E vai uma música maravilhosa...
http://www.youtube.com/watch?v=tgSOTBAw2vI
Eu ainda estava na faculdade de Jornalismo, na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), onde me formei, quando fiz uma matéria sobre a desigual pirâmide salarial no Brasil. Isso já faz tantos anos, quase 20, duas décadas...O tempo voa! Mas nunca esqueci que os braçais, como garis, estão no assoalho da pirâmide: por isso vivem muito mal, comem mal, vestem-se mal, são mal tratados; e os magistrados, como juízes e desembargadores, no topo: portanto vivem muito bem, comem bem, vestem-se bem e são bem tratados. Quis refletir na matéria sobre o porquê do abismo salarial entre as duas categorias, que, para o mundo do trabalho, têm papéis tão relevantes. Tinha poucos elementos políticos à época. A matéria ficou limitada aos dados que consegui, a entrevistas, pesquisas e à voz do meu coração. Eu acreditava na imparcialidade. A escola clássica de jornalismo ensina e reforça essa idéia até hoje. Mas a imparcialidade é uma lenda. Não há imparcialidade. E não há motivos para tamanho abismo salarial, a não ser a luta de classes, claro!
Satisfez minha sanha por um tempo a explicação de que juízes e desembargadores devem ganhar muito bem mesmo, porque assumem tarefa hercúlea, de grande vulto social. Imaginem vocês o complexo que é dizer quem está certo, quem está errado. Ganhar bem significa para os magistrados cerca de R$ 30 a R$ 40 mil por mês.
Se é tarefa nobre julgar, os garis fazem o quê? Mal damos conta de cruzar com um caminhão caçamba na madrugada silenciosa da cidade, passando de carro, que é ato instantâneo acelerar um pouco mais e tapar o nariz. Quem cataria o nosso fétido? Esses homens que, para quem olha ao longe, de dentro de seus Corolas, talvez pareçam ser de fato de uma estirpe inferior, ao ponto de dialogarem com bichos de esgoto. E há uma naturalização disso. Então fica combinado que devem mesmo ganhar mal: um salário mínimo por mês, nada mais.
Mais se os juízes ganham tão bem para que não pequem e sejam justos, porque também são atentados a ganhar ainda mais, em escusas artimanhas, em enrolados esquemas, em ardilosas transações? E por que tantos garis, ganhando tão pouco, não saem por aí roubando, matando, devolvendo à sociedade o lixo imposto a eles todos os dias?
Após a última crise do capital, o intelectual alemão, Karl Marx, jornalista, fundador da doutrina comunista, a quem a elite neoliberal internacional tentou por um século jogar no calabouço dos loucos, agora ressurge, livre da camisa de força, com sua lucidez de sempre, para nos relembrar que a luta de classes está aí e explica muita coisa. Explica por exemplo o abismo salarial entre juízes e garis. E também indica saídas. “Sem sombra de dúvida, a vontade do capitalista consiste em encher os bolsos, o mais que possa. E o que temos a fazer não é divagar acerca da sua vontade, mas investigar o seu poder, os limites desse poder e o caráter desses limites”.
O Poder Judiciário, no Brasil, é um “simulacro”. Supera a realidade social. Se está sempre blindado, do outro lado da pirâmide, ou melhor, no subsolo dela, encontra-se o ladrão de galinha, totalmente exposto, sofrendo o "açoite" das penitenciárias, da opinião pública, da miséria humana. Roubou um pão? Que Morra!
Nesse episódio que macula o Poder Judiciário de Mato Grosso, devemos comemorar. Mostra a ante-sala das negociações. Não bastasse dinheiro de salários socialmente surreais, os olhos crescem também para o erário. Seria o sinal dos tempos?
Estariam em falta no mundo das togas homens e mulheres preocupados com a justiça social?
Disse muito bem o físico alemão, Albert Einstein, do alto patamar galgado pelo autor da teoria da relatividade: “Não tentes ser bem sucedido, tenta antes ser um homem de valor”. O problema é que isso não combina com o mundo do capital, onde ter é o que vale.
As coisas cheiram mal, diriam garis, que se assolam dia após dia, nessa rotina de mierda. Mas para Antônio Gramisci, político, pedagogo, filósofo e teórico marxista italiano, “contra o pessimismo da razão, o otimismo da prática”. Então, façamos um outro lugar para se viver!
É preciso denunciar! E a imprensa deve cumprir esse papel. Deve sair dos factóides rotineiros e cumprir sua função de aprofundamento e acompanhamento dos fatos.
Parece que, pela lama visível, a moralização é tarefa utópica. Mas não é.
“Mudar é difícil, mas é possível”, garante Paulo Freire, educador recifense, que se destacou pelo projeto de educação popular, voltada para a consciência, deixando um legado milionário para a construção de um povo.
O escândalo do Tribunal de Justiça de Mato Grosso é um canto a Karl Marx, que disse, sabiamente, no século passado: “Tudo que é sólido desmancha no ar”.
Por Elaine Tavares - jornalista
Estas notícias, todas as noites, sempre me enchem de uma absurda perplexidade. Diz o repórter, em tom monocórdio: “Mais 45 mortes em Bagdá”. E isso acontece todos os dias, 45, 34, 27, 50, os números variam por aí. Já passaram cinco anos da ocupação estadunidense no Iraque. E isso é notícia noite após noite. Banalizou. Morrer, no Iraque, é coisa normal. Ninguém sequer pestaneja, segue comendo, ou varrendo, ou fazendo o que seja, enquanto ouve a terrível notícia. É que o Iraque está tão longe, quase ninguém tem algum parente lá, ou um conhecido. A dor dos iraquianos toca raras pessoas. Eu, por exemplo, me assombro a cada noite.
Outro dia, o locutor informou com voz impassível: 27 civis foram mortos por engano no Afeganistão. Putz! E ele nem pestaneja, e logo segue outra notícia, de preferência alegre, para que as pessoas não fiquem estarrecidas diante do fato de que, num outro país distante, também ocupado desde há nove longos anos, morrem civis todos os dias, vítima da violência da ocupação. E só volta e meia algum destes ataques a civis sai na imprensa. Como esse da semana passada. É que o Afeganistão “saiu da pauta”. Há outras desgraças a perscrutar.
Pois a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que é nome pomposo do braço armado estadunidense naquela região, divulgou que matou por engano os civis pensando que eram terroristas. Pois assim é a guerra “cirúrgica” promovida pelo exército mais poderoso da terra. Recrutam garotos sem oportunidades nos Estados Unidos, transformam os mesmos em máquinas de guerra, mas tiram deles a visão do horror. No geral, estão lá em cima, nos aviões, apontando para pontos escuros na terra, como se fosse um vídeo-game. A guerra sem sangue, a “limpeza” clínica, cirúrgica, bem demarcada pelos radares.
Só que os radares são observados por humanos que erram, e tampouco podem dizer se os pontinhos no chão são terroristas ou gente simples, que tenta viver a vida naquela região conflagrada e ocupada há quase uma década. Bueno, para os estadunidenses isso parece coisa irrelevante, visto que basta ser afegão ou iraquiano para ser terrorista, é como um sinônimo. Então, vez ou outra, alguns soldados de outras bandeiras, ou mesmo algum estadunidense com consciência, percebem que essa versão de “terroristas” que eles tem cravada nas retinas não é tão verdadeira assim. Então se dão conta de que aqueles pontos lá embaixo são mulheres lavando, crianças brincando, velhos tomando sol, homens trabalhando. Então, ficam estupefatos. “São civis”! Aí uma boa alma admite o erro e pede desculpas.
“Foi um engano, desculpa”. Mas essas desculpas são para quem? Aos mortos? Estes já estão em outro plano, bem melhor, nos braços de Alá. Aos vivos? E para que? Para que os desculpem por antecipação, caso o radar ou os olhos falhem outra vez? O general McCrystal ainda tem a cara de pau de dizer que estão lá para proteger os afegãos. Proteger do quê, cara pálida?
Os Estados Unidos ocuparam o Afeganistão para, segundo seu governo, levar a democracia e a liberdade. Mas, quem, além da mídia cortesã, acredita nisso ainda? Lá estão para garantir as plantações de ópio, para manter bases militares capazes de incendiar a região a qualquer momento, para garantir seu poder de polícia do mundo. Pouco importa se para isso tenha que matar o povo inocente. A nós, aqui, cabe o assombro, a perplexidade diante do cinismo: “ops, desculpa, foi engano”. E assim segue a vida, na apatia de ver o ladrão entrando na casa do vizinho. Fecha-se a janela com vagar, para não ser visto. Até que um dia, o ladrão entra no nosso quintal...
A Europa também sofre com a crise e o desemprego. O que mostra que o processo de super-exploração, antes restrito ao sul do mundo, também está chegando no chamado "primeiro mundo". Na última semana 35 mil trabalhadores sairam às ruas de Bruxelas, na Bélgica, numa manifestacao por emprego e respeito aos direitos dos trabalhadores. O ato foi organizado pelas três grandes centrais sindicais do país, os socialistas, os cristãos e os liberais.
Quem informa é Catarina Gewehr, uma "nojenta" que está na Bélgica. Ela conta que na manifestação, as agremiações ficam muito bem demarcadas. Os socialistas marcham de capas vermelhas, os cristãos de amarela e os liberais de capa azul. Havia ainda manifestantes com capas verdes, que ela não conseguiu descobrir de que agrupamento eram.
"Fico pensando é no significado desse tipo de coisa... no primeiro mundo os trabalhadores estão sentindo o influxo da onda... e estão se mexendo... Nos países periféricos parece que isso ainda não foi sentido, mas na medida que a estagnação do modelo capitalista for se tornando impossível de ser negada, o que podera acontecer? Nao sei! Mas Marx saberia dizer..."