terça-feira, 20 de agosto de 2024

Um microfone fingidor

Foto: Felipe Maciel Martínez

Por Miriam Santini de Abreu

A primeira revista Pobres & Nojentas (que durou, impressa, 30 edições) apareceu em maio de 2006, e para ela eu fiz uma entrevista com Darcy Vitória de Brito, nascida em 1938 na rua General Vieira da Rosa, no Mont Serrat, incrustado no Maciço do Morro da Cruz, em Florianópolis. Não dá para contar a história do Mont Serrat sem contar, entre outras, a história da Dona Darcy. Passados 18 anos, na sexta-feira passada eu a reencontrei, sem planejar, ao subir a Servidão Quebra-Pote para a série de entrevistas do projeto Escadarias do Maciço. Estava com o Felipe Maciel-Martínez, que faz as gravações, e o presidente do Conselho Comunitário do Mont Serrat, Cláudio José de Paula, que a chamou para falar sobre as dificuldades enfrentadas pelos moradores da servidão. Que alegria me deu ver a dona Darcy!

Depois da Quebra-Pote, decidimos aproveitar o sol e o tempo ainda disponível para conversar com moradores da maior escadaria do Maciço, a escadaria da Rua José Boiteux. Mas deu zebra. O gravador caiu na primeira entrevista, testamos, ele parecia funcionar, mas estava fingindo. A câmera gravou as imagens, mas não o som. Seu Sidnei Paim, o neto dele, Jean Weslley, o amigo do Jean, Miguelzinho, e a moradora Denise Xavier contaram em detalhes como é viver naquela escada de espantosos 428 degraus. Depois das despedidas, eu desci os degraus rumo à Avenida Mauro Ramos pensando em me organizar para editarmos todas as entrevistas até este domingo porque o seu Sidnei estaria de aniversário. Não deu! 

Mas eu disse para o Felipe: é do jogo! A gente é que banca os nossos projetos, o Felipe, o Rubens e a Rosane gravam e fotografam por uma ninharia, a Elaine passa horas editando e os equipamentos são os que os salários permitem comprar. Mas a gente vai fazendo porque quer fazer. Ficamos, Felipe e eu, desanimados, mas eu voltei ao reencontro com a dona Darcy, olhei para trás e percebi o quanto fizemos nesses quase 20 anos da nossa revista, sempre de mãos dadas com os mestres Adelmo Genro Filho e Marcos Faerman. Há que continuar a seguir nas veredas do espaço geográfico, do cotidiano e da linguagem!



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