei e de um setor corrupto do capital especulativo imobiliário. Em ano eleitoral isso fica mais evidente.

Denunciamos que esta situação está diretamente ligada à falta de seriedade nos trabalhos de elaboração do Plano Diretor Participativo que encontra-se emperrado por culpa dos interesse do senhor Rauen, super-secretário, que hoje contamina a probidade administrativa da gestão do Planejamento, Definição e Execução Politica Urbana e Ambiental, com os seus interesses privados como verdadeiro sócio da grilagem das coisas públicas e das buscas de privilégios para a especulação imobiliária. Ele controla a FLORAM, IPUF e SUSP, distituiu diretores e diretorias, não permitindo que servidores de carreira cumprissem suas funções técnicas e politicas para as quais são pagos pela população, com transparência e de acordo com os interesses da gestão pública.

Rauen, como o coordenador e representante do prefeito neste debate, só atende as elementares demandas da sociedade através da ação do Ministério Público, após enormes atrasos e desmonte das regras coletivas. Impede controle e participação popular efetiva da sociedade civil neste processo de gestão participativa e demorática, atua à revelia da lei, da sua função pública e da legislação e do interesse da municipalidade, é militante ativo do desgoverno, conivente e gerador de práticas que levam aos crimes denunciados na OPERAÇÃO MOEDA VERDE.

Por isso o lobista RAUEN tem que ser afastado urgentemente da administração pública. No debate de segunda-feira passada se tornou RÉU CONFESSO, ao fazer defesa escrachada do interesse da Hantei e de seus projetos. Não deixou o diretor da empresa dar as explicações, diante da população catarinense, que ficou pasma, achando que ele era o empreendedor e de um advogado presente na mesa do debate. Numa administração municipal mais séria ele estaria exonerado do dia seguinte e a Câmara de Vereadores abrindo uma CPI. Sem o seu afastamento, e investigação séria de sua postura no controle da SUSP, FLORAM e IPUF, a administração continua sendo a casa da mãe joana, o Plano Diretor uma colcha de retalhos sujos e podres. Sua permanência no cargo é a sensação de impunidade, e que dá a ele e a outros agentes públicos a garantia de poder se expor com tamanha cara de pau, insensatez, avalizando coisa que deveriam ser por ele esmiuçadas, debatidas e regradas de acordo com a lei e o interesse da municipalidade, com controle social de forma transparente e democrática em defesa do bem comum da cidade e não de seu clube de amiogos.

Não é a toa que nossa cidade debate mais as ações judicias e ajustes de conduta em cima daquilo "que eles obraram", do que o ordenando e planejando do nosso futuro, pois como afirma o todo poderoso Rauen: "O FUTURO DA CIDADE E DO PLANO DIRETOR A DEUS PERTENCE, e AMÉM, eu sou a garantia", e enquanto isso eles não planejam, e continuam governando em atendimento de seus interesses na base de milhares de alterações de no Plano Diretor de 1997 de forma pontual e casuística, sem planejamento e contrato social coletivo, destruindo aquilo que Deus nos deu! Por isso o Plano Diretor Participativo está emperrado até aqui, e querem agora, em ano eleitoral, aprovar na Câmara de Vereadores, a toque de caixa, às custas das trocas de financiamentos de campanha de reeleição, ou seja, um horror, a cidade não merece isso. Se isso ocorrer é caso de cadeia ou vamos então decretar o fim do Estado Democrático de Direito em Florianópolis, e cairmos no cada um por si! É hora de bom senso!

Chega de tamanho bandalheira, isso é crime, por isso só temos uma saída: Fora RAUEN! Vá assumir a diretoria de Lobista na HANTEI que, de fato e de direito, lhe pertence, e deixe a coisa pública para quem tem vocação, comportamento cidadão ético e moral para tanto. Neste requisito o oresidente da FATMA, MURILO FLORES, e ISOLDE ESPINDOLA, da SPU, deram de 100 X 000 no lobista RAUEN. Murilo asseverou que neste momento em que as questões emblemáticas e de opiniões tão diversas e complexas estão sendo debatidas com a sociedade e estudadas pelos órgãos públicos, e que novas questões aparecerão no processo, o bom senso cobra parcimônia e não precipitação de emitir avaliação conclusiva por parte dos agentes públicos que nem especialistas são nos temas. Isolde fala que a função do gestor público é usar das possibilidades que a legislação lhe oferece em defesa do bem comum, como é usada em outras situações nesta cidade quando se trata de pequeno proprietário e com o imóvel de cidadão comum. Por que não na área da Hantei, se ela pode ser indenizada com permuta de área, oferta de índices construtivos em outra área? Por que ali numa área onde haverá sabiamente impacto de vizinhança, de paisagem, social e na infra-estrutura urbana? Tem que haver vontade política com o mesmo peso do gestor público, disse ela. Murilo e Isolde estão de parabéns!

Diante disso solicitamos que o Ministério Público abra de imediato Inquérito Civil Investigatório para apurar as denúncias por nós manifestadas neste processo que se iniciou desde a aprovação da Lei Municipal 180/2005, que trata da alteração do Plano Diretor para beneficiar a Hantei. E para isso a cópia do debate do CONVERSAS CRUZADAS é prova a ser analisada, diante da falta de desviu de função do agente público.

Para nós, da sociedade civil, cabe ainda mais fazer o debate democrático da função social da propriedade privada e pública que existe na Ponta do Coral. Estamos conclamando as lideranças sociais, entidades de classe, organizações não-governamentais e a população em geral a se juntarem a nós, da Câmara de Meio Ambiente e Saneamento do FÓRUM DA CIDADE, e com as demais entidades que compõem o Movimento em Defesa da Ponta do Coral de uso 100% Público e pela criação do PARQUE CULTURAL DAS TRÊS PONTAS, que irá gerar emprego e renda, focado na promoção dos serviços de apoio ao turismo ecológico, esporte, lazer, cultura, artesanato, maricultura e pesca, corredor gastronômico, observação de flora e fauna, de acordo com a vocação natural e cultural da ilha, que é a nossa galinha dos ovos de ouro, que uns querem só para si ou para fazer uma grande omelete em busca de lucro fácil e destruição da natureza.

Dia 23 de Março, dia do aniversário da cidade, iremos fazer um Ato Público em Defesa da PONTA DO CORAL, lá na área. Todos estão convidados. Para mais informações acessem http://parqueculturaldas3pontas.wordpress.com/ e assista à reprise do debate CONVERSAS CRUZADAS de ontem, hoje, às 12 horas, na TVCom, no canal 36 da Net.

Links relacionados:
http://youtu.be/fvPaSAz_OYk
www.eteia.blogspot.com
www.iela.ufsc.br
www.daquinarede.com.br
www.desacato.info
www.pobresenojentas.blogspot.com



Hoje, quarta-feira, faremos, às 18:30h, reunião do Movimento em Defesa da PONTA DO CORAL na UFSC, no curso de Arquitetura e Urbanismo. Você está convidado.

Arquiteto e urbanista LOURECI RIBEIRO
Membro da Câmara de Meio Ambiente do FÓRUM DA CIDADE

8 de março: Pouco que comemorar, muito por que lutar!

Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres. Rosa Luxemburgo

Por Marcela Cornelli

Duas vitórias na Lei Maria da Penha merecem ser lembradas neste 8 de março. No dia 9 de fevereiro deste ano, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a Constitucionalidade dos Art. 1, 33 e 41 da Lei Maria da Penha e eliminou a representatividade da vítima em processo criminal contra o agressor. Mesmo assim há muito ainda no que se avançar. Muitos temas de grande importância são esquecidos e/ou relegados ao segundo plano pela sociedade organizada, movimentos sociais e sindicais, como as diferenças salariais entre homens e mulheres, a violência, o preconceito, a descriminalização do aborto, a desvinculação da imagem do corpo da mulher à venda de mercadorias em propagandas, principalmente à do álcool, uma droga legalizada que devasta mais do que muitas drogas proibidas, e, talvez, o principal de todos: o papel da mulher pré-estabelecido pela sociedade, o que ela deve sonhar, sentir, como agir, pensar e se vestir. Podemos achar que as questões de gênero já estão superadas e que o discurso feminista não se faz mais necessário, porém basta ir às ruas e perguntar por que as mulheres ainda sofrem violência? Por que são estupradas? A culpabilização da mulher ainda é forte nos pensamentos da sociedade. O machismo continua latente. “Ela foi estuprada porque pediu, vestia roupas curtas. Estava pedindo isso”, ou então “apanha porque gosta, porque se cala”. Frases que mostram o quanto o debate sobre estes assuntos se faz necessário e urgente. Agora virou moda. Toda semana notícias na mídia mostram o sequestro e/ou a morte de jovens mulheres simplesmente porque resolveram terminar o relacionamento. A sociedade assiste a tudo amortecida, sem reação. A indignação é passageira. Polícia, justiça e governos muitas vezes fazem pouco caso e a mídia só usa do sensacionalismo, ninguém refletem, debate, aprofunda e propõe mudanças. É preciso um abuso acontecer no Big Brother Brasil para ficar dias sendo comentado, mas depois tudo cai no esquecimento, no máximo vira Ibope. A mulher ainda é um troféu, uma posse para o homem. É educada para ser sim ainda dona de casa e, mesmo que trabalhe fora, precisa estar sempre bonita para os padrões (patrões) capitalistas. Conquistou sim mais espaço na política, mas muitas vezes são acabam se tornando números para cumprir cotas, sem voz ativa de verdade. No mercado de trabalho, que oprime e explora, são os salários mais baixos. As mulheres negras sofrem duplamente com o preconceito. E ainda tem o sofrimento das mulheres lésbicas e trans, que são violentadas sexualmente pelo estupro corretivo, assunto ainda velado na mídia burguesa, e por conta disso, pouco debatido pela sociedade. Marcante também são as diferenças sociais. Enquanto mulheres de classe média alta podem fazer um aborto em segurança, mulheres empobrecidas se sujeitam a clínicas clandestinas ou a métodos nada seguros, realizados em suas próprias casas, recorrendo aos hospitais públicos quando o aborto já foi feito e precisam de cuidados. No entanto, o preconceito moral e religioso atinge a todas, independente de classe.


Os números de violência contra a mulher seguem alarmantes. Segundo a pesquisa Mulheres Brasileiras nos Espaços Público e Privado realizada em 2010 pela Fundação Perseu Abramo*, seis em cada 10 brasileiros conhecem alguma mulher que foi vítima de violência doméstica e o parceiro (marido ou namorado) é o responsável por mais de 80% dos casos de violência. Ainda de acordo com a pesquisa, embora apenas 8% digam já ter batido “em uma mulher ou namorada”, um em cada quatro (25%) diz saber de “parente próximo” que já bateu e metade (48%) afirma ter “amigo ou conhecido que bateu ou costuma bater na mulher”. Assustadoramente, dos homens que assumiram já ter batido em uma parceira 14% acreditam que agiram bem e 15% afirmam que o fariam de novo. Outra pesquisa realizada pelo DataSenado* em 2011 revela que o medo continua sendo a razão principal (68%) para evitar a denúncia dos agressores e 66% das brasileiras acham que a violência doméstica e familiar contra as mulheres aumentou, mesmo depois da Lei Maria da Penha, mesmo assim ainda há homens que acham que a Lei deva protegê-los, reivindicação que deve ser pelos anos de opressão que sofreram.

A luta por direitos trabalhistas, políticos e sociais está longe de terminar. Não dá para falar em 8 de março sem tocar nestes assuntos. É preciso sim acirramos o debate de gênero e do quanto o capitalismo e suas leis e moral impedem a igualdade de direitos na nossa sociedade. Enquanto só nos indignarmos e não nos movermos, como dizia Rosa Luxemburgo, não saberemos as correntes que nos oprimem. Que não só o 8 de março, mas todos os dias sejam dias de luta pelos direitos das mulheres, pela libertação de nossas correntes!

* Dados publicados na Agência Patrícia Galvão: http://www.agenciapatriciagalvao.org.br/

segunda-feira, 5 de março de 2012

Absurdo nacional, ou quem sabe multi?

Elaine Tavares

Meu amigo Moacir Loth me alertou para uma coisa muito cruel que está acontecendo na cidade, e pode ser que em todo o país, não sabemos ainda: “estão querendo acabar conosco”, reiterou. O fato é que nos bares mais tradicionais da cidade agora inventaram essa de só servir cerveja “long neck”, ou como dizem os compas de bar, a “longuineti”. Consultando outros amigos veio a indignação. Todo mundo se deu conta dessa barbárie. “Que porra é essa? Já não se encontra a boa e velha original, a cerveja grande, para ser compartilhada”.

E é isso mesmo, de mansinho, os bares – mesmos os mais chulés – estão sendo empurrados para a “longuineti”. Uma cerveja típica desses tempos de egoísmo e individualismo exacerbado, uma cerveja que se bebe sozinho. Também me flagrei que é um tipo bem comum nos Estados Unidos, pelo que se pode notar nos filmes de “roliudi”. Ora, de novo o colonialismo. Mas até na cerveja, cristo rei? Tá, é fácil explicar porque isso acontece, sem nem precisar colocar o jesusinho na parada. A cerveja pequena é mais cara, ou seja, é só um remanejamento do mercado para lucrar mais. Mas, em cima de nós, tradicionais degustadores? Inadmissível. Já temos de enfrentar o império das multinacionais que detêm quase todas as marcas, e agora até no tamanho?

Pois eu e o Moacir decidimos iniciar um movimento pela cerveja grande, a boa, velha e tradicional cerveja de 600 ml. Uma cerveja que se abre gelada e gostosa, uma cerveja que se partilha em vários copos, uma cerveja que se presta à comunhão. Em Florianópolis, no mercado público apenas um Box ainda serve a cerveja grande. Em outros bares e pizzarias tradicionais e de circulação bem popular acontece o mesmo, só a pequenina, que de longa só tem o pescoço.

Sinceramente eu não sou contra quem gosta da “longuineti”, mas é preciso que se deixe a escolha. Afinal, isso não é uma democracia? Caso fosse em Cuba que estivesse sendo implementada a ditadura da cerveja pequena já haveria grandes mobilizações em Miami. Mas como é no “mundo livre”, nada acontece. Vamos acompanhar esse caso, de interesse nacional, e se não houver uma mudança haveremos de ressuscitar o blumenauense Horácio Braun e todos os demais velhos compas cervejeiros para iniciar uma ofensiva radical.

Só falta a Polar gaúcha, velha resistente, original e local, lançar a pescoçuda. Aí vai ser a guerra.

Ponta do Coral: proposta de turismo comunitário contra o turismo predador

Elaine Tavares

O jornalismo diário, quando nasceu, no 700, veio para servir ao capitalismo também nascente. Com a popularização das folhas havia que usá-las para propagandear os produtos que começavam a surgir nas prateleiras da vida do consumo. As notícias que bordeavam os anúncios eram “o detalhe”. Ou seja, a informação passava a ser o chamariz para a propaganda de produtos, muitas vezes inúteis. Nesse sentido, a maioria das empresas jornalísticas nada mais era do que espaço da mais-valia ideológica do capital. O jornal, depois o rádio, a televisão e, por fim, a internet, serviam e servem para manter as gentes cativas da promessa do capital. Assim que nada se pode esperar dos meios de comunicação. A não ser a contradição, que querendo eles ou não, se expressa vez ou outra fazendo avançar a consciência de classe. Mas, é coisa rara.

Por isso não é de estranhar a posição da RBS (Rede Brasil Sul), esse oligopólio do sul do Brasil, no que diz respeito ao projeto da empresa Hantei para a Ponta do Coral, um espaço de terra que historicamente serviu de espaço dos pescadores e da comunidade e que foi irregularmente vendido pelo Estado à iniciativa privada. Hoje, a Hantei apresenta um projeto de ocupação da área no qual propõe erguer um hotel de luxo, fazer mais um aterro e construir uma marina para o atracamento de mais de 250 embarcações e de barco de grande porte.

Na semana passada várias reportagens da RBS tecendo loas ao projeto privado levantou a ira dos movimentos sociais que lutam desde os anos 30 do século passado para fazer daquele lindo lugar um espaço comunitário e de turismo ecológico. Mas, a RBS nada mais fez do que manter seus “hábitos alimentares”, que é ser a voz do poder. Para a elite predadora que hoje domina Florianópolis, da qual a empresa de comunicação faz parte, o modelo de turismo proposto é o de alto luxo, para usufruto de poucos e com ganhos para poucos.Nos anos 30 do século XX a área da Ponta do Coral pertencia a Standart Oil e, naqueles dias, o Estado catarinense conseguiu vencer na justiça e retirar o comércio de venda de óleo da empresa estadunidense do lugar para que o mesmo fosse incorporado a outras funções na cidade, e foi adquirido na década de 60 pelo Governo estadual, passando a abrigar a lavanderia da Fucabem, uma entidade de cuidados ao menor. Quando chegaram os anos 70 Florianópolis começou a crescer e veio o projeto da Beira-Mar, que acabou separando a Ponta do Coral da cidade, ficando aquele pequeno espaço de terra perdido para além da via rápida. Mesmo assim, era ocupado pelos ranchos de pescadores e pela comunidade que acorria ao lugar para pescar e brincar com as crianças.

Nos anos 80, sem qualquer consulta ao povo da cidade o governo do Estado decidiu vender a Ponta do Coral para uma empresa de Criciúma. Segundo o arquiteto Loureci Ribeiro essa venda foi totalmente irregular porque a Câmara de Vereadores sequer foi ouvida e não houve decreto da Assembleia Legislativa autorizando a venda como previa a lei. Foi uma canetada do governo, logo não deveria ser considerada. Na época, ele ainda era estudante e junto com outros colegas da UFSC, dos cursos de arquitetura e do jornalismo, mais os pescadores e movimentos sociais iniciaram um movimento pela recuperação do espaço. A ponta tem 45 mil metros quadrados, mas apenas 12 mil foram vendidos porque o restante é área de marinha e não poderia ser mexido.

Mas, a venda, além de não passar pela Câmara sofreu uma surpreendente virada poucos anos depois quando os vereadores alteram o zoneamento e permitiram que se construíssem ali prédios de até 18 andares, quando antes eram permitidos apenas quatro andares para uso público e institucional. “Ou seja, o empresário comprou um terreno por um valor que era podre e enricou de uma hora para outra”, denuncia Loureci.

Ele lembra que o então vereador Edson Andrino se elege prefeito pouco tempo depois, muito em função da posição que teve contra essa alteração de zoneamento. O que mostra que a cidade no seu todo não queria a venda e muito menos a maracutaia da alteração de zoneamento para beneficiar a proposta de construção de hotel de luxo. Loureci ainda recorda que depois aproveitando outra alteração do zoneamento pelo Plano Diretor de 1997 o então vereador Mauro Passos, no ano de 2003, fez um Projeto de Lei que em primeira votação havia também conseguido garantir que aquela área fosse reconhecida como de área verde e de lazer, reforçando a ideia de ser aquele lugar um espaço comunitário. “Isso também mostra o quanto essa luta vem se fazendo num contínuo desde os anos 30”.

Mas, é o então vereador Jaime Tonello que, depois de uma audiência pública, promove uma aberração e altera a lei proposta pelo Mauro Passos que dispunha ser a área um espaço público. Pois o vereador conseguiu repassar para a Hantei o restante da área que era de marinha e, portanto pública. “E para maquiar isso, propõe se fazer um aterro que praticamente duplica a área com a conversa fiada de que vai ter espaço para o público. Ora, o problema disso tudo é que a Câmara não teria poder de legislar sobre área de marinha, só a união pode fazer isso. Então, essa lei é ilegal”.

O fato é que apesar das denúncias nada aconteceu e a Hantei segue com seu projeto, que vem sendo mostrado com riqueza de detalhes pela mídia como mais um empreendimento que vai trazer o progresso e o emprego para os florianopolitanos. O projeto também mostra parques e áreas públicas que, nas maquetes, aparecem como lindos e maravilhosos. Mas, a comunidade sabe muito bem que aquela área sob a administração da Hantei não será uma área pública. No máximo haverá uma pracinha mixuruca que, aos poucos será incorporada ao complexo privado, como sempre acontece.

Movimentos querem turismo ecológico e não predador

O que é importante que as pessoas da cidade saibam é que ninguém é contra a ocupação da Ponta do Coral. A questão é: qual é o projeto que realmente torna a área pública, de uso de todos? A proposta da Hantei se difere radicalmente da proposta do movimento social no que diz respeito ao turismo. Enquanto a empresa quer um turismo privado, de alto luxo, com a venda da vista e do lugar estratégico para o desembarque de barcos, os movimentos querem a constituição de um turismo ecológico, de preservação da natureza e no qual as famílias que vivem na região possam atuar e garantir renda. A Hantei propõe a geração de empregos que não passam de poucas vagas de camareiro e garçom.

Já os movimentos querem a geração de trabalho e renda para a toda a família, para os barqueiros, os pescadores, o turismo gastronômico, de lazer, cultural e ambiental geridos pelas gentes locais. Segundo Loureci Ribeiro, se a área está degradada e ocupada pela “marginalidade” como diz a televisão, a culpa não é dos movimentos. Quem deveria cuidar do espaço é quem detém a sua posse, no caso, a Hantei e o poder público. O que não dá é jogar para os ombros do movimento social a culpa pelo abandono. Isso é mais uma jogada política para enganar a população. “O fato é que a Ponta do Coral deve ser ocupada levando em consideração o que a natureza nos deu: a beleza e a diversidade biológica. Ali nós temos uma embocadura do manguezal do Itacorubi, área de amortecimento, que é riquíssima em diversidade, ligada a cultura da ilha que está vinculada com o mar, com a maricultura, com a gastronomia. É isso é o que temos de aproveitar”.

Loureci lembra que o Plano Diretor, na leitura das comunidades, mostra que sempre é reforçada a necessidade de que existam, junto com o crescimento urbano, áreas de lazer para a população para garantir qualidade de vida. Na verdade, junto com a Ponta do Coral, ainda existem a Ponta do Lessa e a Ponta do Goulart, que fazem o triangulo da embocadura do manguezal do Itacorubi. As três pontas poderiam, então, servir como uma importante área de resgate do acesso ao uso coletiva da orla da Baia Norte ao lazer e ao turismo ambiental. “Nós podemos construir ali um parque cultural náutico, mas não aos moldes das marinas da Hantei. Seria uma relação náutica com a cultura local, com as populações tradicionais, com os pescadores e suas embarcações que seriam os que guiariam as pessoas por dentro do manguezal, e com passeios no trecho entre as comunidades históricas de Santo Antonio de Lisboa e Ribeirão da Ilha, núcleos da maricultura, com educação ambiental, sem edificações. A Ponta do Goulart tem uma área grande de ninhos que também poderiam ser visitados nas épocas certas para observação, assim como na Ponta do Lessa as pessoas poderiam conhecer os sambaquis.

Esse tipo de turismo moveria muito mais renda para a população local do que o proposto pela Hantei, que beneficiaria a um único empresário”. Na verdade, a proposta dos movimentos sociais está conectada com o que há de mais moderno no turismo mundial, que é a preservação da natureza e do meio ambiente, a distribuição dos ganhos, enquanto o que propõe a Hantei é o mesmo velho modelo de destruição da vida em função de uma vista que aparece muito mais como objeto do que algo a ser vivenciado ou desfrutado.

Agora, abre-se mais uma queda de braço no processo de posse da Ponta do Coral. De um lado, a Hantei, com o apoio da mídia entreguista, e do outro os movimentos sociais. Não será fácil para os movimentos que continuam sendo boicotados e silenciados nos meios de comunicação. Mesmo tendo lançado uma carta aberta pedindo à RBS que respeitasse o fato de estar usando uma concessão pública, o que exigiria a democracia da diversidade de vozes no debate do tema, os militantes da ocupação ecológica da Ponta do Coral foram desconvidados dos programas de debates e quando aparecem nas reportagens cumprem apenas a aparição ritual de poucos segundos. O que fica então para quem vê a notícia é o brilho do engano do projeto privado. As propostas do movimento não são mostradas e os militantes parecem apenas como os “do contra” , os “contra o progresso”.

Bem, isso não é verdade. O movimento que luta pela Ponta do Coral quer a ocupação, é a favor da geração de empregos e do turismo comunitário. Mas, é outra proposta, diversa da proposta do lucro privativo. Ela pressupõe distribuição da riqueza e preservação daquilo que a cidade tem de mais bonito: a sua natureza. Sem ela, não serão os prédios de luxo que atrairão os turistas. O desafio é fazer com que a proposta dos movimentos chegue às gentes, a despeito da RBS e suas co-irmãs...

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Ciganos - lançamento neste dia 28

O Rogério Ferrari é um baiano de fala mansa e olhar doce que tem pautado sua vida justamente na capacidade de ver. Ele decidiu fazer da arte da fotografia, coisa que domina, uma forma também de contar histórias que se escondem nos fundões do mundo. Seu clicar se dirige para os que raramente têm onde expressar sua vida, sua dor, sua beleza. Então ele captura essas vidas, ele as esculpe na luz e entrega ao mundo, para que sejam vistos, escutados, amados. Foi assim com o povo saharauí, com os curdos, os palestinos, os zapatistas, os sem-terra e agora os ciganos.

São os ciganos - esse povo lindo, nômade, alegre, bonito – os que saltam das páginas do novo livro de Ferrari. Esculpidos em preto e branco, ali estão no seu esplendor, no cotidiano, na dança, na beleza. E é esse trabalho que será lançado nesta terça-feira, dia 28, às 19h, no Centro Cultural Badesc, em Florianópolis. Junto com o livro “Ciganos” Rogério inaugura também uma exposição. Assim que toda a grandeza desta milenar cultura estará ao alcance da vista. Vale a pena se deixar ficar por alguns momentos apreciando a vida em movimento.

Ciganos – mais uma formosura do olhar de Rogério Ferrari.

A MAÇÃ NO ESCURO , NÃO , NO CLARO... É SEMPRE TRISTE , MINHA FILHA , CLARISSE*

Li Travassos, de Curitiba

Qualquer pessoa que começa a sentir os problemas causados por DNA (data de nascimento antiga) pode fazer uma extensa lista das desvantagens de envelhecer. Eu mesma por vezes me pego fazendo isso junto com alguma amiga. Um horror. Por isso, resolvi fazer uma lista de 10 vantagens de envelhecer. Todas elas, advindas da sabedoria que vem junto com a idade. Talvez , mesmo que você seja muito jovem, possa ganhar alguma coisa ao ler esta lista. A idade me ensinou que:

01) Aquilo que você veste, os adereços que usa, o modo como você anda, tudo isto manda uma mensagem a seu respeito. Se a mensagem não é aquilo que você quer que pensem de você, então você precisa mudar sua aparência, especialmente se você trabalha para outras pessoas. Por exemplo: se você tem um monte de tatuagens aparentes e usa piercing, e se precisa de emprego, a não ser que o esteja procurando em um lugar cujo maior requisito é a criatividade, dificilmente irá passar a mensagem de que é capaz de se adaptar minimamente às regras da empresa. Claro, cada um tem o direito de se vestir como quer, e o respeito as diferenças, especialmente em locais de trabalho que não fornecem uniforme, deveria ser um princípio básico. Mas convenhamos que há algumas convenções sociais que, queiramos ou não, precisam ser seguidas, sob o risco de comprometer nosso futuro.

02) Porém, preocupar-se com o que os outros pensam de você tem limites. Se você é honesta (o), ética (o) e responsável , se cumpre com todas as suas obrigações, se usa roupas adequadas a seu local de trabalho, se é gentil e educada(o), está fazendo sua parte, não? Preocupar-se demais com o que os outros pensam sobre você é acumular sofrimento desnecessário à sua vida . É pedir para sofrer . Afinal, sempre vai haver alguém que te acha feia (o), gorda (o), chata (o), metida (o), mal informada(o)... Alguém que vai pensar que você dança mal , se veste mal , se alimenta mal ... Se desta pessoa não depende seu emprego, se você não depende da aprovação dela para nada, então o problema é dela, não seu.

03) Você não precisa ver aquele filme famosíssimo, que tooooooooooooooooodo mundo viu, se você acredita que ele é super violento e não vai te fazer bem , ou é um tédio , ou ruim por qualquer motivo . Se alguém perguntar , não tenha vergonha de dizer que não viu e nem vai ver . Simples assim . Outra coisa : você não precisa ver um filme até o fim só porque começou, ou porque pagou o aluguel na locadora ou o bilhete no cinema . Achou uma droga ? Desista, mude de canal , desligue, levante e vá embora ... Na boa.

04) Da mesma maneira , você não precisa ler um livro só porque os outros acham bom , ou mesmo porque é de um de seus escritores prediletos . Eu amo Clarisse Lispector. Mas nunca consegui ler "A maçã no escuro ". Comprei o livro mais de uma vez. Tentei começar a ler mil vezes e meia . Tentei ler do meio em diante . Nada . Levei a última cópia que tive em um sebo , troquei por outro livro dela e parei de sofrer .

05) Em se tratando de escritores , artistas plásticos , diretores de cinema , ou o famoso que for, você não tem que gostar de quem todo mundo gosta . Você pode até respeitar, mas não gostar . Eu não gosto de Machado de Assis. Eu não gosto da maioria dos escritores clássicos . Não gosto muito de Borges. Já sofri um tanto com tudo isso , agora não sofro mais . Não gosto das obras de Van Gogh, e nunca sequer sofri por isso ...

06) Se você está envelhecendo, seu corpo vai mudar . Aparentemente para pior . Mas , se hoje você não tem mais o corpinho dos vinte anos, sabe bem melhor como ele funciona, não? E você também não precisa ter o peso ideal das tabelinhas peso / altura para ser feliz . Só tem que se sentir bem com seu corpo e ter saúde. Se acha que vai ser mais feliz mais magra (o), vá em busca disso...

07) Tem coisas que a gente queria saber fazer , mas não sabe. Algumas ainda pode tentar aprender . Outras, não tem talento para , e não vale a pena . Eu, por exemplo, não quero aprender a cozinhar. Sei montar uma pizza , cozinhar macarrão , arroz, feijão , mas afora isso ... Se quiser, posso até fazer um pão integral bem bacana, mas esta história de se enfiar na cozinha , passar horas com o umbigo no fogão , curtindo a " alquimia dos alimentos "... sinceramente ! E olha que adoro comer . Mas como eu já tenho o prazer de comer , deixo aos outros o prazer de cozinhar... Depois , posso lavar a louça (curtindo ou não ). Ainda tenho esperanças de aprender a costurar , a falar fluentemente alguma língua que não seja o português ... Vamos ver o que rola primeiro : eu aprender , eu desistir ou eu morrer ... Agora , o que vou tentar aprender a fazer ou não, sou eu que tenho que decidir , em função do que isto vai melhorar minha vida e me fazer mais feliz ...

08) Sapatos de salto alto e bico fino são uma tortura feminina muito parecida com espartilhos e outras coisas absurdas que as mulheres já usaram em algum momento da história . Detonam com a coluna , com os dedos , apertam, machucam, acabam com os pés . Não uso mais . E pronto . Nem em festa de casamento . Fim .

09) Se você não aprender a dizer não vai acabar assumindo tarefas que não conseguirá cumprir , brigando com amigos de quem você gosta , tornando a convivência familiar um inferno, enfim, sendo muito infeliz . Por sua própria culpa . Porque a gente não pode fazer tudo que os outros querem o tempo todo . Mas eles têm o direito de pedir , não têm? Sendo assim , só há uma maneira de resolver a situação : quem precisa pede, quem pode e quer diz sim , quem não pode ou não quer diz não . Simples assim .

10) É preciso aprender a relevar . Até onde você puder e não te fizer mal . Se você ama uma pessoa ( como familiar , amante ou amiga ) e ela cometer um erro, se isso não te afetar demais , releve. Evite " discutir a relação " toda vez . Mas cuide para que não vá virar uma bola de neve , ou um dia você acaba explodindo, e a relação pode acabar de vez.


* Corruptela de frase do belíssimo poema de Drummond, " Não se mate " ("O amor no escuro , não , no claro, é sempre triste meu filho , Carlos"), com nome de livro de Clarisse Lispector ("A maçã no escuro ").

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Veja entrevista com Maria Lucia Fattorelli no Seminário Economia Política e Dívida Pública Brasileira

Veja em http://youtu.be/3lYuuQK2CMI entrevista com Maria Lucia Fattorelli no Seminário Economia Política e Dívida Pública Brasileira - 4 de novembro de 2011.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Jornalista é condenado por denunciar grileiro de terras públicas na Amazônia

Começou essa semana na internet um movimento em solidariedade ao jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto, condenado por “ofender moralmente” o falecido empresário Cecílio do Rego Almeida, dono da Construtora C. R. Almeida e responsável por grave tentativa de apropriação ilegal de terras públicas na Amazônia.
O jornalista, que é editor do jornal independente Pessoal, teria ofendido o empresário por “pirata fundiário” ao denunciar a tentativa de posse de quase cinco milhões de hectares na região paraense do vale do rio Xingu a partir de registros imobiliários falsos, posteriormente anulados pela justiça federal por se tratar de patrimônio público. Outras duas pessoas também foram denunciadas por Cecílio do Rego Almeida, mas absolvidas pela justiça paulistana que reconheceu a ilegitimidade da acusação, considerando a importância da denúncia para a revelação desse esquema de “grilagem de terras”.
Expedida em 2006 pelo Tribunal de Justiça do Estado do Pará, a sentença que condena Lúcio Flávio Pinto a pagar indenização à família do grileiro poderia ter sido reavaliada caso o recurso especial submetido junto ao Supremo Tribunal de Justiça não tivesse sido negado pela ausência de documentos exigidos pela burocracia do órgão - “cópia do inteiro teor do acórdão recorrido, do inteiro teor do acórdão proferido nos embargos de declaração e do comprovante de pagamento das custas do recurso especial e do porte de remessa e retorno dos autos”.
O valor a ser pago pelo jornalista à família do grileiro será bastante superior aos R$ 8 mil estipulados pela justiça paraense à época da condenação, em virtude da correção monetária necessário para os últimos seis anos.
Além da indenização, Lúcio Flávio Pinto também perde a condição de réu primário, o que o expõe à execução de outras ações, entre as 33 que lhe foram impostas nos últimos 20 anos por grupos políticos e econômicos locais, incomodados com as informações e denúncias veiculadas em seu Jornal Pessoal.
“Não pretendo o papel de herói (pobre do país que precisa dele, disse Bertolt Brecht pela boca de Galileu Galilei). Sou apenas um jornalista. Por isso, preciso, mais do que nunca, do apoio das pessoas de bem. Primeiro para divulgar essas iniqüidades, que cerceiam o livre direito de informar e ser informado, facilitando o trabalho dos que manipulam a opinião pública conforme seus interesses escusos. Em segundo lugar, para arcar com o custo da indenização. Infelizmente, no Pará, chamar o grileiro de grileiro é crime, passível de punição”, afirmou o jornalista em nota divulgada em busca de apoio dos leitores.
Apoio financeiro – Para ajudar o jornalista a indenizar o grileiro, foi criado um fundo para a arrecadação de doações. Os dados Banco do Brasil, agência 3024-4, conta-poupança 22.108-2, em nome de Pedro Carlos de Faria Pinto, irmão do jornalista e administrador dos recursos.
Mais detalhes do caso estão disponíveis em:

http://www.direitoacomunicacao.org.br/content.php?option=com_content&task=view&id=8860
http://noticias.r7.com/blogs/ricardo-kotscho/2012/02/14/jornalista-ameacado-somos-todos-lucio-flavio/

Para conhecer o jornal Pessoal:

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

SOBRE FILMES, SACOLAS PLÁSTICAS, NOVELA... QUE MAIS?

Li Travassos, de Curitiba

Faz tempo que, por diversos motivos, ando com vontade de escrever novamente um texto para talvez ser publicado na Pobres, coisa que nunca mais fiz depois que vim embora de Floripa, mas acaba que sempre falta tempo, e nada... Mas de hoje não passa. Vamos começar pelo fim. Ou quase. Neste sábado, dia 4 de fevereiro, ouvi no programa "Espaço Aberto com Miriam Leitão", da Globo News, uma entrevista com o embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon, sobre o aumento de vistos para brasileiros entrarem nos Estados Unidos. Claro, estamos ganhando e gastando mais, então porque não ir gastar por lá? O fato é que este Sr. afirma, no referido programa, que a imagem do brasileiro lá fora mudou para melhor. Que o brasileiro está sendo visto com melhores olhos. Será? Ainda neste sábado, no canal Telecine, passou o desenho americano "Rio" (da 20th Century Fox e Blue Sky Studios). Adoro desenho, quase fui ver este no cinema quando passou, as cenas de divulgação são pássaros dançando e cantando, super lindinho, então fiquei bem animada para ver. Além disso, o filme é dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha, o mesmo da trilogia "Era do gelo", que eu adoro... Então tá.

Começa o filme com a tal cena do trailer: pássaros no Rio de Janeiro cantando e dançando, super fofo. Até que são engaiolados por traficantes de animais, e mandados para os EUA. Lá, a gaiola de uma ararinha azul macho, ainda filhote, acaba caindo na rua, no meio da neve, e o bicho é socorrido por uma menina super bacana, que resolve cria-lo como animal de estimação. Quinze anos depois (sabe lá se este bicho costuma viver tudo isso na vida real, mas...) a moça, então dona de uma livraria, recebe como cliente um cientista brasileiro (pra lá de nerd, assim como ela) que ao ver a arara informa que é um animal em vias de extinção de fato, pois há apenas uma fêmea no Brasil, e aquela que ali se encontra seria o último macho. E ele convence a "dona" da arara a levá-la para o Rio de Janeiro, para procriar. Lá chegando (época de carnaval), o macho é colocado junto com a fêmea, que não quer saber de namoro, mas sim de fugir, pois foi criada livremente. Os dois acabam sendo capturados por um garoto pequeno que, com a ajuda de uma cacatua, os rouba para um grupo de contrabandistas de animais. Todos moram em uma grande favela, e os mil barraquinhos da favela são mostrados até a náusea...

Os pássaros conseguem fugir dali, e libertar todos os outros, justo em um dia que tem jogo de futebol na TV, e já tem carnaval rolando na rua, e eles passam por uma praia, onde há vários macaquinhos que roubam as joias dos turistas... As araras estão presas por uma corrente, então são ajudadas a se soltar por um cachorro que tem um desmanche de carros. O cachorro se fantasia de Carmem Miranda no Carnaval. O menino que ajudou a roubar os pássaros também ajuda a salvá-los, já que ele só está no crime por ser órfão e pobre... No fim, claro, tudo acaba bem, as duas araras são salvas pelos cientistas, se reproduzem, os cientistas acabam juntos, e sabe lá se adotam o menor envolvido no crime, ou se apenas o colocam para trabalhar, com beeeeeeeeeeeeem menos de 16 anos, no centro de preservação de ararinha azul que fundaram... Tudo isso, claro, ao som de Tom Jobim, Jorge Bem, Sérgio Mendes...

Vejamos, então, a imagem do Brasil lá fora: tráfico de animais em extinção, favela, carnaval (mulher quase sem roupa), futebol, praia (mais mulher quase sem roupa), menores trabalhando para criminosos, desmanche de carros, macaquinhos ladrões (?!), trabalho infantil... e música de alto nível. Mas mudou muuuuuuuuuuuuito, não foi? Para mim, a serem juntadas a imagem de um típico pássaro brasileiro, malandragem e Rio de Janeiro, ficávamos com o Zé Carioca, da Disney, que ao menos tinha a desculpa de ter produzido a ideia em mil novecentos e antigamente. Se alguma coisa está mudando na imagem do Brasil lá fora, não é graças a esta animação, que nem tem tantas cenas fofinhas assim, acredite! Ainda bem que não fui ver no cinema.

Acabou a noite de sábado? Nããããããooooo. Depois deste filme, veio um de Sylvester Stallone (va bene que deste a gente não espera mesmo nada de bom) chamado "Os Mercenários", em que ele junta vários porrudos de Hollywood numa gang de mercenários, e eles vão invadir "uma ilha latino-americana dominada por um ditador militar" para derrubá-lo do poder. Te lembra o que os EUA gostariam de fazer com algum país?

Bueno, vamos voltar alguns dias atrás e mudar de assunto. Vamos falar das benditas sacolinhas plásticas, que eu, em outros textos, já defendi como um direito do consumidor a ser levado para casa junto com as compras, já que costumam ser usadas para colocar o lixo por uns 80% da população brasileira ou mais, porém vêm sendo tratadas há tempos como o inimigo público número um. Se for para serem substituídas por algo, deveria ser por sacolinhas também de plástico, pero biodegradável, cujo preço já deveria estar embutido nas compras, assim como os destas sacolinhas atuais estão. Pois bem, São Paulo está dando a largada no que creio que vai ser uma das maiores sacanagens contra o povo brasileiro, especialmente contra os pobres, só para variar: as sacolinhas biodegradáveis são cobradas a parte. Beleza. Tem uns e outros que aparecem na TV dizendo: ah, eu não ligo de ter sacolinha, coloco tudo em uma caixa, que coloco no carro, e tudo bem. Que-ri-dos: isto poderia ser feito por vocês desde sempre. Sacolinhas são feitas especialmente para pessoas que NÃO TÊM CARRO (acredite, elas existem!) e precisam carregar as compras na mão, por vezes por muitas quadras.

Outros, completamente fora da casinha, não cansam de sugerir que alguém (a mulher da casa, por suposto, que não tem mesmo nada que fazer) monte vários pacotinhos de jornal (quem, sem ser jornalista, lê jornal de papel hoje em dia, a ponto de ter sempre um exemplar a disposição???) e coloque o lixo nestes pacotinhos. Se furar, alguém terá que limpar toda a sujeira (a mulher, de novo, por suposto)! Se você der sorte de não rasgar, eles deverão por fim ser colocados em sacos de lixo grandes, daqueles pretos, que são, estes sim, muitíssimo prejudiciais para a natureza, mas você tem o direito de fazê-lo, afinal pagou pelo saco de lixo, não? E pela sacolinha, decerto não pagou. Decerto o preço dela não está incluído nas compras. Por isso, a nova sacolinha, biodegradável, será cobrada. E os pobres, que mal têm dinheiro para as compras, vão ter que desembolsar por elas o dinheiro de alguns pães por mês. Isto se não preferirem levar para casa, por um valor maior, as sacolas retornáveis. Tanto umas quanto outras com o nome do estabelecimento, do qual o consumidor sairá fazendo propaganda e pagando por isso.

Tirante toda a sacanagem dos que têm muito sobre os que têm muito pouco, que já não é nenhuma novidade, há que se dar algum destaque ao que há de novo neste suposto comportamento ecologicamente correto. Ele está visivelmente conectado ao que muitos, erroneamente, chamam de feminismo ecológico. Esta linha de ação e pensamento não é ecológica, muito menos feminista. Senão, vejamos: propõe que sejam usadas fraldas de pano; que a comida seja toda preparada em casa; que se evitem as sacolinhas de plástico... Assim, vamos gastar litros e litros de água limpa preciosa lavando fezes e urina; vamos gastar quantidades imensas de combustível preparando separadamente, em cada residência, cada naco de comida que formos levar a boca; vamos deixar de usar sacolinhas plásticas (na sua maioria brancas) para colocar o lixo, e ao invés disso vamos usar os super poluidores sacos de lixo pretos. Bela ecologia!

E onde está o feminismo em responsabilizar as mulheres pela salvação do mundo e da espécie, sugerindo que assumam mais um zilhão de tarefas, ao invés de exigir que os responsáveis produzam fraldas descartáveis biodegradáveis, assim como as sacolas plásticas, e que se elimine dos alimentos industrializados todos os componentes nocivos à saúde? Dai a César o que é de César, a Deus o que é de Deus, e a nós mulheres dai soluções e paciência, que a nossa já foi para o saco (de lixo, plástico).

Por fim, quero falar um pouquinho da novela Fina Estampa, de Aguinaldo silva, que passa às 21 e tantos na Globo, e das incongruências de alguns personagens bacanas. Os personagens seriam René, chefe de cozinha, descendente de uma família rica e falida, que troca a perua Tereza Cristina pela trabalhadora Griselda, e a própria Griselda, que trabalhou a vida toda como "faz tudo" para sustentar os filhos sozinha, até ganhar na loteria e abrir uma loja de materiais de construção com uma turma de "faz tudo" do sexo feminino.

A cena que me deixou "bem feliz" com René ocorreu justamente no dia em que ele saiu da casa de Tereza Cristina, e se dirigiu ao filho, menor de idade, na puberdade, a quem ele sempre deixa claro considerar uma criança, e disse: "Não esqueça que agora é você quem manda aqui". Ora, *# e ***! Já seria péssimo se ele dissesse a estúpida frase, extremamente comum em filmes, novelas, e decerto na vida real, que os homens costumam dizer aos filhos machos quando vão embora de casa por algum motivo: "Agora você é o homem da casa", ou a outra, pior, mas ainda não tão horrível: "Agora você precisa cuidar de sua mãe no meu lugar"! Não! Foi: "Agora é você quem manda aqui"! Ou seja, para um homem que não tem problema em usar bolsa, ganhar a vida fazendo comida, namorar uma mulher a quem os inimigos chamam de "bigoduda" e "machorra", externar o estúpido estereótipo de gênero de que o filho que nem entrou na adolescência deve assumir o comando da casa com sua saída, apenas por ter nascido com algo balançando entre as pernas, é de amargar! Tá legal: a mãe do guri é doida de pedra. Mas ou bem ele leva o filho para viver com ele, ou bem ela, que é a adulta em questão, além de ser dona da casa e de tudo o mais, é quem vai assumir as rédeas, que aliás, nunca estiveram nas mãos do marido de fato. Enfim, é uma frase totalmente impossível de imaginar na boca deste personagem. Furo do deus-pai-todo-poderoso-escritor-da-novela.

Outro, de matar igualmente, foi a aceitação, por parte de Griselda, de que uma das mulheres que ela treinou para trabalhar como "faz tudo" em sua loja, tenha cortado a calça do uniforme quase na altura das virilhas, e que use de todas as armas possíveis para seduzir os clientes, quando ela mesma sempre exigiu respeito, e nunca permitiu que abusassem dela por ser mulher. Se Griselda existisse de fato, Deborah não teria a menor chance de trabalhar com ela.

Para terminar meu texto de vez, não posso deixar de chamar a atenção para uma cena entre Griselda e a ex nora Teodora, na qual esta última havia começado a trabalhar em um hotel, como camareira, para conseguir a guarda do filho, criado pelo pai e a avó (Griselda). A ex sogra faz um discurso de que ela poderia limpar quantas privadas quisesse, e jamais conseguiria a guarda do filho, que ela abandonou com o pai, etc., etc. Ora, já deu para a bolinha de todo mundo esta história de que "limpar privada" é castigo, como costuma aparecer nas cenas de presídio (e outras mais) das novelas, e como não deixou de rondar nestas cenas iniciais de Teodora trabalhando pela primeira vez na vida.

Chega de desqualificar o trabalho braçal, de desqualificar o trabalho doméstico, de desqualificar o trabalho braçal feminino, que em muitíssimos casos é de limpeza. Felizmente, desconheço pessoas que nunca tenham limpado uma privada ao menos uma vez na vida. A não ser que não o tenham feito por alguma deficiência física, devem ser pessoas realmente intragáveis, do tipo que não fazem muita falta no mundo. E eu aposto que a maioria esmagadora das pessoas que assistem as novelas da Globo, já limpou e vai limpara ainda, muita privada. Porque defecar é humano, chafurdar na sujeira é coisa de porcos, e dinheiro para pagar alguém para lavar a privada, e fazer todo o resto do serviço doméstico, são poucos que têm. Claro que é um serviço feito na maior parte das vezes pelas mulheres. E que são elas a maioria dos que assistem este tipo de programa. É hora dos autores de novela lembrarem disso de uma vez por todas.

Ufa, ficou enorme, né? É o que dá "ir guardando assunto"... Obrigada a você, que leu até o fim!

Bloco desfila em Florianópolis em defesa das florestas

O Comitê Brasil/SC em Defesa das Florestas formou bloco que irá desfilar no Domingo de Carnaval, dia 19, às 17 horas, na rua da Capela, esquina com a avenida Campeche, no Campeche, em Florianópolis. O bloco chamará a atenção para a defesa das florestas, ameaçadas pelas propostas de mudança no Código Florestal, cujo projeto está no Senado Federal para votação.

Na terça-feira de Carnaval também haverá uma ação na Barra da Lagoa, em conjunto com o Comitê Brasil/SC, em parceria com a ONG Apreender e Tamar, para a campanha “Mangue faz a diferença”.

Leia mais em:

http://www.florestafazadiferenca.com.br

http://comitebrasilsc.blogspot.com

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A democracia e sua expressão

Elaine Tavares

O teórico do jornalismo, Adelmo Genro Filho, já havia revelado no seu livro “O Segredo da Pirâmide” que, apesar de ser filho dileto do capitalismo, existem momentos nos quais o jornalismo não pode esconder as contradições da vida real. Daí a possibilidade do seu caráter revolucionário. Penso que é o que temos visto, nos últimos dias, na televisão. Apesar da posição sempre servil das emissoras com relação ao poder, e das informações aparentemente desconexas, se procurarmos juntar os fios das informações, podemos ter um quadro sem retoques da tão defendida democracia liberal. Nela, ao contrário do que dizem os porta-vozes dos governos, o que não existe é a liberdade. Mas é preciso aclarar: a liberdade dos pobres. A eles é vedado o direito a qualquer reivindicação. Se ficarem quietos, agüentando tudo, está certo. Mas se resolverem gritar contra qualquer filigrana do poder, a força da “democracia” aparece com um estrondo sem lugar.

Todos os dias, a pedagogia da sedução do sistema capitalista joga para dentro das cabeças a idéia de que a democracia do mundo ocidental é a melhor coisa que pode acontecer aos povos. Foi assim quando os Estados Unidos quis invadir o Afeganistão. Pintaram os talibãs como diabos e diziam que a alegria só voltaria ao país se ali entrasse a democracia. Invadiram, depuseram o talibã, implantaram a democracia e tudo seguiu como antes: violência, terror, mortes. Depois foi a vez do Iraque. Sadam era o demônio antidemocrático. E lá foram os soldados estadunidenses a levar a democracia. Resultado: violência, terror e milhões de mortos. Cenas que seguem se repetindo até hoje. Ora, se a democracia iria resolver tudo, como não resolveu? Ano passado foi a Líbia que mereceu a visita da democracia. Que se passa por lá agora? Por que os meios não nos contam? Reina a paz? A mesma que eles querem impor à Síria, agora a bola da vez para receber a democracia.

Mas, não precisamos ir muito longe, no Oriente Médio, para ver como a democracia se comporta. Basta uma olhadinha para nós mesmos. A desocupação da comunidade do Pinheirinho no final de janeiro, com todos os requintes de brutalidade, é um exemplo bem claro. Os empobrecidos, sem casa, sem esperança, sem nada, ocuparam uma terra abandonada. Lá ergueram suas casas e lá viveram por oito anos. Uma vida. Agora, a justiça (assim, com minúscula) decide que ali não é lugar de pobre morar e começa todo um processo de demonização das pessoas. São bandidos, marginais, gentes sem estofo. Não merecem a pena de ninguém, daí que as cenas brutais das casas sendo destruídas, das famílias sendo despejadas, dos animais sendo mortos e outras tantas gentes sendo presa ou desaparecida já não comove boa parte das pessoas. O recado da democracia já havia sido dado: aquelas criaturas não eram gente, logo, a violência é bem vinda. É limpeza.

Hoje, assisti as cenas na Bahia, divulgadas pelos jornais nacionais. Os repórteres falam dos vândalos que saqueiam lojas, dos bandidos que circulam pela madrugada baiana, das “badernas” dos familiares dos policiais em greve e, é claro, os grevistas são pintados como os grandes responsáveis pelo caos que se instalou na bela capital baiana. Então mostram a atitude acertada do governo central que mandou jovens do exército nacional para garantir a lei e a ordem. E mostram alguns moradores saudando a vinda do exército para salvá-los. Os confrontos em frente a Assembléia onde estão os trabalhadores em greve são mostrados como distúrbios irracionais. Nenhuma das reportagens toca no nome do governador baiano, Jaques Wagner, como se o governo não tivesse absolutamente nada a ver com isso. Quando seu nome aparece é como o cara que vai garantir o carnaval, nem que tenha de trazer todo o exército para as ruas. Claro, a folia dos endinheirados é mais importante do que liberar uns poucos caraminguás aos policiais.

Pois essa é tão amada democracia burguesa. A lei e a ordem dos poderosos, dos que tem o dinheiro, dos que tem o poder. Qualquer rugosidade nessa paz do poder, e os remédios são imediatamente utilizados sem qualquer piedade. Há que impedir que a “doença” se alastre e há que agir com rapidez. E as doenças são, comumente, os empobrecidos, os sem-teto, sem terra, sem trabalho, os explorados, gente que vive assim, não porque quer, mas porque é levada à margem pela ganância e a sede de lucros de quem manda. Mas esses precisam ficar quietos, acatar todas as leis que são criadas contra eles, precisam aceitar de cabeça baixa todas as decisões que os graúdos lhes impõe, ainda que sejam injustas e imorais.

E a coisa é tão bem arrumadinha que, por vezes, as próprias “vítimas” – que é a maioria da população – aceitam a idéia de que é preciso viver na paz, sem perturbar a ordem dos que mandam. Aceitar o cabresto e viver das migalhas.

Ocorre que gente há que diz não. Não aceita. Não quer. Gente há que quer morar, viver, comer sorvete, levar o filho ao parquinho, ver um bom filme no cinema. Gente há que não se deixa enganar pelo canto vazio da ideologia que se expressa na escola, na família, na TV. Gente há que luta, que se rebela, organizadamente ou não.

O quadro da democracia burguesa é mais ou menos assim. Os que são jogados na miséria e na exploração, ou se revoltam individualmente e roubam, matam, perdem sua humanidade, ou se organizam em sindicatos, movimentos, e lutam coletivamente por mudanças. Uma coisa ou outra sempre vai acontecer, ou as duas juntas ao mesmo tempo. Não dá para fugir disso. É da condição humana caminhar para a beleza. Ninguém pode aceitar viver sem isso.

Assim, sejamos espertos, observemos as notícias com o grosso lápis da história e vamos ligando os fios. O desenho final é o quadro da opressão massacrando aqueles que querem participar do banquete, enquanto na televisão os lobos aparecem como cordeiros, e os cordeiros como lobos. Um espelho invertido que precisa ser quebrado. Já vimos essa história aqui mesmo na pele, com a revolta da catraca, ou a luta dos professores pelo simples cumprimento de uma lei.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Um copo d'água

Fernando Karl

Sonhei que eu nunca havia nascido e, assim ainda não nascido, ardia o meu coração inquieto com a possibilidade de encontrar quarto onde eu beberia um copo d'água no escuro: quando nasci, a primeira coisa que eu li foi:

"A poesia é um copo d'água bebido no escuro"

Mario Quintana

Daí aprendi que, por mais belo que seja o mundo externo, eu só veria

o mundo se eu baixasse as pálpebras.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Supremo é acionado para suspender a desocupação de Pinheirinho

A Associação Democrática por Moradia e Direitos Sociais de São José dos Campos (SP) entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo a suspensão da desocupação de Pinheirinho, em São José dos Campos (SP). A posse da área é reclamada pela massa falida da empresa Selecta, e vinha sendo ocupada, desde 2004, por cerca de 1,3 mil famílias sem teto.

Ainda segundo a Associação, a União passou a manifestar interesse pela solução do problema e chegou a firmar um termo de compromisso com o governo paulista e com o município de São José para regularizar a gleba de terras. Foi assim que o caso foi parar na Justiça Federal, com decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3) suspendendo a desocupação. Mesmo assim, no último domingo, a Polícia Militar de São Paulo (PM-SP) e a Guarda Municipal de São José dos Campos iniciaram, com extrema violência, a desocupação da área.

PM retoma repressão contra moradores do Pinheirinho

Os moradores do bairro Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), expulsos neste domingo (22) em uma reintegração de posse violenta, voltaram a ser reprimidos após enfrentamento com a Polícia Militar de SP. Por volta das 9h, os moradores se reuniram na Praça Afonso Pena, que fica próxima ao terreno que ocupavam desde 2004, para protestar contra a expulsão arbitrária promovida pelos governos estadual e municipal e a Polícia Militar e a Guarda Civil Municipal. Segundo os moradores, o objetivo da manifestação era “denunciar a ação criminosa dos governos estadual e municipal do PSDB que ordenaram de forma ilegal o despejo de 9 mil famílias da Ocupação Pinheirinho, neste domingo”. A Polícia Militar, que está no local desde a desocupação, lançou contra a manifestação bombas de efeito moral e balas de borracha. Além disso, moradores que reclamaram da falta de organização da fila para a retirada de bens e pertences foram agredidos por homens da Guarda Civil Municipal com tiros de borracha. As famílias denunciam que os bens estão sendo retirados pela prefeitura sem a participação das famílias.

O ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, disse neste domingo que a ação de reintegração de posse do Pinheirinho, “atropelou” as negociações para a desocupação pacífica do local. Carvalho vinha acompanhando o caso e um de seus assessores, que estava no local durante a reintegração, foi atingido por uma bala de borracha na perna. O governo federal determinou que, além de Carvalho, os ministros José Eduardo Cardozo, da Justiça, e Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos, acompanhem a resolução do conflito.

Entenda o caso

O terreno ocupado pelas famílias desde 2004 possui 1,3 milhão de metros quadrados e está localizado na zona sul de São José dos Campos. O local pertence à massa falida da empresa Selecta, do grupo de Naji Nahas, que entrou com o processo para a retirada das famílias na época da ocupação.

A ordem de reintegração de posse foi emitida pela pela juíza Márcia Faria Mathey Loureiro, da 6ª Vara Cível de São José dos Campos, no final de 2011 e, desde então, os moradores lutam para permanecer na área. No último dia 17, a reintegração de posse chegou a ser suspensa por liminar concedida pela juíza Roberta Monza Chiari, da Justiça Federal. No entanto, no dia seguinte, foi cassada.

Durante a ação da PM, um juiz do Tribunal Regional Federal (TRF) chegou a determinar a suspensão da retirada das famílias, mas o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) determinou a continuação da reintegração de posse. Um novo recurso foi ajuizado no Supremo Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília, pelos advogados dos moradores, para barrar o despejo. Fonte: Brasil de Fato

Veja vídeo da ação da PM em:

http://www.youtube.com/watch?v=DDKp4wJPMxI&feature=share

Leia texto de Raquel Rolnik, urbanista, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e relatora especial da Organização das Nações Unidas para o direito à moradia adequada.

Em http://raquelrolnik.wordpress.com/2012/01/23/pinheirinho-cracolandia-e-usp-em-vez-de-politica-policia/

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Um sítio encantado



Por Jussara Godoi

Encontrei D. Quixote de La Mancha! Ele vive bem aqui pertinho. Com apenas seis horas de viagem podemos desfrutar de momentos agradáveis, junto a ele e sua amada Dulcinéia. "Neni" e "Nesta", como preferem ser chamados, assim como o personagem de Cervantes, vivem felizes a inventar histórias como a "seita do TCHUM", criada e contada com tantos detalhes que o ouvinte jamais desconfiaria que tal "história" só existe em suas mentes.

O lugar onde vivem herdaram dos pais de Neni, que ainda moram com eles. O pai, com 91 anos, e a mãe de 83, ambos com muita saúde e disposição. Neni é o filho mais velho, nunca estudou e viveu sempre no sítio. Casou-se com Ernestina, com quem teve cinco filhos. Quando os filhos cresceram ele deu um conselho: "se vocês quiserem estudar, vão à busca, pois eu não possuo dinheiro para ajudá-los, mas prometo ficar aqui e transformar esse sítio num lugar bom. Assim vocês sempre podem vir me visitar". Os filhos foram embora, estudaram e permaneceram na cidade. Agora, sempre que podem, visitam o pai, que cumpriu sua promessa. Neni se transformou num ambientalista convicto e, apesar de não ter estudo formal, pratica no lugar o método defendido pelo educador Paulo Freire, nem sempre aplicado nas escolas, que é o de aprender a partir do seu local e da sua realidade.

Neni procurou a escola do Município para oferecer aos alunos a oportunidade de ver, na prática, a importância da preservação da natureza e do meio ambiente. E os alunos vêm até ele para "conferir" o resultado do aprendizado em longas caminhadas de conhecimento. Neni não se cansa de falar e de ensinar sobre como fez do seu sítio um lugar para acolher pessoas. Mas não qualquer uma: "aqui só entra quem tem espírito solidário".

Lá no sítio não precisa pagar nada, é chegar e aproveitar, enquanto está lá dentro, de tudo o que o sítio possui, a água, os espaços, as frutas. Mas tem regras claras: é preciso sempre trazer uma pessoa doente, ou velhinha, ou deficiente, para que possa também ter o direito de usufruir. É que, segundo Neni, muita gente não gosta da companhia dos velhos ou dos doentes, preferem sair sozinhos e deixá-los em casa. Ele não acha isso bom.

As instalações são preparadas dentro das condições que o sítio oferece: tem muita água, muito verde, muita fruta e uma cabana, que pode abrigar até umas oito pessoas. Mas dificilmente tem só esse número, pois muitos vão com barracas ou então ficam só durante o dia. Difícil é ir embora.

Cada vez que visitamos esse casal ficamos mais encantados com a simplicidade e a maneira com que os dois encaram a vida. Nesta está sempre a cuidar dos bichinhos, dos idosos, dos que precisam. "Eu sempre gostei de ajudar as pessoas", diz, sorrindo, com seus olhinhos verdes brilhando. Ele passa o dia a plantar e cuidar da água que existe em abundância, fazendo nascer a ideia de construir as piscinas e os açudes. E não é que mesmo com as secas, que ocorrem por lá de vez em quando, Neni nunca ficou sem água.

Já estiveram por lá os representantes de órgãos públicos, para persuadi-lo a pegar algum dinheiro e investir no lugar. Ofertas estas sempre recusadas. "Se eu pegar dinheiro público então todas as pessoas poderão usar o local, já que é do público. Mas não é esse o meu objetivo, pois aqui eu faço tudo quando eu quero, do jeito que eu quero". E tema mais: "eu não preciso de dinheiro, dinheiro só traz problema, vivo bem, com o que tenho aqui".

Todos os dias ele repete, sentado em volta de um fogão de lenha, ou da lareira que ele mesmo construiu: "Como a vida é boa! Para que vida melhor do que esta?". Realmente, viver longe das neuroses das cidades, respirando muito ar puro, se alimentando de forma saudável, sem uso de nenhum tipo de agrotóxico, na terra própria, é coisa que não tem preço. E não adianta alguém oferecer dinheiro para que ele construa com mais “rapidez” as instalações de uso comum. Ele não aceita. Prefere fazer tudo aos poucos, conforme pode.

As leituras que faz são somente da Bíblia, apesar de não seguir nenhuma religião. É daí que ele tira as suas conclusões sobre como viver em paz. Gosta de ficar horas "proseando" com os convidados sobre a vida, sobre o mundo, sobre as pessoas. É "quase" um filósofo! Pode chegar lá qualquer hora do dia ou da noite, que ele recebe com uma gargalhada, como se o aguardasse há muito tempo. Esta é mais uma de suas qualidades.

Lá não se tem hora para nada, em qualquer tempo se prepara uma boa refeição e se reparte com os "outros seres" do lugar: cachorro, pato, gato, cabrito, etc... De vez em quando ele faz uma brincadeira. “Diga lá para os pastores que falam para o povo que quando a gente morrer vai viver no paraíso, entre os bichos, que aqui nós já fazemos isso".

Ele tampouco importa ao "desconfiar" que suas galinhas estão sumindo, e sabe muito bem que o dono da venda recebe muitas delas em troca de "pinga". Obra de um bêbado da região, que dorme na igreja ao lado do sítio. "O coitado precisa e pra mim não faz falta", diz ele. E o Sancho Pança, seu fiel escudeiro, onde está?? Bem, Sancho somos todos nós que o visitamos e ficamos maravilhados ao ouvir suas histórias, seus sonhos e suas risadas.