segunda-feira, 29 de março de 2010

Crônicas de Arapiraca - I

Míriam Santini de Abreu


Eu conheci o Anderson em 2000, ano que iniciei desempregada e quando, para fazer o tempo andar e a dor amenizar, inventei de fazer um curso gratuito no Planetário da UFSC. Ele estava lá, estudante de física, cara de intelectual. O curso foi divertido – o professor nos convencia a todo o minuto que Plutão não era um planeta - mas divertido mesmo foi conhecer o Anderson.

Bem-humorado, até mesmo quando mal-humorado, friorento – do tipo que usava blusão até no verão – especialista nos mistérios dos computadores – fez o primeiro site da Pobres – o Anderson é o tipo de homem que faz a gente sorrir. Há dois anos ele se formou, casou e foi passar um ano na Inglaterra; depois se mudou para Alagoas, estado onde mora a família da esposa.

Antes da viagem para o exterior, nos encontramos para almoçar em um restaurante no centro de Floripa, e agora toda a vez que passo por lá eu lembro dele. Recentemente, pelo Twitter, soube que estava morando em Arapiraca, e sempre dou risadas quando leio os tweets dele sobre a cidade.

Então pedi a ele que escrevesse essas “Crônicas de Arapiraca”, e a primeira segue abaixo!


Anderson Gonçalves

Após um ano mendigando "pences" (centavos de libras) na Inglaterra, voltamos para a amada pátria amada idolatrada salve salve. Viemos para Maceió porque a Beth tinha a prioridade de rever a família. E não foi ruim de maneira alguma. Depois de passar um ano com temperatura máxima de 12 graus Celsius, os 38 do litoral alagoano ajudaram a tirar a cor de doente adquirida na Inglaterra. Um amigo me falou que depois que você passa um ano em outro país, a sua saúde está pior do que quando você chegou. Minha situação foi exatamente esta. E graças ao calor tive um monte de perebas sendo liberadas três dias depois da chegada. Febres e dores pelo corpo, tudo de ruim que poderia acontecer aconteceu, mas foi só por dois dias.

Aí, depois de lamber as feridas e desfazer os 100kg de mala que trouxemos, começamos a investigar de leve, trabalho para este garçom-ajudante de Papai Noel na Inglaterra. Comecei a distribuir currículos pelas escolas em Maceió. Depois de mais de 15 escolas e nenhuma resposta, desencanei e resolvi que talvez seria melhor fazer mestrado. Procurei um orientador que pesquisasse alguma coisa que acreditava ser interessante e encontrei. Existe um núcleo de pesquisa em ensino de ciências na UFAL e resolvi estudar para o mestrado porque a prova é concorrida. Depois de conversar com o professor orientador, comprei a bibliografia recomendada por ele para fazer a prova e comecei a estudar.

No meio do caminho apareceram dois concursos para professor substituto na Escola Técnica Federal e na própria UFAL, mas ambos já estavam "definidos" no momento da matrícula. Fiquei em segundo lugar no primeiro e em terceiro no segundo. Aí saiu o edital do concurso do mestrado e toda aquela bibliografia comprada e estudada foi modificada pelo próprio professor orientador. Perdi o ânimo e resolvi “chutar o balde” e perder o ano.

Enquanto tudo isso acontecia a Beth se inscrevia para o concurso de professor efetivo da Universidade Federal de Alagoas, campus Arapiraca. No fim de maio fomos para Arapiraca para o concurso. Se a primeira impressão é a que fica, você vai entender o motivo pelo qual eu ainda estou tentando me acostumar com a idéia de morar em Arapiraca.

A cidade é conhecida como a capital brasileira do fumo. Isso mesmo, “fumo”, só que eles ainda não "vortáram"! Em função disso, no período de chuvas, que vai de Maio até Agosto, quando o Agreste alagoano está recheado de vida, hordas de moscas que se procriam em função das folhas de fumo invadem a cidade. Você sem problema algum se sente como se estivesse em algum criadouro de moscas. Abrir a boca para falar é um problema. Comer, então, nem se fala. Você fica segurando o garfo com uma mão e com a outra mão afasta as moscas. "Hor-rí-vel"! Mas isso não é nada depois que você descobre que há coisas piores que as moscas.

Mas a notícia boa é que minha esposa, depois de muito penar e suar a camisa, conseguiu o primeiro lugar e foi chamada para trabalhar em Agosto como professora efetiva do curso de Arquitetura da UFAL. Uma baita vitória. Mas com a aprovação no concurso tivemos que pensar em "mudar para Arapiraca?". Ficamos indecisos durante um mês. Ela ia toda segunda-feira de van, às 5h da manhã, para Arapiraca, e ficava em um hotel no centro da cidade. Voltava na sexta, às 17h, e como a viagem de van dura quase duas horas, o cansaço e a irritação eram constantes. Pesamos os prós e os contras e pensamos que se acontecesse de um bebê estar a caminho, viajar nessas condições não seria muito bom. Então arrumamos as malas e tocamos o cavalo para Arapiraca.

Arapiraca é a cidade que mais cresce em Alagoas... mas essa história fica para o segundo capítulo!

30 de março: Dia da Terra Palestina

Atividade na antiga FAED, dia 30, 19h, reúne a jornalista Elaine Tavares, Khader Othmann e a exibição de um filme sobre as raízes do conflito.


Desde a década de 70 que no dia 30 de março, nas terras invadidas da Palestina, nos campos de refugiados e nos demais países onde vivem os palestinos emigrados, as gentes rememoram o “Dia da Terra” (Yawm Al-Ard). É um dia de protesto e de resistência, contra a apropriação, por Israel, da terra Palestina.


Esta data acabou tornando-se significativa para o povo palestino porque em 1976, em resposta ao anúncio do governo israelense de um plano que iria confiscar mais terras em áreas árabes, para a construção de novas colônias e ampliação de cidades judaicas, foi organizada uma greve geral pelos palestinos e aconteceram diversas manifestações nas cidades árabes, desde a Galiléia até o Negev.


Naquele dia, o governo israelense, através do seu exército, reprimiu violentamente a população com tanques e artilharia pesada. O saldo do confronto foram seis jovens - cidadãos árabes – mortos, 96 feridos e 300 presos.


Desde então o 30 de Março, tornou-se anualmente um dia de reflexões e manifestações, realizadas não só por cidadãos palestinos, mas por árabes e demais cidadãos de todo o mundo. A solidariedade das gentes ao povo Palestino é o que mantém a esperança de que um dia se possa viver em paz na terra das oliveiras.


Neste ano de 2010, o "Dia da Terra" simboliza também a resistência palestina à ofensiva em curso, de Israel, no que diz respeito à continuada expropriação de terras, ao apartheid, à colonização e à ocupação.

Em Florianópolis, para lembrar esta data em que, mais uma vez, o povo da Palestina foi massacrado, e para tornar significativo sacrifício de tanta gente, o Comitê Catarinense de Solidariedade ao Povo Palestino chama para a apresentação de um filme que mostra como se dá a resistência. Participam ainda como debatedores, Kadher Othmann, do Comitê e a jornalista Elaine Tavares

Data: 30 de março de 2010 - terça-feira

Hora: 19 hs

Filme: Occupation 101 - A Voz da Maioria Silenciada

Debatedores:

Khader Othmann - Comitê Catarinense de Solidariedade ao Povo Palestino

Elaine Tavares - jornalista

Local: Museu da Escola Catarinense (antiga FAED) - UDESC. Projeto Cinearth - R. Saldanha Marinho, 196, Centro.

Entrada Franca

Sinopse: Occupation 101 - A Voz da Maioria Silenciada - Dos diretores Abdallah Omeish e Sufyan Omeish , 2006, duração 80 minutos. O filme trata das raízes históricas do conflito entre Israel e Palestina, abrangendo uma ampla gama de assuntos, entre os quais: a primeira onda de imigração dos judeus europeus para a região da Palestina nos anos de 1880; as tensões dos anos de 1920; as guerras de 1948 e 1967; a primeira Intifada de 1987; o processo de paz de Oslo; a expansão dos acampamentos judeus; o bloqueio econômico e a ocupação de Israel na Faixa de Gaza; o papel dos EUA no conflito; o testemunho das vítimas da ocupação israelense.


TRILOGIA SER OU NÃO SER (1) – PARTE III – EU SOU NEGUINHA? (2)

Li Travassos, de Florianópolis


Por que algumas pessoas têm o cabelo super cacheado e outras liso? Por que algumas pessoas têm olhos claros e outras têm os olhos mais horizontais (que chamamos comumente de olhos "puxados")? Por que as diferenças de cor de pele entre os seres humanos? Tudo isso tem uma resposta lógica.

Cabelos cacheados servem para "segurar" o suor, fazendo uma capa protetora contra o sol e o calor. Olhos claros se adaptam melhor à luminosidade dos reflexos do sol na neve, enquanto olhos escuros agüentam melhor a luminosidade provocada diretamente pelo sol. Já os olhos mais horizontais dos asiáticos devem-se justamente ao fato de a linha do horizonte ser mais extensa no Oriente. E, é claro, as diferenças de cor de pele são adequadas à força dos raios solares no lugar onde os ancestrais da pessoa nasceram – quanto mais forte o sol, mais escuro o tom de pele. Foi assim que o ser humano foi se adaptando ao clima, e sobreviveram os mais bem preparados para viver em cada região.

O homem branco (como já foi discutido na filosofia, cantado em verso e prosa, citado ad nauseam pelas feministas, e tudo o mais) nunca teve nenhum problema em escravizar outros seres humanos, matar, estuprar, destruir, tudo para ter mais poder. Por algum motivo – talvez uma maior languidez, causada justamente pelo calor excessivo – os povos africanos foram um alvo relativamente fácil para o desejo de dominação de europeus, estadunidenses e (não podemos esquecer), brasileiros. Brasileiros estes que, está bem, na época eram mais europeus que qualquer outra coisa...

Depois, foi preciso justificar o direito dos homens brancos sobre os negros trazidos da África: eles eram menos inteligentes, mais fracos e, pérola das pérolas da Igreja Católica: não tinham alma. Não se tratava, portanto, da dominação de um ser humano sobre outro, em uma época onde a escravidão já não era mais tão natural quanto nos primórdios da humanidade. Não! Se os negros não possuem alma, então não são seres humanos. Daí a horrível expressão que fica, felizmente, cada vez mais em desuso, quanto mais o racismo é considerado politicamente incorreto: "É um negro de alma branca". Seria, na época, mais ou menos como dizer: "Apesar de ser negro, ele tem alma." Pausa para quem quiser vomitar...

Voltando. Para os que pensam que apenas os seres mais ignorantes e desprovidos de informação são preconceituosos em relação às diferenças étnicas, me deixem contar que Charles Darwin, além de um rematado machista, também era um indiscutível racista. Com base nas teorias de um alemão chamado Karl Vogt, Darwin defendia haver uma grande diferença entre homens e mulheres, inclusive em relação à cavidade craniana, com a predominância do homem, claro. Mas esta diferença seria muito maior entre o homem e a mulher europeus, do que entre o homem e a mulher negros, pois neste último caso ambos seriam quase que igualmente inferiores (3).

Na verdade, a justificativa do preconceito, seja ele racial ou de gênero, é sempre inventada por alguém inteligentíssimo, capaz de buscar um "motivo" supostamente plausível para a discriminação. Depois, é só espalhar esta "justificativa" entre pessoas incapazes de pensar por si próprias, e pronto: está feito o fermento que vai crescer o bolo da intolerância.

Quer outro exemplo? Neto de um visconde, herdeiro rico e mimado cujos estudos levaram muito mais tempo do que deveriam, e cujos negócios próprios não davam certo, Monteiro Lobato acabou se tornando escritor. Como responsabilizava os empregados da fazenda que herdou por seu fracasso comercial, criou, no livro Urupês, de 1918, o ridículo personagem Jeca Tatu, que representa o caboclo brasileiro (mistura de branco com índio).

Segundo Lobato, o caboclo é preguiçoso ao extremo, e apenas por isso é pobre e não consegue nada na vida. Na verdade, seguindo a corrente da época, Lobato criticava a miscigenação, por considerar que o homem "branco puro" é superior aos mestiços de quaisquer etnias. Depois, ele teria supostamente se redimido, dizendo que o caboclo estava doente por falta de saneamento e higiene. Mas Jeca Tatu já estava impregnado no imaginário popular.

Antes de Lobato, Euclides da Cunha, em "Os Sertões", de 1902, defendia a mestiçagem, dizia que o mestiço é superior ao homem branco, e afirmava que:

O sertanejo é, antes de tudo, um forte!

E Gilberto Gil arremata:

Jeca Total deve ser Jeca Tatu
Presente, passado
Representante da gente no senado
Em plena sessão
Defendendo um projeto
Que eleva o teto
Salarial no sertão

Graças a Lobato e muitos outros, neste "país não racista" onde vivemos, os nordestinos são considerados preguiçosos, e são tão bem quistos no sudeste e no sul, quanto irlandeses na Inglaterra ou afrodescendentes nos Estados Unidos. E por falar em Estados Unidos, como há também muitos latinos por lá, igualmente mal recebidos e não desejados, os estaduinenses agora estão utilizando um termo errôneo para descrever mulheres e homens brancos que não têm origem latina: caucasianos.

Ora, caucasiano, a princípio, é alguém que nasceu ou vive no Cáucaso, que é a região entre o Mar Cáspio e o Mar Negro, onde ficam Rússia, Geórgia, Armênia, Turquia, Irã e Azerbaijão. Mas é preferível usar termos errados que ser confundido com a corja, não? E tudo dentro do politicamente correto, pois decerto iria pegar mal dizer que "o cara era branco e não latino"...

Mas o preconceito contra pessoas nascidas e criadas em determinada parte do mundo, ainda não é tão absurdo quanto o preconceito relacionado à simples cor de pele de alguém. Se você discrimina alguém porque teve uma educação específica, tem uma religião específica, você está se opondo a uma forma de pensar e de viver. É intolerância? Sem dúvida. É o principal motivo de guerras e de massacres estúpidos? Ninguém há de discutir. Mas que dizer de quem considera as pessoas negras todas iguais, não importa onde nasceram, cresceram, qual sua religião, sua posição política?

O ser humano branco tem tanta dificuldade em aceitar o diferente, que Cleópatra (do Egito que, só para lembrar, fica na África), foi retratada no cinema, e impingida para sempre em nosso imaginário, como tendo a pele branquíssima, os cabelos lisissímos e os impossíveis olhos violetas de Elizabeth Taylor! Cleópatra era negra, tinha cabelos crespos e era cheinha de corpo... Verdade que os egípcios, especialmente os nobres, raspavam os cabelos e usavam perucas. Mas daí à aparência da famosa atriz vai-lhe uma distância...

Jesus de Nazaré, que segundo consta nasceu em Belém, mas era filho de mãe nazarena, e foi criado em Nazaré, e por isso tem o nome desta cidade como sobrenome (o que era o costume na época), é retratado como loiro de olhos azuis! Só para lembrar: Nazaré fica em Israel, Jesus era de família judia, e os judeus já foram assassinados em massa, entre outros "motivos", por não serem loiros de olhos azuis! E Israel fica no Oriente Médio, ali, grudado com a África, portanto tem um clima parecido com o africano, do que podemos deduzir que o mais provável é que não só Jesus tivesse olhos e cabelos escuros, como a pele escura também!

No Brasil, a miscigenação está em todo lugar, em todas as famílias. Até porque as mulheres negras e índias foram vítimas constantes do estupro por parte do homem branco, já que o horror à diferença étnica costumava acabar no desejo sexual. Ou, como dizia a horrível marchinha de carnaval (feita por Lamartine Babo e Irmãos Valença em 1931) "Como a cor não pega, mulata... mulata eu quero teu amor". Pausa para vomitar de novo?

Quem pode dizer com certeza absoluta que não tem um pingo de sangue negro ou índio? Eu posso dizer com certeza absoluta que tenho sangue negro, embora costume ficar branquíssima no inverno. Sei porque tenho as gengivas negras, as mucosas negras, e uma boca linda que veio "de fábrica e de brinde", enquanto Marília Gabriela e outras tiveram que pagar uma boa grana por uma igual... Onde ficam as nossas mucosas? Bueno, basta dizer que não são visíveis com a pessoa vestida...

Quem é o meu ancestral filho da Mama África? Não sei, mas desconfio que o pai de meu bisavô Joaquim, que foi adotado pela família Travassos... Já a mãe da minha avó paterna, que viveu até meus 25 anos, parecia muitíssimo com os índios norte americanos... Por parte de mãe, é tutti buena gente, mas meu avô era descendente de italianos loiros, e minha avó de italianos morenos. Enfim, minha família é uma bagunça... Porque, felizmente, sou brasileira. Felizmente porque, ao menos na letra da lei, o Brasil é um país onde os preconceitos de gênero e raça são proibidos. É verdade que temos que desconstruir, todo dia, os preconceitos super arraigados, e por vezes inconscientes, que carregamos conosco, ou que os que nos circundam carregam.

Ah, você não tem preconceito nenhum? Meus parabéns! Eu, infelizmente não posso dizer o mesmo. Apesar de ser feminista de carteirinha, ainda tem um monte de coisas que eu acho aceitáveis nas mulheres, mas não nos homens, e vice versa. Não gosto de pensar assim, mas penso. Quanto ao preconceito étnico, tenho uma dificuldade imensa de aceitar e respeitar as pessoas que são oriundas de países onde os direitos da mulher não são respeitados sequer na lei. Ou seja, pessoas oriundas de países onde a superioridade masculina está na lei, e os direitos das mulheres são quase nulos. E isso inclui grande parte dos países orientais...

Enfim, tenho que trabalhar com minha intolerância todos os dias, tenho que me lembrar dela para não julgar tão duramente o intolerante ao meu lado, tenho que ter a coragem da autocrítica permanente. Já você que não tem este problema, pode dormir tranqüilo, não? E pode ficar tranqüilo também porque acaba de acabar a minha trilogia "ser ou não ser"...

1 - Palavras iniciais do conhecido monólogo do personagem Hamlet, de Shakespeare, na peça de mesmo nome.

2 - Nome de música de Caetano Veloso, que ele teria feito para um homem, mas que, em minha opinião, ficou imortalizada na voz de Cássia Eller. Na verdade, a música fala sobre gênero, e aqui eu vou falar sobre raça e etnia. Mas eu adoro a música e acho que a interrogação ficou perfeita...

3 - Ver o livro Inventando o sexo, de Thomas Laqueur, página 255.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Jornalista escreve sobre o terrorismo de Estado na Colômbia

Veja entrevista com o jornalista Hernando Calvo Ospina, autor do livro “O Terrorismo de Estado na Colômbia”, lançado esta semana em Florianópolis.
http://www.youtube.com/user/eteia1960

quarta-feira, 24 de março de 2010

Jornalismo de Resistência

Veja entrevista com o jornalista hondurenho Rony Martinez, que fala sobre o Jornalismo de Resistência:

http://www.youtube.com/v/WVR4wTwz5hU&hl=pt_BR&fs=1&

Recuerdos

Míriam Santini de Abreu


Na noite de segunda senti o primeiro ar do outono. Esparramada na varanda, ouvindo Silvio Rodrigues, estremeci um pouco. Recordei um livro didático da escola, da quarta série talvez, no qual havia a história da Iarinha, com uma ilustração linda, ela de vestido rosa e chapeuzinho, um torvelinho de folhas em volta dos pés.

E a mãe da menina dizia:

- Iarinha, vá pôr o seu casaquinho, porque o outono chegou e as primeiras folhas não tardam a cair.

Estranho, sempre lembro disso quando chega o outono.

E na noite de terça lembrei de duas frases das quais gosto. Uma é de Andy, o personagem principal do filme “Um sonho de liberdade”: “A vida se resume em uma única escolha: ocupar-se de morrer ou ocupar-se de viver”.

E outra que li em um livro do Jean-Yves Leloup sobre a história de Jó, que num vislumbre numinoso de seu tormento percebe: nada nos é devido, e tudo nos é dado.

No outono percebi. E reacordei.

Manezinho contra a poluição



Título: NEMINHO SILVA, O QUIXOTE DE FLORIPA, E SUA DONZELA METÁLICA

Autor: Sérgio Meira


SINOPSE DO TEXTO

Olhando [...] o parafuso quase a cair, não teve dúvida em arriscar-se [...] para pegá-lo; e o pegou. Mal sabia ele que dali por diante aquele parafuso faria parte de sua vida de forma tão marcante, e só mais tarde compreenderia o seu real significado: um mimo oferecido por sua donzela, para que ele sempre o carregasse junto do peito e lembrasse dela nas horas de luta. (Capítulo 3 – O mimo da donzela: o parafuso)

Este livro - um exercício literário que trata do romance burguês (e a figura do herói), da Representação do Estado, da Livre Iniciativa e do papel da internet nas relações pós-modernas – conta a história de Neminho Silva, cidadão florianopolitano apaixonado pela Ponte Hercílio Luz que, desiludido de tanto esperar pela sua restauração, tal qual um Quixote, resolve salvar sozinho a sua donzela metálica. Para realizar seu intento, ele idealiza um plano: pedir socorro, via internet, às cidades que tenham pontes famosas para que se unam numa corrente e o ajudem a salvar a ponte que é seu orgulho e paixão. Por um lance do destino, a sua história torna-se conhecida por um influente jornalista norte-americano que, sensibilizado por tão inusitada atitude, resolve ajudá-lo e o transforma numa celebridade mundial – fato que, ao mesmo tempo, põe a nu o descaso das autoridades com a restauração; e isso acaba irritando setores da política local, surpreendidos pela ousadia do Quixote manezinho, que passa a ser visto como uma ameaça aos projetos do poderoso Assessor do governo – ameaça que, no entender deste, precisa ser rapidamente eliminada.


Sérgio Meira é florianopolitano, graduando no Curso de Letras da UFSC.

Contato: paraolivro@gmail.com

segunda-feira, 22 de março de 2010

Livro aborda terrorismo de Estado na Colômbia

O Sinergia convida a todos para prestigiarem o lançamento do livro O Terrorismo de Estado na Colômbia, de Hernando Calvo Ospina, jornalista do Le Monde Diplomatique, com a presença do autor.

Dia 24 de Março (quarta-feira), às 19 horas, no auditório do Sinergia: Lançamento do livro.

Dia 25 de Março (quinta-feira), às 9 horas, no auditório do CFH, na UFSC: Conferência de Hernando C. Ospina Colômbia: a história, as guerrilhas e as bases dos Estados Unidos na Amazônia e lançamento do livro.

O Sinergia, juntamente com outros sindicatos de Florianópolis, apoiou a publicação deste livro.

Prestigiem!

Pobres & Nojentas 21



Está indo para a gráfica nesta segunda a edição 21 da revista Pobres & Nojentas, desta vez dedicada à Cuba. São 5 reportagens, 3 crônicas, 1 poema e 1 seção de imagens que falam sobre o único país socialista das Américas, com capa (acima) e editoração de Rosangela Bion de Assis e Sandra Werle e revisão de Mônica Fünfgelt. Reserve a sua!

Jornalismo de resistência





Acima, II Encontro pela Soberania Comunicacional, realizado no dia 19 de março no Sindicato dos Bancários, em Florianópolis; os jornalistas Rony Martinez e Ronnie Huete e o historiador Jilson Santos, da Agecon, visitam estúdio da Rádio Campeche, em Florianópolis. Fotos de Celso Martins


Um plano do povo

Por Elaine Tavares - jornalista

Enganam-se os que pensam que Florianópolis – a velha Miembipe - é um espaço conservador ou reacionário. Aqui, nas veredas da vida real estão as gentes a protagonizar momentos históricos importantes. Foi aqui que começou a agonia do regime militar, com os bravos estudantes – junto com o povo alçado em rebelião – promotores da inesquecível “Novembrada”, assinalando a derrocada do presidente que amava mais o cheiro dos cavalos do que do povo. Foi aqui também que as gentes se levantaram na revolta da catraca, contra as falcatruas dos empresários do transporte coletivo. E, todos os dias, nos bairros, nas vilas, nas comunidades, a população está protagonizando alguma luta importante contra os que querem destruir a vida. Este é um espaço de gente que luta e constrói novas propostas de organizar a vida.

Foi assim nesta quinta-feira, dia 19. Este povo todo, vindo dos lugares mais longínquos da cidade, com faixas, cartazes, camisas pretas, e toda a gana possível, realizou mais um feito histórico. Erguidos em luta, aqueles que amam o lugar onde vivem, vieram protestar contra a farsa montada pela prefeitura municipal, que pretendia homologar um plano diretor da cidade, construído sem a voz das comunidades. Esta gente, que durante três anos ocupou noites e noites de suas vidas para discutir a cidade e encontrar caminhos viáveis para existir neste especo caótico, acorreu à audiência e decidiu que ali, a sua voz haveria de ser ouvida. E assim se fez!

A cidade e o caos
Meia hora antes da audiência na qual o Instituo Cepa – empresa privada contratada pela prefeitura para fazer o Plano Diretor – iria apresentar a proposta que desenhou, amparada nos desejos dos empresários especuladores, já se vislumbrava a cidade que haveria de assomar daquele plano. Trânsito parado em todas as direções. Parado na Beira-Mar, no túnel, nas imediações do TAC. Buzinas tocando sem parar, gente gritando. O caos. A cidade desenhada para servir aos carros mostrava sua face irracional. Sem um transporte coletivo eficaz, as pessoas optam pelo carro e comandam um festival de engarrafamentos que tornam a mobilidade urbana um inferno. E isso com pouco mais de 380 mil habitantes.

O plano diretor construído pela CEPA quer tornar esse inferno ainda maior. Propostas esdrúxulas como prédios de oito andares na Lagoa da Conceição, de seis no Campeche e por aí afora, prognosticam uma Florianópolis de amanhã com 800 mil habitantes, um milhão. Uma cidade vertical para a classe média. Um lugar onde os ricos haverão de ter suas “ilhas de paz e beleza”, ainda que para isso seja necessário privatizar praias, como a do Costão do Santinho, ou mesmo o maior aqüífero que há na ilha, o aqüífero dos Ingleses. Ali, sob o lençol de água, os ricos jogarão golfe, enquanto as gentes amargarão a falta do líquido que garante a vida.

Pois o povo organizado nas comunidades, nas associações de moradores, disse não. Estudaram a cidade por três anos, construíram propostas, apresentaram alternativas, saídas viáveis para a vida, para as moradias, o transporte, para tudo. Só quem vive numa cidade sabe o que nela falta. O povo tem a resposta para cada questão. E isso foi feito em audiências públicas, oficinas, reuniões, tudo documentado. Por que então, a prefeitura vinha dar um golpe, impondo um plano que a população não quer? A cidade iria se levantar. E foi o que fez.

A audiência
A noite baixava sob a capital parada e caótica. Mas as pessoas caminhavam. Vinham de todo canto, de ônibus, de bicicleta, de carro, à pé. Encheram o TAC, ocuparam as calçadas, eram mais de mil. Multidão. Vieram os pescadores, os nativos, os ecologistas, as senhoras de idade, os estudantes. Vieram os líderes comunitários, os sindicalistas. Todas as cores e tendências políticas unificadas na luta contra a especulação e a destruição da cidade. Foi bonito de ver.

O presidente do IPUF iniciou a audiência, chamou o presidente do Instituto CEPA. Já começaram as vaias. Cada autoridade chamada era apupada. Manifestação pacífica, direito das gentes. As caras, na mesa, se torciam, incomodadas. As vaias seguiam. Átila Rocha dos Santos, presidente do IPUF, mostrou a cara autoritária da prefeitura. “Ou param ou suspendo a audiência e chamo a polícia”. A tropa de choque já aguardava do lado de fora, pronta para agir, porque é comum aos dirigentes que não são democráticos, terem medo do povo. Foi o que bastou. A gritaria foi geral.

Então, no meio do corredor assomou o vereador Ricardo Camargo Vieira (PCdoB), fazendo aquilo que deveria fazer um político que tem mandato do povo: com um megafone, suplantando o som do mestre de cerimônias, gritou o protesto das gentes. “Esta audiência é uma farsa, esse não é nosso plano”. A ação do Dr. Ricardo foi a deixa para que cada pessoa que ali estava quisesse dizer sua palavra. O presidente do IPUF gritava, chamando a polícia. Entrou a guarda municipal, mas nada mais detinha as gentes. Elas foram subindo no palco e revezando o megafone. As autoridades da mesa escapuliram, o diretor do IPUF mandou cortar o som. Ninguém se importava. Tinham suas gargantas e reivindicavam. Cada bairro, cada liderança, pessoas comuns, todos tinham algo a dizer. “Esse não é o nosso plano”, bradavam.

No meio do protesto uma cena intrigante mostrou bem a cara da imprensa local. O jornalista da RBS adentrou ao teatro, e, imperturbável, atravessou o corredor onde as pessoas se aglomeravam com faixas e cartazes, mostrando que ali acontecia mais um momento histórico na vida da cidade. Pois o jornalista nem olhou para a vida que se expressava no teatro lotado. Seguiu até o palco e foi lá para trás, onde estavam os dirigentes da prefeitura, protegidos pela guarda municipal. A voz do povo não haveria de sair da rede dos baixos salários, na rede da mentira. Simbiótica relação da mídia entreguista com os que querem destruir a cidade. É tudo parte de um mesmo grupo.

O povo seguiu com sua audiência. Já não havia dirigentes da prefeitura na mesa, o palco era das lideranças comunitárias. Uma assembléia popular. Democracia direta. Decidiu-se então dar seguimento a audiência pública. Foi feita uma ata e todos assinaram. Por um momento se fez uma cena mítica. No corredor, as pessoas faziam fila, assim como na missa quando vão comungar. E, para quem olhava emocionado, era isso mesmo. As gentes comungavam da mesma idéia, do mesmo desejo: proteger a cidade, garantir vida boa e bonita para todos.

Na ata, lavrada de forma coletiva, a decisão popular: “Este não é nosso plano. Não aceitamos essa imposição da prefeitura. Queremos a decisão tomada nestes três anos de encontros e participação comunitária”. O documento será registrado e enviado à prefeitura. A audiência se fez e, embora o presidente do IPUF tenha negado a palavra ao povo, o povo a tomou. E a disse.

No jornal Diário Catarinense do dia seguinte, veio a nota lacônica: confusão impede aprovação do plano diretor e ele será enviado direto para a Câmara de Vereador. Logo, segue a arrogância e a surdez do executivo municipal. A prefeitura continua fazendo de conta que não ouve a voz da população. As comunidades disseram não, mas eles não escutam. Só conseguem ouvir a voz dos que depredam e destroem. Estes sim fazem “confusão”, como diz a reportagem patética, expressão do péssimo jornalismo que é praticado pelas empresas locais.
Mas, o povo que estava ontem no TAC acredita na sua força. Vai usar a justiça, vai exigir posição do Ministério Público, acredita também na visão honesta de pessoas como a procuradora Ana Lucia Hartmann, que foi ovacionada pelas gentes a gritarem seu nome, em honra de sua postura séria e de defesa da integridade da vida. O povo se organiza e cresce em número e fortaleza. Já está marcado um protesto para este sábado, dia 20 de março, na Lagoa da Conceição. E outro, ainda maior, no dia 23 de março, dia do aniversário da cidade, em frente da Assembléia Legislativa, às seis horas da tarde. A cidade vai se movendo, o povo vai aprendendo, e as gentes fazem andar as palavras democracia e liberdade. A cidade é do povo e é ele quem tem de decidir. Não meia dúzia de empreiteiros e políticos de meia pataca.

Florianópolis pode viver uma hora histórica. É chegado o momento de todos saírem às ruas a defender a vida e o direito de se existir em harmonia com a beleza que é este lugar. Não foi sem razão que ao final do bonito momento de rebelião, as pessoas, de olhos marejados, se puseram a canta a música do Zininho, o hino da ilha: “um pedacinho de terra perdido no mar, um pedacinho de terra, beleza sem par”... E naquelas caras de gente trabalhadora, a mais absoluta certeza: esse pedacinho não está perdido, não sem luta!

Pois eu fui à procissão

Por Elaine Tavares – jornalista

Eu sempre vou à procissão do Senhor dos Passos. Acho bonito de ver a expressão de fé de tanta gente. Essa coisa louca que leva as pessoas a se agarrem a uma esperança, um desejo de se ver acolhido e de acolher. Causa-me profunda emoção observar as velhinhas, com seus terços, a chorarem vendo passar a triste imagem de um deus derrotado, torturado, em sofrimento. É como se, naquela hora, homem e deus se reconhecessem iguais: impotentes diante do poder.

Pois neste domingo fui à procissão, esta que já acontece há 244 anos, aqui, na capital dos catarinenses. Foi em 1766 que a enorme imagem de Cristo sob a cruz chegou. Conta a lenda de que era para ir ao Rio Grande do Sul, mas o barco não conseguia avança e o capitão entendeu que era desejo do senhor ficar nas terras desterrenses. A imagem ficou e virou motivo de adoração. Desde então o povo acorre para lhe render graças.

Neste dia 21 de março mais de 20 mil pessoas saíram às ruas de Florianópolis para reverenciar aquele que morreu na cruz, torturado e violentado por romanos e judeus. O homem que pregava o amor, a igualdade, a partilha, o que afrontou o poder com seus desejos de transformação radical. Eu busquei o melhor lugar para observar as gentes e também para, igualmente, partilhar daquela dor infinda que imagino tenha vivido o Jesus histórico, virado homem, na tortura da cruz.

Então, do homem em sofrimento, curvado pelo peso da cruz, meus olhar fugiu para a expressão de uma quase heresia. Bem a frente da estátua, um grupo de pessoas segurava um pequeno toldo debaixo do qual ia o bispo Dom Murilo, em sua pompa episcopal, contratando com o manto humilde que levava o deus. Pisquei duas vezes. Era real. Quem levava o toldo eram aqueles que no dia-a-dia são os responsáveis diretos por tantos males que o povo tem de viver. Na frente iam o prefeito Dário Berguer e o governador Luis Henrique. Mais atrás, o vereador Gean Loureiro e a deputada Angela Amin, seguida do jornalista Moacir Pereira.

Ah, o poder e sua sede de dominação. Vale-se da fé, da desesperança, da dor humana e aparece, assim, em pompa, como se compartilhasse da mensagem histórica daquele que, caído, seguia-lhes. Meu coração se apertou e fui ficando para trás, enquanto a procissão passava lentamente. Pensei no código ambiental, aprovado para destruir, no plano diretor imposto pela prefeitura, no jornalismo cortesão, nos projetos nefastos, tudo vindo daquele pequeno toldo que abria a procissão. Arrogância, descaso, ilusão. “Corja, corja”, fiquei a resmungar. Então, do chão, ouvi um “ô, ôô...”. Olhei. Eram três homens, caídos como o da estátua, e, com eles, uma garrafa de pinga. Eles me observavam e perceberam que eu falava dos governantes. “Ninguém tá vendo eles, olha só... o povo olha pra Cristo”.

Os três bêbados, caídos no chão da praça, estavam certos. Ninguém os via. Os olhos das gentes se voltavam ao deus sob a cruz. Mulheres choravam, outras lhe jogavam beijos, as senhorinhas repassavam seus terços, os homens faziam o “pelo sinal”. Os olhares não se voltavam para o luxo em roxo da pompa igrejeira. O povo rendia homenagens ao seu deus. “Agora ele está assim (caído), mas no domingo de Páscoa ele renasce. Sempre renasce e fica com nós”, me dizia uma velhinha, pequena como um bibelô.

Eu deixei a procissão passar e fiquei ali, junto aos caídos, num silêncio reverente. Aqueles homens, que a sociedade nem nota, os que chamam de escória, foram, talvez, os únicos que verdadeiramente comungaram com Cristo naquela caminhada de dor. Eles, como o deus caído, sabem muito bem o que é estar sozinho na dor, excluído da vida digna, perdido da compaixão. No silêncio da praça vazia ficamos nós, irmanados no sentimento de que um dia, não será apenas “o senhor dos passos”, mas o passo das gentes, o povo unido e em rebelião que haverá de mudar este mundo. Os caídos se levantarão, as riquezas serão repartidas e a vida será plena. Coletivamente, passo-a-passo, avançaremos...

sexta-feira, 19 de março de 2010

A esperança de um jornalismo melhor em Honduras


Ronnie Huete e Rony Martinez - Fotos de Celso Martins

Para o jornalista hondurenho Rony Martinez, a experiência da Rádio Globo Honduras de resistência ao golpe militar naquele país no dia 28 de junho de 2009, abre perspectivas de um jornalismo mais popular, mais próximo do povo. Dentre as várias atividades que cumpre em Santa Catarina, Martinez concedeu entrevista coletiva na tarde do dia 18 no Sindicato dos Jornalistas, entidade que o trouxe ao Estado. Ele observou que após a queda de Manuel Zelaya, enquanto as demais emissoras não falavam em golpe de estado, a Rádio Globo, na qual trabalha, tomou a decisão de abrir seus microfones para a população e relatar o que realmente acontecia em Honduras.

E é sob este aspecto que ele acredita em mudanças positivas no jornalismo praticado em seu país, salientando que a Globo, uma rádio pequena, rapidamente passou a ser a mais ouvida por informar a população sobre os acontecimentos no país, já que as demais emissoras mantinham programações alienadas à realidade política. Assim como ele, o também jornalista hondurenho Ronnie Huete, que realizou farto trabalho como fotógrafo e repórter independente, frisa que atualmente as rádios copiam o estilo da Globo e abrem espaço para que a população possa expressar suas reivindicações, reclamações, enfim, possa falar dos seus problemas e do que o Estado precisa fazer por essa população.

Sobre o desempenho dos jornalistas durante o processo do golpe, assinalaram que muitas vezes os profissionais queriam relatar determinados fatos, mas os donos das empresas censuravam textos e fotos ou deturpavam e manipulavam dados a favor dos golpistas. Eles acreditam que o desempenho da Rádio Globo, em ouvir a população, fortaleceu o jornalismo em Honduras e isso deve trazer boas conseqüências à categoria naquele país. (L. S. e C. M.)

JORNALISMO
II Encontro de
Soberania
Comunicacional


Acontece sexta-feira (19.3) na sede do Sindicato dos Bancários de Florianópolis e Região do segundo Encontro pela Soberania Comunicacional, iniciando às 9 horas com o debate sobre o tema "O jornalismo de resistência e libertação", com a participação de Rony Martinez (Rádio Globo Honduras), Elaine Tavares (IELA-UFSC), Jilson Santos (AGECON) e Raul Fitipaldi (Portal Desacato).

Às 14 horas acontece o segundo debate – O uso da Internet na Luta pela Soberania Comunicacional – com a participação de Marco Arenhart, Urda Klueger, Celso Martins e Ronnie Huete. Em seguida será feita a entrega do Prêmio Volodia Teitelboim, sob a coordenação de Vanessa Bortucan. Premiados: Urda Klueger, Míriam Santini de Abreu, AGECON e Rony Martínez Chávez.

Por fim ocorre o lançamento do filme “De um golpe, Honduras” (veja ficha técnica abaixo). O segundo Encontro pela Soberania Comunicacional é uma promoção do portal Desacato e revista Pobres e Nojentas, com apoio do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina e Sindicato dos Bancários de Florianópolis e Região

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"De um golpe, Honduras"

Ficha Técnica

Baseado no roteiro de Raul Fitipaldi
Fotografia: Marco Nascimento
Montagem: Samanta Barros
Trilha original: Fred Malverde
Foto-jornalismo hondurenho: Ronnie Huete Salgado

Direção: Aline Razzera Maciel
Pepe Pereira dos Santos

Elenco:
Matias Garcez
Sigval Schaitel
Carina Scheibe
Raul Fitipaldi
Elaine Tavares
Gustavo Tirelli
Joana Di Migueli
Karine Wandy
Francielly Freitas

Voz over:
Silvio Smaniotto
Aline Razzera Maciel

Figuração:
Silvio Smaniotto
Carlos Henrique Pianta
Ronnie Huete Salgado
Pepe Pereira dos Santos
Ulisses Veras Di Migueli
Glauco Marques
Kaká

Edição:
Aline Razzera Maciel
Pepe Pereira dos Santos
Samanta Barros

Trilha original, composição e execução:
Fred Malverde

Assistência de arte e objetos: Vanessa Bortucan, Gustavo Tirelli e Flávia Maria Torrezan

Imagens e áudios de arquivo
Pobres & Nojentas
Portal Desacato
Rádio Globo Honduras
YouTube

Apoio Cultural
SINERGIA – Sindicato dos Eletricitários

Produção
ARCCA – Associação Rádio Comunitária Campeche

quinta-feira, 18 de março de 2010

Quadro sombrio

http://carloscastilho.posterous.com/estado-da-imprensa-2010-muitas-perguntas-rara

De um golpe, Honduras



Por Elaine Tavares - jornalista
Foto: Celso Martins

O jornalistas hondurenho Rony Martínez esteve no dia 17 na Faculdade de Jornalismo da Universidade Estácio de Sá, onde o coordenador do curso, Paulo Scarduelli, juntou todos os estudantes para uma aula magna. Com o auditório lotado, Rony falou sobre a experiência da Rádio Globo de Honduras na resistência ao golpe militar levado a cabo no dia 28 de junho de 2009. Contou em detalhes desde o primeiro dia do golpe, quando todas as rádios e televisões locais seguiam transmitindo como se a vida estivesse normal, e apenas a Rádio Globo informava ao povo sobre o que, de fato, se passava no país. “Ficamos no ar apenas dez minutos, e nos cortaram o sinal. Mas nós decidimos continuar transmitindo e junto com os companheiros da técnica improvisamos uma antena. Esta ‘ gambiarra’ permitiu que pelo menos a região central de Tegucigalpa seguisse nos escutando. Além disso, transmitíamos pela internet, informando ao mundo sobre o que se passava em Honduras”.

Para os estudantes que se mantiveram atentos até o final da conversa, a história do jovem jornalista soou como uma inspiração. A maioria deles só ouviu falar de golpe militar através dos pais e nunca vivenciaram uma situação como a que hoje passa Honduras. “Agora a gente entende o que dizem os nossos pais sobre o que aconteceu aqui no Brasil em 64”. Rony Martínez trouxe os detalhes sobre como a pequena equipe de jornalistas da Rádio Globo decidiu enfrentar toda a repressão e apostar naquilo que é a verdade do jornalismo: informar com responsabilidade sobre o que interessa a maioria da população. “Nas outras emissoras vinham falar os bispos, as autoridades, os pastores evangélicos, a dizerem que tudo estava bem, que era só uma substituição constitucional. Mas nós não dourávamos a pílula. O que havia era um golpe militar e nós decidimos dizer a verdade”. Rony descreveu ainda sobre o trabalho de uma jornalista que insistia em ir às coletivas de imprensa do governo golpista e perguntar, a queima-roupa: “como pode o senhor ser chamado de presidente constitucional? Quem foi que o elegeu”. E ela incomodava tanto com suas perguntas certeiras que o então presidente golpista mandou que os guardas a tirassem de dentro do palácio.

Também contou sobre quando eles seguiam transmitindo e informando sobre as manifestações da resistência popular e o exército decidiu invadir e fechar a rádio. “Nós já tínhamos preparado um rota de fuga pela janela. Quem mais sofreu foi o nosso diretor David Romero, porque é um pouco gordinho. Mas a gente conseguiu descer os três andares e nos abrigamos em uma casa. E dali seguimos transmitindo clandestinamente”.

Junto com Rony Martínez o também jornalista hondurenho Ronnie Huete mostrou o trabalho que realizou em Honduras como fotógrafo, trazendo as imagens de uma gente em luta, que nunca se rendeu ao golpe militar.

Nesta quinta, dia 18, os dois jornalistas falam sobre o golpe em Honduras e sobre a experiência da Rádio Globo na Univali, em outro curso de Jornalismo. Na sexta-feira, dia 19, participam do II Encontro de Soberania Comunicacional, no Sindicato dos Bancários, promovido pelo portal Desacato e pela Revista Pobres e Nojentas, junto com o Sindicato dos Jornalistas, que foi a entidade que tornou possível a vinda do jornalista da Rádio Globo. Durante o encontro acontece a pré-estréia do filme “De um golpe, Honduras”, roteirizado pelo jornalista Raul Fitipaldi e dirigido por Aline Razzera Maciel. Como bem lembrou Rony Martínez na coversa com os estudantes é bem assim que eles se sentem no seu pequeno país. “De repente, por conta do golpe, assomou Honduras, um país que não será mais o mesmo. O povo despertou, e sua caminhada rumo a liberdade não se deterá”.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Artigo discute jornalismo e desenvolvimento sustentável



A jornalista da P&N Míriam Santini de Abreu tem artigo publicado no livro "Jornalismo Científico e Desenvolvimento Sustentável" (capa acima). O artigo desenvolve uma crítica do jornalismo, qualificando-o como insustentável diante da acelerada destruição das bases materiais que possibilitam a vida no planeta. A partir dos pressupostos do conceito de desenvolvimento sustentável, discute o papel do discurso jornalístico sobre meio ambiente – conhecido como jornalismo ambiental – no processo de circulação de farsas. Para desvendá-las, é esclarecida a relação entre três elementos indissociáveis de um jornalismo que se queira sustentável e potencialmente transformador: o tempo, o espaço e o discurso. A sustentabilidade da narrativa jornalística é vislumbrada na teoria e prática do Jornalismo de Libertação.

Jornalista hondurenho faz coletiva nesta quinta



Atividade no IELA-UFSC em 16 de março, com a presença do jornalista Rony Martinez (Rádio Globo de Honduras), na mesa com a jornalista Elaine Tavares. Leia o texto abaixo - Foto: Celso Martins


Atividade no dia 18/3/10 - quinta-feira

19h - Conferência e Debate – Jornalismo de Resistência – Rony Martinez – Auditório Unisul

15h - Coletiva de imprensa para os meios alternativos - TEMA: Radio Globo Honduras e o Filme De Um Golpe, Honduras – Local: Sindicato dos Jornalistas